sexta-feira, 8 de novembro de 2013

EXONERAÇÃO É "ABSURDA", DIZ FISCAL QUE CITOU PETISTA


Paula Nagamati perdeu cargo de confiança após afirmar ao MPE que secretário de Haddad recebeu dinheiro de bando acusado de fraudes

Após acusar o secretário municipal de Governo, Antonio Donato, de receber dinheiro da quadrilha responsável por fraudar a arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS), Paula Sayuri Nagamati classificou de "absurda" sua demissão de um cargo de confiança na Prefeitura de São Paulo. Ao Ministério Público Estadual (MPE), ela disse que o bando financiou a campanha de Donato para vereador em 2008. Hoje, ele é o homem forte da gestão Fernando Haddad (PT).
Abordada ontem à tarde pelo Estado quando chegava de carro em sua casa em Moema, zona sul da capital, Paula não quis se estender no assunto. De dentro do veículo, a ex-chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Finanças na gestão Gilberto Kassab (PSD) afirmou: "O que eu tinha para dizer foi dito ao Ministério Público. É o que eles estão dizendo".
Anteontem, a coluna Direto da Fonte revelou o teor do depoimento de Paula ao MPE no dias de outubro. Aos promotores, a auditora fiscal disse ter ouvido do ex-subsecretário da Receita Ronilson Bezerra Rodrigues, apontado como líder da quadrilha que teria desfalcado a Prefeitura em até R$ 500 milhões, que o grupo "apoiou a campanha" de Donato com "dinheiro fruto da fiscalização". O secretário nega.
A exoneração de Paula do cargo de supervisora técnica da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social foi publicada no Diário Oficial da Cidade de ontem, em portaria assinada por Donato. A pasta é comandada pela secretária Luciana Temer, filha do vice-presidente Michel Temer (PMDB).
Perfil. Descrita como elegante e discreta pelos vizinhos, a auditora era subordinada a Rodrigues. Em 2012, o ex-secretário de Finanças Mauro Ricardo recebeu uma denúncia anônima sobre o esquema de sonegação de ISS mediante pagamento de propina a fiscais, mas mandou arquivar por falta de provas.
A relação de Paula com Rodrigues e Ricardo, que foi secretário estadual da Fazenda no governo do tucano José Serra (2007-2010), foi usada por Haddad para desqualificar a acusação. O prefeito chegou a dizer que a auditora é uma das investigadas, mas o MPE a ouviu apenas como testemunha.
Ontem, Haddad justificou a exoneração de Paula, terceiro servidor que perde cargo em comissão da Prefeitura após a revelação do esquema. Os outros foram Fábio Camargo Remesso e Moacir Fernando Reis. Os quatro auditores apontados como membros da quadrilha ainda não perderam seus cargos. Três continuam presos.

"Se o secretário está desconfortável com a situação, em função da proximidade dela (Paula, com os acusados), dos conhecimentos que ela tem sobre o assunto, mesmo que não tenha envolvimento direto, o fato de não ter informado antes isso (a fraude no ISS) faz com que a pessoa se retraia, é natural", disse Haddad.
Segundo ele, Paula "poderia ter evitado muitos transtornos à Prefeitura se tivesse contado o que sabia antes". Haddad disse que "todas as pessoas muito próximas do grupo estão perdendo cargo de chefia". Ele defendeu Donato e afirmou que outros servidores devem ser exonerados por causa do escândalo do ISS. / ARTUR ROBRiGUES, BRUNO RiBEIRO, DIEGO ZANONETTA e FÁBiO LEITE 

TRÊS PERGUNTAS PARA...
Mário Vinícius SpineUi, controlador-geral do Município
1- Como começou a se desenhar para o senhor que existia uma quadrilha?
Quando fui convidado pelo prefeito Fernando Haddad para assumir a Controladoria-Geral do Município, ele disse que eu teria carta branca para combater a corrupção. Passamos então a analisar o patrimônio dos servidores e a verificar incompatibilidade.
2- Como vai funcionar a denúncia da Prefeitura a autoridades americanas?
Primeiro precisamos entender se as construtoras foram vítimas ou corruptoras. Se for comprovado que elas pagaram para obter benefício, vamos notificar as autoridades de países onde essas empresa atuam, porque é necessário que haja esse pacto global de combate à corrupção.
3- O senhor acredita que esse dinheiro voltará para os cofres municipais?
Se as empresas não comprovarem o pagamento do que deviam, terão de recolher os impostos. Também queremos que o dinheiro decorrente dos bens que estão com os servidores volte para os cofres.
Fonte: O Estado de São Paulo

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