quinta-feira, 8 de julho de 2010

"Espero que o PT não dê o Ministério do Humor ao PMDB"

Deu encrenca com os demônios do humor. Ex-"Pasquim", "Jornal do Brasil" e "Bundas" (epa!), o cartunista Nani comparou o controverso programa de governo da candidata Dilma Rousseff (PT) a um programa de esquina - bem entendido: com posições heterodoxas. "O programa quem faz são os fregueses: PMDB: barba, cabelo e bigode; PDT: papai e mamãe e por aí vai...", anuncia o cartum.


Com 37 anos de jornalismo, Nani enfrenta ataques de petistas e internautas por ter usado uma metáfora sexual para caricaturar a sisuda Dilma. Presidente do PT, José Eduardo Dutra reclamou da "baixaria". Em entrevista a Terra Magazine, Nani defende-se com o mesmo salvo-conduto do Barão de Itararé, de Millôr e de Jaguar:



- Eu usei uma metáfora. Pode ter sido ruim, mas eu simplesmente fiz humor.

Publicado na página pessoal do desenhista (http://www.nanihumor.com/), o cartum foi reproduzido pelo blog do jornalista Josias de Souza e provocou imensa polêmica no Twitter e na blogosfera. Para alguns críticos, houve machismo. Se a encrenca aumentar, e nascer algum processo judicial, Nani tem um pedido a mais:

- Só espero que o PT não crie o Ministério do Humor e entregue ao PMDB!

Confira o bate-papo.

Terra Magazine - Como você encara a reação à sua charge sobre Dilma?

Nani - Não discutiram o conteúdo, a mensagem da charge. O cartunista usa uma metáfora pra falar do assunto. Hoje, eu usei a panela do programa da Dilma. O cozido, o pirão dela. É a mesma metáfora: todo mundo tá querendo, os outros partidos querem interferir no programa. O humor usa metáforas...

No caso, você brincou com a palavra "programa".

A metáfora que eu usei foi um pouco violenta. Mas já botei o Fernando Henrique com peitos, ACM com o vestido de Tiazinha, o Lula pelado, com uma lingerie. São artifícios que o humor tem a liberdade de usar.

Teme censura?

A única censura que eu tive foi na ditadura. Nosso limite era o "Maomé" (refere-se à reação muçulmana contra o chargista dinamarquês Kurt Westergaard, que retratou Maomé). Não sei se Dilma será a nova "Maomé" (risos)

O brasileiro se deseducou em relação ao humor?

Eu acho que sim. As charges são muito palatáveis, perderam um pouco a crítica, ficam ilustrando assuntos nos jornais...

O Estadão nem charge tem, é uma caricatura.

Pois é. Faço charge como sempre fiz. Meu tipo de humor é esse, desde a ditadura, a luta pela Anistia, explicando como era o movimento sindical. Cada coisa tem sua época. Eu brigo pela alternância de poder, acho que o Estado não deve estar aparelhado por um partido. No próprio programa de governo, ela fala em controlar a mídia, e isso é mais um sintoma do que pode advir. Essa indignação pela charge já demonstra a predisposição pra abafar tudo quanto é crítica. Eu não sou do petismo nem do peessedebismo. Sou do humorismo. Como diz o Millôr, o humorismo é o "ismo" que ri por último (risos).

A esquerda não costuma aceitar o humor?

Nem acho que o PT, do jeito que está, é muito de esquerda. O próprio Collor dizia que não se briga com o humor. Não adianta calar. Melhor fazer uma piada pra responder. Nesse início de campanha, eles não sabem direito das coisas. E tem isso do partido, só podem racionar dentro da Igreja. Todo mundo tem que pensar como o partido, não aceitam crítica. Gramsci até dizia que você tem que pensar como o partido. Fora da igreja, não pode.

Mas algumas pessoas veem machismo em sua charge, por Dilma ser mulher e estar retratada como uma garota de programa. Que tal?

Machismo é essa reação das mulheres. Quando eu fiz com os homens, ninguém se importou... Ninguém se importou com ACM de Tiazinha, FHC de peitos de fora... Homem nenhum se incomodou. Por que a mulher tem essa sensibilidade? Ela é uma pessoa pública, não é dona da sua imagem. Tem que ser criticada. Eu usei uma metáfora. Pode ter sido ruim, mas eu simplesmente fiz humor.

Espera algum processo judicial do PT?

Não, não. Nunca, desde 1973 - tenho 37 anos de profissão -, tive problema com charge alguma. Não se sei se vou ter pela primeira vez com o PT...

Vai ser bom pro seu currículo?

É bom, mas é ruim pro PT. Foi o humor que ajudou a eleger o Lula. Todos os humoristas fizeram charge a favor. Nós ajudamos o Lula. Sou pela alternância de poder. É um tipo de humor. Nada partidário, não.

O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, atacou sua charge no Twitter. Vou ler aqui a mensagem: "Bons tempos aqueles em que os chargistas políticos brasileiros eram reconhecidos pela inteligência e não pela baixaria preconceituosa". O que você diria ao Dutra?

Ah, eu não acho... É o humor...

Crumb e Jaguar também fazem humor bizarro.

Eu digo o seguinte: só espero que o PT não crie o Ministério do Humor e entregue ao PMDB!

Temer será o ministro?

Temo isso. Que eles entreguem ao PMDB (risos).

Via Terra.

Um comentário:

  1. Nani tem razão e deve aproveitar enquanto ainda se pode fazer humor no Brasil.
    Olhos vivos para que esta liberdade não seja confiscada.

    ResponderExcluir