terça-feira, 13 de julho de 2010

O PERIGO DA SÚBITA RIQUEZA.

No tempo dos césares os grandes heróis que depois de suas conquistas eram recebidos em triunfo nas avenidas de Roma tinham ao seu lado, obrigatoriamente, um escravo que lhes ia sussurrando ao ouvido uma espécie de ladainha enquanto durava o cortejo glorioso: – Lembra-te de que um dia também vais morrer. Tudo isto é passageiro. Sic transit gloria mundi. Era uma maneira sagaz de sopitar a vaidade excessiva na alma do conquistador, de alertá-lo para o fato de que o aclamado de hoje bem pode ser o perseguido de amanhã pois os louros fenecem e a sorte é uma deusa volúvel e perigosa, que não abençoa permanentemente a ninguém e muitas vezes empurra seu protegido para a desgraça. Acabamos de testemunhar esta nova tragédia do destino tendo como personagem central Bruno, o atleta herói do Flamengo, o goleiro magnífico que apaixonava as multidões e, da noite para o dia, foi amaldiçoado, convertido em facínora, como se, de repente, uma bruxa ciumenta tivesse conjurado sobre ele todas as forças do mal para desgraçá-lo, retirá-lo do pedestal e jogá-lo no abismo. Com o demônio no corpo, Bruno mandou estrangular sua namorada, Elisa, esquartejá-la e lançar seus pedaços sangrentos aos cães ferozes, repetindo, assim, para horror de todos nós, o procedimento inacreditável de um Barba Azul.


Bruno é um exemplo da degradação humana que ocorre quando um jovem atleta pobre, de mente fraca, entrega-se ao fascínio de uma riqueza súbita e perde a noção do bem e do mal, passando a agir como um fauno erótico, cruel, estróina, atraído por más companhias, entregue a mulheres mercenárias, aproveitadoras, que logo lhe aprontam o golpe da gravidez para extorquir-lhe dinheiro e benesses. Temos visto casos semelhantes ao longo destes últimos tempos em que pessoas humildes e inexperientes passaram a ter acesso a grandes fortunas, através dos esportes, e muitas vezes se perdem. Esses pobres rapazes, novos ricos, mereceriam receber a assistência de psicólogos e educadores especializados que lhes oferecessem conselhos para enfrentar as armadilhas douradas da fortuna súbita. Como guerreiros antigos deslumbrados com suas vitórias chegando em triunfo à Roma dos césares, eles precisariam daquelas ladainhas pronunciadas nos seus ouvidos: – Tudo isto é passageiro. Lembra-te que um dia vais morrer. A glória é fugaz.

É de cortar coração assistir a essas metamorfoses provocadas pelo Dr. Fausto, a esses processos demoníacos em que certos jovens despreparados se convertem em bestas feras. Também lamentamos a cupidez de tantas jovens mercenárias de hoje que fazem tudo para se aproveitar deles, como as vivandeiras do passado. Algumas são trucidadas pelo caminho mas muitas conseguem seus objetivos e enganam os infelizes para ficar ricas. Não se diga, como desculpa esfarrapada, que tudo isso se deve a uma sociedade mercantilizada e corrupta só voltada para a gratificação dos instintos. Porque estão aí os Pelés, os Zicos, os Carlos Albertos e os Zagalos demonstrando que um bom lar, uma boa educação na infância, retiram qualquer jovem atleta do mau caminho, mesmo que se lhes ponha nas mãos o ouro do sucesso.

O que continua difícil é combater o mau caráter nos pais e nos filhos

Nenhum comentário:

Postar um comentário