sexta-feira, 9 de julho de 2010

TENTE ENTENDER A POLITICA EM SERGIPE.

A capacidade olímpica do deputado federal Albano Franco (PSDB) em protelar até o último segundo as mais importantes decisões já virou sua marca registrada. O ponto alto desse seu jeito de fazer política deu-se na sucessão estadual de 2006, quando foi empurrado pela regra da verticalização para uma aliança forçada com João Alves Filho, candidato à reeleição pelo PFL.


A demora de Albano em definir a aliança com João, naquela ocasião, não o impediu de alcançar seu objetivo: eleger-se deputado federal. Entretanto, seu comportamento demasiado dúbio e egoísta naquela eleição empalideceu ainda mais sua arranhada imagem de liderança política – que começara a definhar em meados do seu segundo mandato de governador. Como se sabe, seus mais leais correligionários foram praticamente alijados do processo eleitoral, dada a incompatibilidade com o grupo alvista. E o próprio João, diga-se de passagem, afora o tempo de televisão e o empenho do seu candidato a vice, Fabiano Oliveira, não obteve qualquer outra vantagem decorrente do acordo selado a fórceps com Albano, a quem só importava uma legenda que lhe servisse de passaporte para a Câmara Federal.

Este ano, no entanto, contrariando as mais diversas expectativas, Albano anunciou com bastante antecedência que disputaria uma vaga para o Senado, no momento em que já estavam consolidadas as robustas candidaturas de Valadares (PSB) e Eduardo Amorim (PSC) – a despeito de o anúncio oficial da chapa majoritária governista só ter se dado a dezenove dias do prazo final para a realização da convenção.

Assim, em que pese o suspense e a dramaticidade que sempre envolvem as decisões de Albano, ao menos dessa vez era mais do que razoável supor que ele assumiria um lugar na chapa majoritária encabeçada por João. Primeiro, porque o PSDB e o DEM formaram uma aliança nacional em prol da eleição de José Serra (PSDB-SP) à Presidência, estabelecendo como uma das diretrizes a reprodução dessa mesma aliança nos estados; segundo, porque o TSE firmou entendimento de que não pode haver mais de dois candidatos ao Senado por coligação, e, por último, mas não menos importante, porque João e Albano vinham mantendo contatos nesse sentido desde o final de 2009, estabelecendo-se, inclusive, que caberia ao primeiro coordenar a campanha de Serra em Sergipe.

Mas, em se tratando de Albano Franco, tudo é possível. Sem ninguém esperar, vem ele de última hora e resolve lançar uma candidatura “independente” ao Senado. Estranho. Muito estranho. Sobretudo porque João Alves e seus aliados aguardaram uma definição de Albano até o último momento da convenção, reservando-lhe na chapa a segunda vaga para o Senado, ao lado de Emanuel Cacho (PPS). Como Albano não se decidiu, a vaga foi ocupada por José Carlos Machado (DEM).

Numa eleição ao Senado com pesos-pesados como Valadares, Amorim e José Carlos Machado – sem contar com o estreante e carismático Emanuel Cacho, cuja densidade eleitoral ainda não foi testada mas que certamente vai beliscar boa parte do chamado segundo voto -, uma candidatura “independente” de Albano Franco desponta como um projeto fadado ao insucesso, a não ser, é claro, que o tucano possua um trunfo guardado a sete chaves. E como Albano jamais entra em bola dividida, é tão certo como dois e dois são quatro que essa história de candidatura “independente” não passa de conversa pra boi dormir. Os tolos, se preferirem, podem continuar acreditando que ele está de fato isolado nesse processo.

Em verdade, tudo não passa de uma espetacular estratégia urdida por Albano, Déda e Edvaldo Nogueira para matar vários coelhos com uma só cajadada. Albano, tido como o fiel da balança nessa eleição, foi convencido por Marcelo Déda e seu fiel escudeiro Edvaldo Nogueira a não formar aliança com João Alves. Por conseguinte, além de apoiar a reeleição de Déda, o “independente” Albano retiraria de João o precioso tempo de TV destinado ao PSDB, beneficiando ainda mais a candidatura do atual governador. Em troca, PT e PC do B o apoiariam veladamente para o Senado, garantindo-lhe o segundo voto – já que o primeiro será dado a Valadares, que o amarrou ao colocar José Eduardo Dutra como seu primeiro suplente na chapa. E quanto a Eduardo Amorim? Ora, seria mandado pro vinagre, já que sua eleição ao Senado – até a Velhinha de Taubaté o sabe – não é vista com bons olhos nas hostes governistas.

Como sempre, alguém esqueceu de combinar com os russos. Daí a urgente intervenção do PSDB nacional, que caiu como uma ducha fria sobre as pretensões de Albano, respingando, como não poderia deixar de ser, em Marcelo Déda, cuja grita contra o DEM, a quem acusa de tê-lo prejudicado por ter conquistado “ilegalmente” o tempo de TV do PSDB, bem revela uma mãozinha boba do PT a bolinar a inocente e “independente” candidatura do pudico Albano Franco.

Mas acordo é acordo, e Albano Franco cumpriu a sua parte no trato. Não é por causa de um simples tempo de TV cedido a João Alves Filho pelo grão-tucanato que o PT e o PC do B deixarão de se empenhar por sua eleição, não é mesmo? De qualquer forma, não custa nada a Albano produzir um material de campanha com os seguintes dizeres: “pacta sunt servanda”. Coisa pouca. Só pra reforçar. Afinal, petista é bicho tão esquecido…

Via Douglasaju's Blog

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