O que saiu das urnas em 03 de outubro certamente contrariou, além de Institutos de Pesquisas, as bases governistas que já contavam como certa a vitória de sua candidata ainda no primeiro turno e causou profunda preocupação no Presidente Lula. O pronunciamento de Dilma Rousseff ao lado de Temer não deixou dúvidas de que a confiança da candidata definitivamente estava tremendamente abalada. Do lado oposto, a oposição ganhou novo ânimo, um José Serra eufórico, esbanjando confiança mostrava ao Brasil que o embate do segundo turno será duríssimo e o povo deu um recado claro ao Presidente Lula, no sentido de que ele pode muito mas não pode tudo. Escândalos envolvendo a Ministra da Casa Civil, braço direito de Dilma, posição sobre o aborto que desagradou aos cristãos e o fator Marina foram responsáveis pela continuação da disputa até 31 de outubro.
A primeira pesquisa a nível nacional divulgada no último fim de semana acendeu definitivamente a luz amarela no Governo, o crescimento de José Serra provocou mudanças na estratégia de campanha, Governadores da base eleitos, Senadores, Deputados foram praticamente intimados a comparecerem a Brasília e a declararem engajamento na disputa. Do outro lado, a oposição tratou de fazer o mesmo, e o que se viu foi que todos vislumbraram pela primeira vez a possibilidade de uma vitória, que seria histórica e o fim do projeto de perpetuação no Poder de Lula e seus aliados.
Neste clima, o primeiro debate entre os dois candidatos foi cercado de enorme expectativa, como se comportariam os candidatos? Temas polêmicos seriam abordados? Serra se aproveitaria das posições contraditórias de sua adversária sobre temas que causam temor entre os Cristãos? Projetos e propostas teriam prioridade ou os ataques pessoais marcariam o confronto?
Para surpresa geral, usando da máxima de que a melhor defesa é o ataque, seguindo à risca a orientação de Lula e de seus marqueteiros, coube a Dilma abordar temas polêmicos com uma agressividade até então pelo menos oculta, a partir daí o que se viu foi um José Serra sempre mais sereno, confiante, mostrando toda sua experiência e uma Dilma se esforçando para mostrar indignação, insistindo em perguntas programadas para serem utilizadas em seu programa na televisão. Está claro para todos a estratégia dos dois candidatos, enquanto Dilma insiste em comparações com o Governo de FHC, valorizando as criticas às privatizações, valorizando os ganhos sociais , passando a idéia de que tudo é obra do Governo Lula, José Serra insiste na comparação pessoal, de sua experiência administrativa, sua biografia, respeito às Instituições e seus planos para o Brasil.
Apesar dos dois candidatos serem de esquerda, vejo profunda diferença entre as duas propostas, dentre as principais estão o tamanho do Estado, aparelhamento de estatais, liberdade de imprensa, patrulhamento ideológico e política externa. Serra defende uma democracia plena, voltada para o social, mas com uma economia menos dependente do Estado enquanto Dilma vai priorizar cada vez mais o crescimento e a influência do Estado na vida do cidadão, controle social da mídia e da terra, numa visão socialista, que insistem em chamar de democracia, embora esteja mais para o regime bolivariano de Chávez.
Um fator de preocupação, que deve estar na cabeça de todos nós, é que com a composição da Câmara Federal e do Congresso Nacional, uma eventual vitória governista pode levar a tentações de se criar um rolo compressor no Congresso, esmagar a minoria e fazer mudanças na Constituição que possam colocar em risco a nossa jovem democracia. Este é o risco maior.
É isso que eles querem.
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