quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A ARTE DE GOVERNAR.

André Hees

Governar nunca é fácil, para ricos, pobres, corporações, segmentos organizados ou não, empresários ou excluídos. Se algo fosse fácil na gestão do Estado, outros teriam sido bem-sucedidos no passado recente, e o Espírito Santo não teria permanecido por mais de dez anos sem rumo, sem planejamento, sem dinheiro para investir ou pagar as contas em dia.


O governador Renato Casagrande assume cercado de esperança e otimismo, e uma certa expectativa. A equipe que sai é de primeira linha. Ele teve apoio político dos que ajudaram a tirar o Estado do atoleiro, é um governo de continuidade, até certo ponto. É natural que ele tenha a sua marca. Não há nessa continuidade um alinhamento tão amarrado como ocorre com Dilma em relação a Lula, por exemplo.

Nos anos 90, quando Paulo Hartung e Luiz Paulo Vellozo Lucas administraram Vitória, dizia-se que a tarefa era muito fácil. Afinal, a Capital tinha dinheiro, ficava com a maior fatia de ICMS, a maioria dos bairros têm boa infraestrutura, não há bolsões como em Cariacica, Serra ou Vila Velha. Era uma cidade pronta, era só cuidar dos jardins. Era esse o discurso corrente entre os adversários de Hartung e Luiz Paulo que, na época, dominavam o cenário na política estadual. O tempo mostrou que, mesmo em Vitória, administrar não é tão fácil: a atual gestão acumula dívidas e tem dificuldades para concluir obras.

Em seu discurso de posse, na Praça João Clímaco, o governador Casagrande disse o seguinte: "É fácil governar para aqueles que já estão estruturados. É fácil governar para aqueles que já têm organização. É fácil governar para as corporações. O difícil é governar para os excluídos, para quem não tem apoio, para quem não chega até o Palácio. É para esses que nós temos que governar".

Muitos viram aí uma crítica à gestão que sai. É possível que o sentido não seja tão literal. O novo governador busca, talvez, assinalar as diferenças que deverão marcar a sua gestão: mais preocupação com inclusão social, oportunidade para os mais pobres, mais diálogo e participação da sociedade. Talvez seja mais aberto a críticas. Mas governar nunca é fácil, e ele deve saber: foi vice-governador e secretário de Agricultura no governo Vitor, teve chance de observar, por dentro, o que pode ou não dar certo.

A desorganização financeira e administrativa atravessou três gestões, de 1990 a 2002. Só foi superada a partir de 2003. Isso sem falar na corrupção, na chantagem e na cobrança de "intermediações onerosas" para liberar financiamentos. O Espírito Santo superou essa fase. Casagrande assume com R$ 1,2 bilhão em caixa. Mantém o compromisso com o equilíbrio financeiro e promete um salto de desenvolvimento, com respeito ao meio ambiente e atenção ao interior. Entre as metas, a redução da criminalidade.

"Unidos, sob a liderança do governador Paulo Hartung, enfrentamos a incompetência, a corrupção e o crime organizado que minavam nossas instituições públicas. Unidos, transformamos o cenário capixaba. Ao receber a faixa, assumo também a responsabilidade de aprofundar esse trabalho e levar o Espírito Santo ainda mais longe", disse o novo governador, na posse. Na segunda-feira, ele reafirmou que pretende respeitar as conquistas e avançar mais. Torcemos todos para que faça um bom governo.

André Hees é jornalista

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