por Otavio Leite (*)
Navegar é preciso. Foram-se as eleições de 2010, com nossas derrotas e vitórias – que deixaram importantes lições – a indicar qual o nosso ponto de partida para a construção do futuro. Vale, portanto, uma reflexão para traçarmos metas e estratégias.
Inicialmente é preciso compreender a outra face dos 44% obtidos no segundo turno presidencial. Pois, se é certo que apontam um peso substancial do eleitorado (vide estamentos mais informados e autônomos em todo o tecido social), por outro lado, representam o que tem sido o nosso “teto”, e, por mais eloquente que seja, ele é, e será sempre, insuficiente para a vitória.
Ou seja, como ponto básico, será imprescindível a conquista de uma parte maior das chamadas classes D e E. O Serra enxergou isso e tentou atraí-las. Não foi à toa que propôs os 600 reais para o salário mínimo, os 10% de aumento para as aposentadorias do INSS em geral e até mesmo a ideia de instituir o décimo terceiro para os beneficiários do Bolsa Família. Infelizmente, o horário eleitoral sozinho não resolveu. Nos faltou a retaguarda de trabalho de base, acumulado e assíduo. Isto é, discurso e prática, bem antecipados no tempo. Não adiantava propor, era preciso convencer.
Ainda, para agravar a situação – e por obra competente e sofisticada dos nossos adversários -, fez-se crescer na sociedade a percepção de que o PSDB é elitista, dos ricos. E, não tem jeito, enquanto esse “demolidor conceito” perdurar, essa casca de banana estiver por aí, as nossas chances de vitória se limitarão a uma bola na trave. Nesse cenário, vale instituir como um preceito básico para a ação política do PSDB a proximidade e a identificação umbilical com as massas, com o povo mais simples e carente, que, ao fim e ao cabo, decide a eleição. E para quem as políticas públicas devem ser prioritárias, aliás – na busca de uma sociedade mais justa.
Diante deste breve diagnóstico, é indispensável o partido definir se está disposto a esse desafio. Em outras palavras: é hora de produzir uma espécie de “esclarecimento ideológico”, pois será ao redor de uma nova, clara e estimulante diretriz que as pessoas se aproximarão, se aglutinarão e partirão para a luta conosco.
Será uma tarefa árdua, porquanto a práxis política brasileira, hoje, está reduzida aos objetivos de uma mera expectativa de poder. E isso não pode ser tudo, mas tem sido tudo. Aliás, a ausência de nortes programáticos coerentes, ou melhor, a presença avassaladora do pragmatismo é que vem gerando a depreciação dos partidos perante a sociedade (para a felicidade dos oportunistas, que, no nosso caso, usufruíram do PSDB e se debandaram). É essa a cultura política que desejamos?
Para não cairmos nessa vala comum, cabe indagar: o que é ser social-democrata, progressista, numa perspectiva do nosso enquadramento na história e na formulação sobre o futuro? Certamente, as respostas virão de amplos e profundos debates. Mas penso que o nosso marco inicial será resgatar aquilo que foi a maior vitória para a classe trabalhadora nas duas últimas décadas: a estabilidade da moeda, por exemplo.
Para construir este receituário, precisaremos antes de tudo desprendimento e entusiasmo. Abrir o partido à sociedade, trabalhando os meios digitais ao máximo. Acordar e atrair para uma vida mais orgânica aqueles simpatizantes que estão por aí, anônimos, aos milhares. Ir aos ditos segmentos organizados em geral, inclusive aos sindicatos, e travarmos o debate aberto. Estabelecer conexão direta com os jovens. Pensarmos nacionalmente sim, mas localmente também. Agirmos em ambos, para termos condições de lançar no próximo ano candidatos a prefeitos em todos os municípios onde exista o PSDB – alicerce indispensável para o projeto nacional.
Acredito num caminho mais saudável para o trabalho político, para ser percorrido, muito além das fronteiras de São Paulo e Minas, com o mesmo êxito. Precisamos avançar, sobretudo, nos estados onde nos encontramos fragilizados, pavimentando com segurança a estrada para elegermos o presidente da República. A alma deste processo de revitalização estará no conteúdo de uma nova e moderna linha programática tucana, e as vitórias se expressarão no suor de nossa dedicação. Tucanos! Vamos ao dever de casa?
(*) Otavio Leite é deputado federal (PSDB-RJ). Artigo publicado no jornal “O Globo” em 6 de janeiro de 2011
Sua visão sobre o PSDB é absolutamente correta e assustadora. O PSDB age como um livro que come a própria história, as próprias palavras e letras.
ResponderExcluirmuito bom o comentário, estamos desnorteados e perdidos, assistindo os desmandos e devaneios, como aconteceu há 8 anos passados e foi deixado somente prá época das eleições, infelizmente não aprenderam as lições, estão continuando igual... e ficamos a mercê dos PTs, PDTs, PCBs e outros, quer dizer nos resta abandonar a luta e unir-se aos inimigos, pois nossos líderes simplesmente deixaram de existir, só irão aparecer na época das eleições... lamentável, um partido q teve grandes nomes na sua fundação e ainda hj conta com vários deles, bem intencionados.... mas,parece q ficou no passado
ResponderExcluir