quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

OU ISTO OU AQUILO.

Governar é escolher, é decidir entre caminhos alternativos. Escolher é aceitar a perda das opções descartadas. Cecília Meireles já celebrizou em versos a angústia das decisões, ainda que singelas, no poema "Ou isto ou aquilo": "Ou guardo o dinheiro ou compro o doce. Ou ponho a luva ou coloco o anel [...]".


Os bons governantes decidem. Os incapazes ou charlatães empurram com a barriga e deixam que a vida decida por eles por decurso de prazo.

Dilma começa seu governo com uma decisão pela frente, reconhecida por ela em seu discurso de posse. Nele, a presidente prometeu, com muita ênfase, "manter a estabilidade econômica como valor absoluto", mas o governo Lula deixa de herança um desarranjo de dimensões consideráveis nas contas públicas, agravado pela espada da "praga" da inflação, em suas próprias palavras.

A inflação em 2010 deverá encostar no teto da meta prevista para o ano passado (6,5%). Já o IGP-M, que reajusta a maioria dos contratos de financiamentos imobiliários e de bens, subiu 10,56%. No dia 19 de janeiro, o Banco Central não terá outra alternativa e deverá iniciar o processo de aumento da taxa de juros para conter a inflação.

O descontrole nas despesas do governo está na raiz de muitos dos atuais indicadores negativos. A deterioração se deu para que a economia pudesse ter o forte desempenho no ano eleitoral de 2010, com o PIB (Produto Interno Bruto) crescendo cerca de 7,5 %.

A tarefa de Dilma de conter o ritmo do crescimento da despesa estatal, porém, é um desafio. O ano de 2010 foi o pior desempenho do governo Lula na geração de poupança governamental para pagar a dívida pública.

Vale lembrar que apenas 8% do gasto não financeiro da União (excluindo juros da dívida pública) são passíveis de corte caso o governo não queira reduzir ainda mais investimentos em infraestrutura (hoje, menos de 1% do PIB).

Para combater a inflação, o governo dispõe de apenas dois instrumentos: fiscal (equilíbrio das despesas e receitas públicas) e o monetário (política de juros). Quanto maior for a relutância do governo federal em garantir a austeridade das contas públicas, mais o Banco Central será obrigado a elevar os juros básicos.

Admitindo que a presidente Dilma vai cumprir sua promessa de manter a estabilidade da moeda, vamos aguardar sua decisão. Ou vai deixar todo o trabalho de luta contra a inflação para o Banco Central e para a política de juros, ou vai rever o modelo de Estado baseado em expansão do gasto público, combinado com preconceito contra o setor privado (vide o setor petróleo). Estaremos torcendo pelo Brasil.

Luiz Paulo Vellozo Lucas é deputado federal (PSDB)

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