domingo, 11 de julho de 2010

EDUCAÇÃO. "UM PONTO DE VISTA" IDEB-ES.

O que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostra sobre a educação no Espírito Santo? Para responder à questão, é necessário compreender que o Ideb é um indicador que afere a qualidade da educação básica, comparando a taxa média de aprovação das séries iniciais e finais do ensino fundamental e do ensino médio (taxa de aprovação e de reprovação), informada pelo Censo Escolar, com as médias obtidas em Português e Matemática no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e na Prova Brasil. O Saeb e a Prova Brasil são dois instrumentos de avaliação que possuem a mesma base metodológica: ambos permitem comparar desempenho ao longo dos anos e são elaborados a partir de matrizes de referências que levam em conta habilidades e competências contidas nas orientações curriculares oficiais.


Portanto, o Ideb é um indicador que toma como pontos de partida resultados aferidos por testes padronizados aplicados em larga escala. É uma ferramenta que contribui para avaliar redes e sistemas de ensino e não alunos individualmente. Logo, não favorece para avaliar aprendizagens realizadas pelos alunos. Muito pelo contrário, o indicador dá a impressão de que, em uma mesma escola, rede ou sistema, todos os alunos possuem o mesmo desempenho, escamoteando as diferenças individuais de aprendizagem. Além disso, o Ideb instaura uma cultura de comparação entre estados, municípios e escolas em termos de quem está ofertando uma melhor ou pior educação. Mesmo assim, o Ideb tem sido uma tendência das políticas públicas educacionais.

No que diz respeito à qualidade da educação no Espírito Santo, a título de exemplo, é possível realizar leituras a partir do Ideb. Na Região Sudeste a educação de 1ª a 4ª séries no nosso Estado obteve 5,1 pontos, estando pior do que a educação em Minas Gerais (5,6) e em São Paulo (5,5), e melhor do que no Rio de Janeiro (4,7). O mesmo se repete de 5ª a 8ª séries e no ensino médio, em que os índices do Estado superaram os do Rio.

Também com relação à educação de 1ª a 4ª séries, apesar de a grande maioria dos municípios ter atingido e até ultrapassado as projeções para o ano de 2009, apenas oito deles conseguiram a média de 6,0 pontos. Dos oito, nenhum integra a região da Grande Vitória. Dos 78 municípios capixabas, 51 apresentaram Ideb entre 4,0 a 4,9. Logo, mais da metade dos municípios, inclusive os da Região Metropolitana, não conseguiu chegar perto da média de 6,0 pontos. O melhor Ideb de 1ª a 4ª séries foi de Itarana com 6,6 pontos, e o menor foi o da rede estadual de Presidente Kennedy com 2,5 pontos.

Esses poucos exemplos nos levam a concluir com um outro questionamento: os resultados do Ideb oferecem aos gestores da educação pública informações relevantes sobre os conhecimentos que possuem os estudantes considerados fracassados ou sobre seus processos de aprendizagem? Parece que o indicador torna invisíveis os saberes dos alunos, silencia as diferenças e legitima desigualdades.

Cleonara Maria Schwartz é doutora em Educação e professora da Ufes.

Um comentário:

  1. Acredito que só uma assembleia constituinte poderá definir um projeto de educação e avaliação, para as próximas décadas.

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