terça-feira, 12 de outubro de 2010

O EQUILIBRIO QUE FORTALECE A DEMOCRACIA.

Verde que te quero verde, o eleitor brasileiro manifestou-se no domingo passado pela consolidação do regime democrático, assegurando um equilíbrio entre as facções políticas que será mantido, qualquer que seja o resultado do segundo turno das eleições presidenciais .


À anunciada tendência plebiscitária, que significaria o esmagamento da oposição, o povo respondeu com a distribuição ponderada dos votos, nas diversas esferas da consulta à vontade popular: um segundo tempo para escolher o presidente, a escolha de governadores e senadores dos diversos partidos e de um Congresso com uma composição que não permitirá o domínio absoluto de nenhum partido.

O PT do presidente da República cresceu bem menos que a popularidade de Lula, manteve os governos da Bahia, Sergipe e Acre, conquistou o do Rio Grande do Sul e vai ao segundo turno no Distrito Federal e no Pará. A bancada federal petista não será de 15 senadores e 88 deputados, a maior numa Câmara de 513 cadeiras, mas sem a hegemonia que chegou a ser apregoada.

O PSDB fez os governadores de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Tocantins e vai ao segundo turno em Alagoas, Goiás, Pará e Piaui. Elegeu onze senadores e uma pequena bancada na Câmara dos Deputados.

Quem for eleito presidente precisará formar alianças para governar, mas essa não será uma dificuldade maior. Pior seria a vitória esmagadora de um dos partidos, o que abriria o risco do autoritarismo. Tome-se o exemplo da Venezuela chavista . Falava-se muito, durante a campanha, que o Brasil tenderia a uma mexicanização, referência ao longo domínio do Partido Revolucionário Institucional, do México, desde 1929 a 2000, mas dessa praga o povo brasileiro está livre.

Se eleita, Dilma Roussef contaria certamente com o apoio dos aliados PSB e PCdoB. Quanto ao PMDB, enfrentaria alguns obstáculos provenientes de lideranças ressentidas, a exemplo de Gedel Vieira Lima, na Bahia, Hélio Costa, em Minas, Germano Rigotto, no Rio Grande do Sul, Jader Barbalho, no Pará, fora os dissidentes anteriores, como Jarbas Vasconcelos e Orestes Quércia. Já José Serra, caso vença o segundo turno, contaria com o DEM, o PPS e não necessitaria de muito esforço para cooptar o PMDB. Desse modo, qualquer que seja o escolhido, terminará constituindo maioria no Congresso Nacional, sem os percalços que angustiaram Lula no primeiro mandato, gerando o triste episódio do mensalão, e todo o governo Sarney, marcado pela precariedade do apoio parlamentar e pela onda de greves. Evidencia-se, assim, o amadurecimento da democracia brasileira. O povo vota com sabedoria que deve ser aferida não em razão de uma ou outra escolha equivocada, de palhaços ou personalidades grotescas, porque em todo corpo social há desfigurações, mas no amplo mosaico em que se verifica uma composição em bases reais, o reflexo natural de uma sociedade plural. Uma harmonia que decorre da diversidade, de tons múltiplos que formam acordes perfeitos, embora dissonantes, como na bossa nova ou no jazz, uma modernidade que se constrói nasolidariedade e na tolerância. Na política brasileira já não há lugar para inimigos que se enfrentam a balas, chicotadas ou destempero verbal, e sim para adversários leais, comprometidos com o interesse público, daí o verde equilíbrio que se expressa no belo poema de Frederico Garcia Lorca.

Lázaro Guimarães – Magistrado e Professor

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