sábado, 9 de outubro de 2010

SALTO ALTÍSSIMO.

Lula é o maior responsável pela grande quantidade de votos dados a Dilma no primeiro turno das eleições presidenciais. E é também o maior responsável por Dilma não ter alcançado os votos necessários para ser eleita sem a necessidade de um segundo turno. Lula será também o maior responsável pelo destino de Dilma no segundo turno, seja este uma vitória ou uma derrota. Tudo porque Dilma é uma invenção pessoal, única e solitária, de Lula.


Ninguém tem dúvida, nem o PT, que foi a influência de Lula que deu a Dilma 47,6 milhões de votos. Tanto que, como ocorreu no primeiro turno, o comando da campanha busca colar a figura de Lula na de Dilma o mais que pode. Afinal, antes de Dilma ser ungida como candidata por Lula, ela era uma ilustre desconhecida do eleitorado. As primeiras pesquisas indicavam que menos de 20% dos entrevistados sabiam quem era Dilma. O fato de ela não ter nunca disputado antes uma eleição justificava o desconhecimento.

O próprio PT resistiu, o quanto pode, à indicação de Dilma como candidata. Tarso Genro, hoje eleito governador do Rio Grande do Sul, ao ser preterido na escolha no ano passado, questionou em entrevista a falta de carisma e a viabilidade eleitoral de Dilma, classificando-a de neófita no PT. Para ele, a escolha de Lula era fruto do "vazio partidário" do PT após o mensalão. Lula, por sua vez, nunca escondeu que foi ele quem escolheu a candidata, como chegou a contar, em agosto, no primeiro programa exibido no horário da propaganda eleitoral gratuita.

O que mais se discutia nos meses anteriores à campanha era se Lula seria capaz de transferir para Dilma o seu prestígio apurado nas pesquisas de opinião, já que a sua candidata não tinha luz própria para decolar sozinha. Por isso Lula procurou, o mais que pode, antecipar a campanha, chegando a ser multado quase uma dezena de vezes por fazer propaganda fora do período legal. As urnas do primeiro turno mostraram que Lula conseguiu, pelo menos em parte, transformar o seu apoio em votos para a candidata.

Mas Lula é também o responsável por Dilma não ter alcançado os 50% dos votos que precisava. Embriagado pelo prestígio e pela soberba, imaginou-se com o direito de fazer o que quisesse, sem limites, e que todos os seus desejos seriam prontamente atendidos pelos seus fiéis súditos. A começar pela escolha da candidata, a decisão de intitulá-la de "mãe do PAC" e de antecipar a campanha mesmo que para isso tivesse que usar a máquina pública. Foi por transformar inaugurações em atos de campanha que foi multado. Onipotente, desdenhou as multas, zombou da Justiça Eleitoral e continuou, até o fim, misturando as funções de presidente com as de cabo eleitoral.

Em um comício, Lula tripudiou sobre a inteligência do brasileiro ao perguntar "onde está o tal de sigilo?" tentando ridicularizar o crime cometido por funcionários da Receita, filiados ao PT, de quebrar o sigilo bancário de dirigentes do PSDB. Em outro, tratou com desprezo a liberdade de imprensa ao proclamar: "Nós somos a opinião pública". Desdenhou também os adversários políticos ao dizer que eles estavam "com medo" e "nervosos". E, exageros dos exageros, conclamou o eleitorado de Santa Catarina a "extirpar o DEM".

A arrogância e o salto altíssimo de Lula tiraram de Dilma a vitória no primeiro turno. O DEM venceu em Santa Catarina e, a julgar pela primeira aparição após a divulgação dos resultados, é a dupla Dilma-Temer que demonstra medo e nervosismo. Não é à toa que até Roberto Requião aconselhou Lula a descer do salto e a calçar sandálias se quiser de fato fazer de Dilma a sua sucessora.

  José Carlos Corrêa

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