Esse é o tipo de problema que não se prevê. Mas há outros que batem no gabinete do novo governador e que poderiam ter sido remediados. E nesse caso se encaixam os projetos do Ministério Público e do Tribunal de Justiça, que garantem R$ 60 milhões em pagamentos retroativos para promotores, procuradores, juízes e desembargadores.
Não houve articulação do novo governo junto à Assembleia para impedir esse tipo de aprovação. Sabendo que essa bomba financeira ficaria no seu colo, era prudente que o novo governador, junto com o que saiu do cargo, mostrasse aos deputados que esse não é o momento de aumentar gastos. Se esse tipo de concessão for feita para a casta do Ministério Público e do Judiciário, deixará a impressão de que a austeridade financeira do novo governo é frágil. E outras categorias do funcionalismo poderão começar a exigir o mesmo tratamento.
Já foi um equívoco do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) e também de Casagrande não ter negociado com os parlamentares um aumento de salário menor para os deputados estaduais. Pagou-se o teto, e os contracheques vão saltar para R$ 20 mil. Esse exercício de negociação política poderia ter sido iniciado antes do início do mandato, até porque esta é uma conta que vai ficar para o atual governo.
Um outro desafio de Casagrande diz respeito ao secretariado que ele escolheu. Começou muito bem, com a indicação do desembargador federal Henrique Herkenhoff para a pasta de Segurança, mas terminou com uma enorme interrogação - e certo ar de decepção -, com a ida do ex-prefeito de Muqui Frei Paulão (PSB) para a pasta de Cultura. Sem contar, como já foi dito aqui, que este é um governo de continuidade, mas com rupturas. A Educação, por exemplo, ia muito bem com Haroldo Corrêa, mas o novo governador preferiu colocar um novo técnico. Tem todo o direito e legitimidade de testar novos profissionais em seu governo, mas haverá cobrança, obviamente, de continuidade administrativa.
Verdade que no primeiro mandato de Paulo Hartung não se pode dizer exatamente que seu secretariado foi brilhante. Ele já colocou, por exemplo, políticos em áreas das mais estratégicas - e eles não deram certo. Pastas consideradas periféricas também foram usadas para abrigar aliados derrotados nas eleições. Mas no segundo mandato o secretariado estava mais afinado e é essa a comparação que será feita.
Então, passada a festa da emocionante cerimônia de posse realizada ontem, Casagrande vai precisar mostrar sua experiência como gestor, já tem um primeiro problema batendo à porta - que é a chuva -, vai precisar provar que escolheu uma boa equipe e lidar com a sede salarial dos Poderes. E ainda há a eleição da mesa Diretora da Assembleia batendo à porta.
Saiu quietinho
Foi uma das transições mais tranquilas da história recente do Estado, e também por isso a cerimônia de posse de Renato Casagrande foi marcante. Mas faltou pelo menos uma mensagem de "boa sorte" na solenidade de transmissão da faixa. Colaboradores de Hartung disseram que aquele era o momento de Casagrande, que o ex-governador não queria disputar atenções no evento. Talvez tenha pesado também o fato de que, na primeira posse de Hartung, o ex-governador José Ignácio fez um discurso interminável. De todo modo, faltou uma palavra final. Havia também um convite inicial para que Hartung acompanhasse a solenidade até o final, inclusive o discurso de Casagrande na Praça João Clímaco. Mas o ex-governador foi embora. Deixou Ricardo Ferraço (PMDB), que voltou mais cedo do Havaí.
Fonte: A Gazeta -
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