Não foram poucos os equívocos da política externa do governo Lula. O maior deles talvez tenha sido a posição de apoio explícito ao Irã, formalizada solenemente com a troca de visitas de mais alto nível, uma nação que desafia sanções, viola a democracia e os direitos humanos, nega o holocausto e contraria o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Foi lamentável, também, que o Brasil tenha renunciado a acionar os meios pacíficos do Direito Internacional em defesa dos interesses brasileiros atropelados pela violação boliviana de tratados e contratos sobre o gás.
Muitas outras derrapagens nas relações internacionais poderiam ser citadas como, por exemplo, a parcialidade visível na complacência com que foram tolerados os comportamentos de Cuba com relação aos prisioneiros de consciência e da Venezuela nas provocações sucessivas feitas aos colombianos.
Tais fatos evidenciam que o país, durante o governo Lula, seguiu em sua política externa uma linha fortemente influenciada pela ideologia do PT, como revela o documento "A Política Internacional do PT", discutido no congresso do partido realizado há um ano. O diplomata Paulo Roberto Almeida, em trabalho em que compara as políticas seguidas pelos governos Lula e Fernando Henrique, tem a mesma opinião: "É nas relações exteriores e na sua política internacional que o governo do presidente Lula mais se parece com o discurso do PT".
A assessoria internacional da Presidência da República, dirigida por Marco Aurélio Garcia e criada em 2003, é apontada, tanto pelo PT quanto pelos especialistas, como o canal que empurrou Lula na implementação da linha ideológica da política externa, neutralizando em parte o pragmatismo do Itamaraty. Seria esta a fonte principal das posições críticas à globalização e aos países desenvolvidos tão claras no não engajamento em demandas de liberalização comercial, na oposição à Alca e na opção preferencial pelas relações com países fora do eixo hegemônico da economia mundial.
Marco Aurélio e sua assessoria foram mantidos no governo Dilma, mas surgem alguns indícios de "mudanças importantes de estilo e de ênfases", como comentou em texto publicado em "O Globo" o ex-embaixador Rubens Barbosa. Para ele, os discursos de posse da presidente e do novo ministro Patriota sinalizam ações "mais pragmáticas e menos ideológicas". Entre essas mudanças estariam o compromisso com os interesses permanentes do Estado brasileiro (e não com a plataforma de um partido político), o fim dos "excessos retóricos e ativismo pirotécnico" e a reconsideração das políticas em relação aos países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, que não seriam mais tratados de maneira preconceituosa.
O Irã, terça-feira, fez um protesto formal contra críticas de Dilma ao desrespeito dos direitos humanos naquele país. Os Estados Unidos serão um dos primeiros países a serem visitados pela presidente. Tomara que esteja se confirmando a previsão de Barbosa de que haja, de fato, uma disposição concreta do governo brasileiro em dar um novo rumo às relações internacionais do Brasil.
Fonte: A Gazeta - http://glo.bo/gKGdWN
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