Antonio Carlos Lopes
Teoricamente a medicina é 100% humanizada, porque, para exercê-la, é preciso ter foco no indivíduo, na qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos. Nesse caso, falar em humanização pode parecer redundante. Em certas situações, fica inclusive a impressão de tratar-se apenas de recurso retórico.
O fato, no entanto, é que vivemos no Brasil, país até bem posicionado na geografia econômica mundial, mas absolutamente miserável em políticas sociais. Dia a dia, vemos na imprensa hospitais sucateados, pacientes jogados em corredores à espera de internação, mal tratados e desrespeitados. Faltam recursos à assistência adequada e, pior do que isso, não há vontade política nem postura cidadã de boa parte dos gestores dos sistemas público e privado.
Não bastasse a carência de recursos e a incompetência administrativa, há outras agravantes que comprometem a qualidade do atendimento, tornando nossa medicina e a saúde perigosamente desumanizadas. Começamos pela formação médica, cada vez mais frágil. Surgem novas faculdades todos os dias numa roleta-russa que visa somente à quantidade. O resultado é um mercado inflado anualmente por profissionais com capacitação insuficiente, representando ameaça à vida dos cidadãos.
Com mão de obra excedente, o Estado e empresários da saúde seguem a cartilha da mercantilização. Praticam honorários vis, obrigando médicos a acumular vários trabalhos para compor uma renda minimamente digna. Boa parte se submete a plantões de 24 horas, seguidos por jornadas de 12 horas no dia seguinte, só para citar um exemplo. Colocam em risco a própria integridade, além de pôr em risco os pacientes.
Todos esses problemas - somados à incompetência administrativa - transformam nossa medicina em caso de polícia.
Diante de tal quadro, humanizar a medicina não é chavão nem exercício de retórica. É uma necessidade imperiosa, que passa pela mudança de mentalidade de todos os agentes do sistema. Como sempre digo, o doente deve viver e morrer de mãos dadas com o seu médico.
Não podemos aceitar que pessoas sejam tratadas como o doente do quarto 32, 48, 112. Esse, aliás, é um dos motivos pelo qual lutamos para que as instituições de ensino contemplem em seus currículos temas de cuidados paliativos.
Humanizar a medicina é mais simples do que parece. É formatar a rede de saúde e preparar seus atores para responder de forma adequada às necessidades de assistência dos cidadãos. É olhar o doente, não a doença. É ser humano com o próximo.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
Teoricamente a medicina é 100% humanizada, porque, para exercê-la, é preciso ter foco no indivíduo, na qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos. Nesse caso, falar em humanização pode parecer redundante. Em certas situações, fica inclusive a impressão de tratar-se apenas de recurso retórico.
O fato, no entanto, é que vivemos no Brasil, país até bem posicionado na geografia econômica mundial, mas absolutamente miserável em políticas sociais. Dia a dia, vemos na imprensa hospitais sucateados, pacientes jogados em corredores à espera de internação, mal tratados e desrespeitados. Faltam recursos à assistência adequada e, pior do que isso, não há vontade política nem postura cidadã de boa parte dos gestores dos sistemas público e privado.
Não bastasse a carência de recursos e a incompetência administrativa, há outras agravantes que comprometem a qualidade do atendimento, tornando nossa medicina e a saúde perigosamente desumanizadas. Começamos pela formação médica, cada vez mais frágil. Surgem novas faculdades todos os dias numa roleta-russa que visa somente à quantidade. O resultado é um mercado inflado anualmente por profissionais com capacitação insuficiente, representando ameaça à vida dos cidadãos.
Com mão de obra excedente, o Estado e empresários da saúde seguem a cartilha da mercantilização. Praticam honorários vis, obrigando médicos a acumular vários trabalhos para compor uma renda minimamente digna. Boa parte se submete a plantões de 24 horas, seguidos por jornadas de 12 horas no dia seguinte, só para citar um exemplo. Colocam em risco a própria integridade, além de pôr em risco os pacientes.
Todos esses problemas - somados à incompetência administrativa - transformam nossa medicina em caso de polícia.
Diante de tal quadro, humanizar a medicina não é chavão nem exercício de retórica. É uma necessidade imperiosa, que passa pela mudança de mentalidade de todos os agentes do sistema. Como sempre digo, o doente deve viver e morrer de mãos dadas com o seu médico.
Não podemos aceitar que pessoas sejam tratadas como o doente do quarto 32, 48, 112. Esse, aliás, é um dos motivos pelo qual lutamos para que as instituições de ensino contemplem em seus currículos temas de cuidados paliativos.
Humanizar a medicina é mais simples do que parece. É formatar a rede de saúde e preparar seus atores para responder de forma adequada às necessidades de assistência dos cidadãos. É olhar o doente, não a doença. É ser humano com o próximo.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
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