sábado, 19 de fevereiro de 2011

BANDEIRAS TROCADAS.

Foi curioso, na votação do novo salário mínimo, ver o PT defender o valor de R$ 545,00 e o PSDB R$ 600,00. Ora, não era o PT o defensor dos trabalhadores, que sempre vociferava contra o neoliberalismo tucano que arrochava os salários? E não era o PSDB o partido da austeridade fiscal, que defendia com unhas e dentes a importância de o Estado brasileiro ser menos gastador, que deveria zelar com prioridade pelo equilíbrio das contas públicas, entre as quais as da Previdência? Por que, então, essa troca de bandeiras?


O PT defendeu - e votou - pelos R$ 545,00 porque agora é governo, e como governo não pode bobear em matéria financeira para não afundar o país em novos déficits e dívidas. Um aumento maior agora aprofundaria o déficit da Previdência e implicaria a necessidade de aumentar ainda mais o corte de R$ 50 bilhões que o governo precisa fazer para tentar amenizar os efeitos da gastança de Lula, que inchou a folha e multiplicou os gastos públicos. O mesmo ministro da Fazenda que comandou o inchaço das despesas no período pré-eleitoral é agora o maior defensor da responsabilidade fiscal.

E o PSDB defendeu o salário de R$ 600,00 porque foi essa uma promessa eleitoreira do seu candidato José Serra. Serra sabia que o país iria pagar caro se o salário mínimo fosse reajustado para aquele valor, mas, mesmo assim, para conseguir votos, incorporou a tese à sua plataforma. Nem durante a campanha e nem depois se atreveu a explicar de onde tiraria o dinheiro para pagar a conta e, se fosse eleito, teria que fazer uma mágica para conseguir honrar o prometido. Para não desmentir o seu candidato e a sua promessa, o PSDB votou pelos R$ 600,00.

O PT, durante a campanha, nunca prometeu o salário de R$ 600,00, mas deixava no ar a possibilidade de ele ser maior do que os R$ 545,00. Quando o assunto pintava, Dilma desconversava e acenava com um reajuste maior. Os petistas evitavam falar em valor, mas o aumento real do salário mínimo sempre esteve presente nos discursos. Finda a eleição, feitas as contas, veio a conversa do corte dos gastos, da suspensão dos concursos e da impossibilidade de mudar a regra do salário.

Não é à toa que a população não acredita nos políticos e suas promessas. A campanha de Dilma sempre espalhou a informação de que, se fosse eleito, Serra iria paralisar a realização dos concursos públicos. Esta, no entanto, foi uma das primeiras providências de Dilma presidente. Mas tanto ela, Dilma, quanto Serra, seu opositor, não tiveram a coragem, para não dizer honestidade, de dizer ao eleitorado que, diante da situação dos cofres públicos, seriam obrigados a tomar tal decisão.

E, vamos admitir, os eleitores provavelmente iriam negar o seu voto ao candidato que anunciasse essa medida. Votar em quem vai acabar com a farra dos concursos? Nem pensar. Votar em quem vai ser mais rigoroso na concessão do bolsa família? Votar em quem vai cortar gastos? Os marqueteiros certamente têm razão quando garantem que o eleitor não gosta de notícias ruins. Votar na austeridade fiscal? Nunquinha.

É neste jogo de ilusões e do "me engana que eu gosto" que vive a nossa política e as nossas eleições. Os políticos prometem aquilo que sabem que não poderão cumprir e os eleitores fingem acreditar nas promessas porque preferem não encarar a realidade. Quem sabe jogar melhor este jogo é que se dá bem. Lula, que acaba de chamar os sindicalistas de oportunistas, que o diga

Fonte: José Carlos Correa - A Gazeta

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