O homem que Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta efusivamente na foto acima ordenou esta semana aos coronéis do exército que disparassem de helicóptero contra a população do seu próprio país. Organizações de direitos humanos estimam que 300 a 400 pessoas morreram. Em conjunto com milhares de outras, elas protestavam para tirar o ditador do poder.
Durante seu mandato, Lula se reuniu pessoalmente quatro vezes com o ditador da Líbia, Muamar Kadafi, que governa o país com mãos de ferro há 41 anos. Só em 2009 foram duas vezes. Na foto, clicada pela assessoria de imprensa do Planalto, os dois se encontraram na Cúpula América do Sul- África, que aconteceu na Isla Margarita, Venezuela, dia 26 de setembro de 2009. Poucos meses antes, em visita a Sirte, na Líbia, Lula chamou Kadafi de “meu amigo, meu irmão, líder”.
Na época, houve muitas críticas à aproximação de Lula com o ditador líbio. Aconselhado por seus assessores mais próximos (o ex-ministro Celso Amorim e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia), Lula dizia que o Brasil não tinha preconceitos e que se tratava de uma diplomacia pragmática. Nada como um dia atrás do outro. Lula hoje é “irmão” de um maluco que manda atirar de helicóptero em seu próprio povo para se manter no poder.
Quais eram as reais motivações do ex-presidente? Uma delas pode ter sido o interesse das construtoras brasileiras, doadoras importantíssimas para as campanhas eleitorais. Rica em petróleo, a Líbia investiu bilhões de dólares em infraestrutura nos últimos anos. A Odebrecht foi a primeira construtora brasileira a se instalar no País em 2007, com obras no valor de US$ 1,4 bilhão. Foi seguida pela Andrade Gutierrez e pela Queiroz Galvão.
Talvez o presidente brasileiro tenha sido influenciado pelo colega venezuelano Hugo Chávez, que possui relações muito próximas com Kadafi. Os contatos entre Chávez e Kadafi começaram porque os dois países possuem reservas significativas de petróleo, mas evoluíram. São tão próximos hoje que o chanceler do Reino Unido, William Hague, chegou a afirmar que Kadafi teria fugido para Caracas.
Na sua coluna de hoje no jornal O Globo, Miriam Leitão, lembra que Lula não foi o único. Segundo a jornalista, o então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, tratou Kadafi como estadista, os Estados Unidos normalizaram suas relações com a Líbia, enviando um embaixador, e a Organização das Nações Unidas aceitou que o país participasse como membro não permanente do Conselho de Segurança. No ano passado, a Líbia chegou a ser eleita para o conselho de direitos humanos da ONU. No foco de EUA e Inglaterra, estavam as reservas de petróleo da Líbia.
A diplomacia pragmática é, muitas vezes, uma necessidade, mas não pode ser uma regra. As contrutoras tem todo o direito de fazer lobby junto ao seu governo para defender seus interesses no exterior. O que não significa que o governo deve concordar. Lula representava um país. E é o Brasil agora que passa pelo vexame de ser “amigo” de um ditador assassino. Dilma Rousseff é “cria” de Lula e manteve Garcia no cargo, mas como ex-guerrilheira torturada pela ditadura deu sinais de que não vai sucumbir aos mesmos erros. “Não vou negociar nos direitos humanos. Não há concessões nessa área”, repetiu a presidente mais de uma vez. Tomara.
Fonte: O Estadão - http://bit.ly/g6JsfQ
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