quinta-feira, 24 de junho de 2010

POLITICA DE AMADORES.

A controversa questão nuclear do Irã vem mostrando que a política exterior do governo Lula tem mais erros do que acertos. Possui mais emoção do que racionalidade. E mostra principalmente que o terreno firme da diplomacia internacional é mais profundo do que se possa imaginar. Não há espaço para palpiteiros de plantão que querem agradar o chefe nem lugar para “espontaneismos” de um presidente que, em nome de uma suposta defesa dos mais fracos ou de uma independência política irreal, comete toda ordem de impropriedades conceituais e verbais, neste complexo cenário. Em uma frase: não é porque o Brasil está mais sólido e respeitado ou porque Lula é popular que as regras clássicas da diplomacia internacional vão se alterar de uma hora para outra, porque alguém deu essa ideia ao presidente e o próprio acredita que fará essa “transformação”.


Esse raciocínio pode explicar a desastrada atuação do Brasil em seu intento de querer ser “o pai da criança” de um pacifismo nuclear inexistente, ao propor, ao lado da Turquia, um acordo paralelo, sem nenhuma garantia do principal interlocutor, o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Quando o Conselho de Segu­­rança da ONU aprovou, no último dia 9, uma quarta rodada de sanções ao Irã, e o governo de Teerã barrou no início desta semana a entrada no país de inspetores da instituição, evidenciou todas as fissuras e mazelas da atuação da chancelaria brasileira, conduzida pelo ministro Celso Amorim. O Irã se recusa a abandonar o enriquecimento de urânio e deixa clara a suspeita de que esteja tentando desenvolver armas nucleares. Mas o Brasil não acredita.

O recurso do governo Lula foi jogar a tolha neste embate, na tentativa de diminuir o vexa­­me. “Desapontado” com a aprovação de novas sanções da ONU contra o Irã, o Brasil “desistiu’ de exercer um “papel de interlocutor” entre as potências ocidentais e o país persa. Assim declarou o chanceler Amorim, em entrevista ao jornal britânico Financial Times, publicada nesta semana. Ele tentou justificar mais uma vez: “O Brasil acabou prejudicado por fazer coisas que todos afirmavam ser positivas”.

O resultado disso tudo é que o Brasil foi rebaixado no jogo da diplomacia. Além disso, perdeu, talvez, definitivos pontos de credibilidade no cenário internacional, enquanto durar o governo petista, com tradicionais aliados e parceiros comerciais, como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Uma autoridade nor­­te-americana que pediu anonimato fez o seguinte comentário ao Financial Times: “Não vejo o Brasil e a Turquia em uma posição de exercer essa mediação [do acordo nuclear]. Por terem votado contra as sanções da ONU, eles não são mais realmente neutros”.

Em seu último relatório sobre o Irã, em maio, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) dizia que o país estava preparando equipamentos adicionais para enriquecer urânio até níveis mais elevados, e que continuava a acumular material nuclear. O texto afirmava também que o Irã não estava esclarecendo dúvidas da agência sobre um possível componente militar do seu programa atômico. A chancelaria brasileira não foi nem sequer capaz de ponderar esse documento básico, que confirmava o desrespeito do Irã às regras internacionais e justificava uma possível quarta rodada de sanções. Entrou de cabeça num barco furado chamado Irã e, agora, amarga os erros.

O Brasil sempre teve personalidade, independência e sabedoria na sua política exterior. São muitos os fatos históricos que comprovam a habilidade dos brasileiros para resolver questões complexas como essa do Irã. É dever das lideranças do país buscar continuamente essas metas. Mas isso não é para amadores.

Gazeta do Povo

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