domingo, 27 de junho de 2010

O FILÉ E A CARNE DE PESCOÇO.

A saúde pública no Brasil é realmente um descaso com  todos nós que sofremos com uma carga tributária das maiores e mais injustas do mundo, requer uma revisão de conceitos e de custeio, tornando-se um desafio ao novo Governo a se instalar a partir de 2011. O que vemos atualmente é um completo distanciamento entre o que se imagina nos gabinetes do Ministério da Saúde e o que acontece nos municípios, principalmente nos pequenos, onde a arrecadação é insuficiente para cumprir os compromissos de responsabilidade com a atenção básica, que afinal de contas é onde poderia se resolver mais de 80% de todas as ações de prevenção e tratamento. Postos de saúde suntuosos , distribuição de ambulâncias são programas eleitoreiros que não se sustentam por falta da capacidade de custeio pelas Prefeituras.


Enquanto a saúde pública enfrenta todo tipo de problemas , já conhecidos de todos e por isso mesmo vou me abster de comentar, a medicina de grupo vai muito bem obrigado, e todo aquele que quer dar um mínimo de tranqüilidade à sua família, tendo recursos para tal, se vê obrigado a espremer o orçamento e aderir a um plano, que diga-se de passagem, tem para todas as faixas de renda. O que está acontecendo é que estão ficando com o filé enquanto para o SUS sobra na melhor das hipóteses a carne de pescoço e explico porque. Primeiro existem procedimentos que os planos não cobrem e que acabam caindo nas costas do setor público, segundo, nas situações de emergências , só o SUS mantem plantões com equipes multidisciplinares para o atendimento dos poli traumatizados. Geralmente pacientes que necessitam de cirurgias complexas e de Unidades de tratamento intensivo, gerando altos custos no atendimento imediato e na recuperação. Existe uma lei de 1998 que obriga aos planos privados ressarcirem ao SUS os gastos com atendimentos aos pacientes de planos de saúde. Lei que nunca foi obedecida e estima-se que só no período de 2003 a 2008 em plena gestão petista, o prejuízo aos cofres públicos cheguem a 5 bilhões de reais.

Como médico que trabalha em hospitais públicos , sou testemunha disto, não é incomum sermos procurados para exames e procedimentos que não são cobertos pelos planos privados. Atendemos diariamente nos serviços de urgências clientes de planos de saúde e, naturalmente estes custos estão recaindo nas costas da grande maioria de nosso povo que é justamente àqueles que não podem pagar e dependem exclusivamente do atendimento do SUS.

Que força misteriosa é essa que impede que o Governo faça prevalecer esta lei? Acredito que é uma causa importante a ser abraçada por àqueles que querem governar o Brasil, que querem um País mais justo. Nada contra os planos ou a medicina de grupo, contra sim, o fato de que enquanto as empresas que comercializam a saúde enriquecem, nadam em dinheiro, prosperam, nosso povo, grande maioria dependente dos serviços públicos, tenha um serviço de péssima qualidade, sofrendo e morrendo à espera de um cirurgia ou até mesmo exames que possam significar diferenças entre a vida e a morte.

Saúde é um direito de todos e obrigação do Estado, se o serviço oferecido não é de qualidade, nada mais justo que as empresas explorem a incapacidade do serviço público em obedecer a determinação constitucional, o que não é justo, são que  usem o já deficiente atendimento do SUS para suprir o que não querem oferecer, tirando vagas em UTIs, cirurgias e exames sem pagar por isso. As doenças, os acidentes, a dependência química, acometem ricos e pobres, que cada um tenha um atendimento justo e competente e que os proprietários dos planos privados paguem pelo tratamento que não são capazes ou não querem oferecer.

O Brasil precisa e pode ser muito mais justo com o seu povo, basta ter vontade política, obrigar o ressarcimento de clientes de planos privados ao atendimento prestado pelo serviço público é um belo começo, fica aqui a minha contribuição àquele que espero seja o novo Presidente de nosso País. O que vemos até aqui é que enquanto uns comem carne de primeira, a grande maioria nem têm carne pra comer.

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