O Espírito Santo que o governador Renato Casagrande está recebendo é um Estado muito melhor que o recebido por Paulo Hartung em 2003, mas nem por isso menos desafiador. O Espírito Santo está mais bem estruturado, com as finanças saneadas, vivendo um ambiente de estabilidade política ímpar na sua história. Mas ainda vive o crônico desconforto de ser um dos Estados que menos recursos recebe do governo federal e de sistematicamente ficar à margem dos grandes programas de desenvolvimento nacionais.
Não é à toa que temos gargalos significativos de infraestrutura como um aeroporto caótico, portos operando no limite e rodovias defasadas e recordistas em acidentes, situação que gera deseconomias e desvantagens competitivas importantes. Há ainda o agravante de termos no calendário de 2014 uma Copa do Mundo que vai drenar, nos próximos anos, os recursos federais para as obras nas cidades onde serão realizados os jogos. Ou seja, o dinheiro federal vai ficar ainda mais distante de nós.
Por isso, não devemos relaxar diante do anúncio de que estariam preservados os nossos royalties do petróleo das áreas já licitadas, pois isso ainda depende de muitas negociações. Esses royalties são essenciais para manter as nossas perspectivas de desenvolvimento, até para compensar tantos anos de descaso com que fomos, e continuamos sendo, tratados pela federação.
Mas este não é o único desafio a ser enfrentado por Casagrande. O Espírito Santo pós-crise mundial ainda se ressente da instabilidade dos mercados mundiais, já que sua economia é fortemente atrelada ao comércio exterior. É por isso que Paulo Hartung costuma dizer que quando o mundo vai bem o Espírito Santo vai melhor que o Brasil, mas se o mundo vai mal, a economia capixaba sofre mais que a do país. Em outras palavras: enquanto o mundo não retornar a uma trajetória virtuosa de crescimento, a economia capixaba não reencontrará o seu melhor desempenho. Sem falar que a valorização do real perante o dólar reduz a competitividade dos nossos produtos e nos insere na tão falada rota de desindustrialização.
Há ainda a ser considerado o cenário brasileiro que mantém um sistema tributário oneroso e injusto, juros pornográficos e uma preocupante tendência de desequilíbrio fiscal fruto do aumento das despesas do governo federal. Se essa combinação de fatores consolidar a trajetória de crescimento da inflação, Dilma Rousseff terá que pisar no freio e desacelerar a economia interna.
Todas essas circunstâncias aconselham a Casagrande a ter cautela nos gastos, priorizando a conclusão das obras já iniciadas e lutando para não perdermos os royalties do petróleo. E, além disso, a tentar arrancar do governo federal os recursos previstos na proposta orçamentária de 2011 (R$ 685 milhões) que, além de poucos (só são maiores que os do Acre e Amapá), costumam ficar no discurso, como ocorreu neste ano, em que só recebemos 10,71% dos R$ 673 milhões antes aprovados.
Casagrande sabe que o Espírito Santo, neste início de década, vive um momento inteiramente diferente do que vivia há dez anos. Demonstra isso o otimismo com que o capixaba hoje encara o futuro. O maior desafio que se coloca diante de Casagrande é, assim, o de manter elevada a autoestima do capixaba.
Que Deus o ilumine a encontrar o melhor caminho para alcançar esta meta.
Jose Carlos Corrêa.
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