Ninguém sabia ao certo de onde veio, cabelos grisalhos, face arredondada, vermelha, bigode mal aparado, baixo, obeso, pés chatos com dois imensos joanetes, esse era o Moisés pé do diabo. Falante, simpático, alugou um pequeno quarto nos fundos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, fazia pequenos mandados e tornou-se rapidamente uma figura popular na cidade.
Ateu, não bebia, não fumava, mas tinha na música sua grande paixão, só que por mais que se insistisse, não tinha jeito, só sabia cantar “Lá vem a noiva...”Adotou a cidade e todos o adotaram.
No dia de Santo Antonio em junho era a festa da cidade e, um dos pontos altos das festividades o show de calouros , de tanto insistirem o Moisés se inscreveu, o que despertou grande curiosidade em todos nós.
Dia do show, lá fomos nós assistir e torcer pelo nosso amigo cantor de uma música só. Após vários candidatos, o locutor empolgado anunciou: - E agora, estreando em nosso show, temos a satisfação de anunciar a grande novidade da noite, com vocês “MOISÉS PÉ DO DIABO. Aplausos e expectativa na platéia. Entrou, ainda tímido, calça jeans desbotada, paletó acinzentado por cima de uma camisa amarela, gravata azul e sandálias de dedo, já que seus joanetes o impediam de calçar sapatos. Moisés era a figura mais excêntrica que a cidade vira;
-Vai cantar o que? Provocou o apresentador,
-Lá vem a noiva, respondeu para delírio da platéia.
Cantou, sua face irradiava felicidade que logo se transformou em profunda tristeza ao não se ver classificado entre os cinco melhores calouros.
A partir daí, todos os anos a cena se repetia, mesmo show, mesma música, esperança e decepção, passava dias deprimido, tinha naquela obsessão um propósito de vida, por mais que não entendêssemos , vai lá saber as razões da alma?
Foi então que aconteceu uma tremenda confusão, resolvemos dar uma forcinha pro Moisés no próximo show de calouros. Dr. João, advogado, foi chamado para presidir o júri, os outros jurados eram todos amigos e cúmplices do plano, com exceção do Tonico, encrenqueiro, metido a conhecedor de música, politicamente corretíssimo, ou seja, um chato. A idéia era fazer do Moisés o grande campeão e tivesse a sua noite de glória. Lá estavam os mesmos calouros de sempre, entre eles o nosso amigo, todos em busca do cobiçado prêmio, um pequeno troféu de latão com a inscrição “Campeão do show de calouros de 1985”
Tudo correu exatamente igual aos outros anos, a diferença foi no resultado, o locutor foi anunciando os classificados, 5º lugar, 4º lugar, Moisés nervoso, suava ansioso, e veio a grande noticia;
-Em primeiro lugar, com nota máxima, 10 de todos os jurados, Moisés pé do diabo.
Delírio total, vaias , aplausos, nosso campeão pulava de alegria numa felicidade total, foi quando o Tonico pegou o microfone e gritou;
-Parem, parem tudo, tem alguma coisa errada, como pode ter nota máxima se a minha foi zero!!!
Confusão total, protestos, desentendimentos, disse me disse, dissolveram o júri e resolveram tomar o prêmio do Moisés, só que aproveitando a confusão, ele tinha se mandado, ninguém tiraria dele o sonhado troféu.
Nunca mais Dr. João e seus jurados foram chamados para o show de calouros, quanto ao nosso amigo, ficou feliz por muito tempo e um dia, assim como chegou, desapareceu e nunca mais ouvimos falar de Moisés pé do diabo.
Quatro a cinco anos depois recebo uma carta com carimbo de Itabuna na Bahia e sem remetente no envelope. Transcrevo para vocês:
Prezado Dr. Marco
Espero que o Senhor esteja bem e com saúde, lembrei de te escrever para agradecer o carinho que sempre teve com a minha pessoa, desculpe se saí sem me despedir, é o meu jeito, detesto despedidas.
O motivo desta é para matar uma curiosidade que o Senhor sempre teve e nunca lhe contei. Sabe meu caro doutor, eu sou torneiro mecânico, tinha uma bom emprego, ia casar, fui abandonado pela minha noiva às vésperas do meu casamento, fiquei tão traumatizado que abandonei tudo e saí por aí, cidade em cidade, levando a vida, e a música que resume a minha vida é a que canto insistentemente, como se fosse um consolo para a minha alma, jamais casei, jamais voltei a amar alguém, encontro a paz fazendo amigos por onde passo, hoje estou em Itabuna, amanhã só Deus sabe.
Obrigado por tudo e dê um grande abraço nos meus amigos,
Moisés.
Ateu, não bebia, não fumava, mas tinha na música sua grande paixão, só que por mais que se insistisse, não tinha jeito, só sabia cantar “Lá vem a noiva...”Adotou a cidade e todos o adotaram.
No dia de Santo Antonio em junho era a festa da cidade e, um dos pontos altos das festividades o show de calouros , de tanto insistirem o Moisés se inscreveu, o que despertou grande curiosidade em todos nós.
Dia do show, lá fomos nós assistir e torcer pelo nosso amigo cantor de uma música só. Após vários candidatos, o locutor empolgado anunciou: - E agora, estreando em nosso show, temos a satisfação de anunciar a grande novidade da noite, com vocês “MOISÉS PÉ DO DIABO. Aplausos e expectativa na platéia. Entrou, ainda tímido, calça jeans desbotada, paletó acinzentado por cima de uma camisa amarela, gravata azul e sandálias de dedo, já que seus joanetes o impediam de calçar sapatos. Moisés era a figura mais excêntrica que a cidade vira;
-Vai cantar o que? Provocou o apresentador,
-Lá vem a noiva, respondeu para delírio da platéia.
Cantou, sua face irradiava felicidade que logo se transformou em profunda tristeza ao não se ver classificado entre os cinco melhores calouros.
A partir daí, todos os anos a cena se repetia, mesmo show, mesma música, esperança e decepção, passava dias deprimido, tinha naquela obsessão um propósito de vida, por mais que não entendêssemos , vai lá saber as razões da alma?
Foi então que aconteceu uma tremenda confusão, resolvemos dar uma forcinha pro Moisés no próximo show de calouros. Dr. João, advogado, foi chamado para presidir o júri, os outros jurados eram todos amigos e cúmplices do plano, com exceção do Tonico, encrenqueiro, metido a conhecedor de música, politicamente corretíssimo, ou seja, um chato. A idéia era fazer do Moisés o grande campeão e tivesse a sua noite de glória. Lá estavam os mesmos calouros de sempre, entre eles o nosso amigo, todos em busca do cobiçado prêmio, um pequeno troféu de latão com a inscrição “Campeão do show de calouros de 1985”
Tudo correu exatamente igual aos outros anos, a diferença foi no resultado, o locutor foi anunciando os classificados, 5º lugar, 4º lugar, Moisés nervoso, suava ansioso, e veio a grande noticia;
-Em primeiro lugar, com nota máxima, 10 de todos os jurados, Moisés pé do diabo.
Delírio total, vaias , aplausos, nosso campeão pulava de alegria numa felicidade total, foi quando o Tonico pegou o microfone e gritou;
-Parem, parem tudo, tem alguma coisa errada, como pode ter nota máxima se a minha foi zero!!!
Confusão total, protestos, desentendimentos, disse me disse, dissolveram o júri e resolveram tomar o prêmio do Moisés, só que aproveitando a confusão, ele tinha se mandado, ninguém tiraria dele o sonhado troféu.
Nunca mais Dr. João e seus jurados foram chamados para o show de calouros, quanto ao nosso amigo, ficou feliz por muito tempo e um dia, assim como chegou, desapareceu e nunca mais ouvimos falar de Moisés pé do diabo.
Quatro a cinco anos depois recebo uma carta com carimbo de Itabuna na Bahia e sem remetente no envelope. Transcrevo para vocês:
Prezado Dr. Marco
Espero que o Senhor esteja bem e com saúde, lembrei de te escrever para agradecer o carinho que sempre teve com a minha pessoa, desculpe se saí sem me despedir, é o meu jeito, detesto despedidas.
O motivo desta é para matar uma curiosidade que o Senhor sempre teve e nunca lhe contei. Sabe meu caro doutor, eu sou torneiro mecânico, tinha uma bom emprego, ia casar, fui abandonado pela minha noiva às vésperas do meu casamento, fiquei tão traumatizado que abandonei tudo e saí por aí, cidade em cidade, levando a vida, e a música que resume a minha vida é a que canto insistentemente, como se fosse um consolo para a minha alma, jamais casei, jamais voltei a amar alguém, encontro a paz fazendo amigos por onde passo, hoje estou em Itabuna, amanhã só Deus sabe.
Obrigado por tudo e dê um grande abraço nos meus amigos,
Moisés.
Adorei o novo causo... Fiquei a pensar em tantas coisinhas que a vida ensina... Uma delas é que realizar um sonho às vezes é tão simples e tão fácil.....
ResponderExcluirQuerido, sempre gostoso deliciar com suas boas histórias... Só não pode demorar, pelo menos uma por semana... Deve ter causos" hilários...
Ótimo final de semana!