sexta-feira, 22 de abril de 2011

BRINCANDO COM A INFLAÇÃO?

A inflação avança no bolso dos brasileiros, cada vez mais ameaçadora, enquanto o Banco Central (BC) e o Ministério da Fazenda agem de forma ambígua, sem deixar claro se há em Brasília uma preocupação efetiva com a alta de preços e uma firme disposição de contê-la. Administrar expectativas é parte importante da política econômica e, de modo especial, da política monetária. As autoridades têm falhado na execução dessa tarefa. Ao elevar de 11,75% para 12% ao ano a taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu o ritmo de aumento. O acréscimo havia sido de 0,5 ponto porcentual em cada um dos dois ajustes anteriores. O aperto continua, segundo nota do Comitê, e continuará "por um período suficientemente prolongado" para levar a inflação ao centro da meta em 2012. Mas por que aumentar os juros mais devagar, quando as pressões inflacionárias se mantêm fortes, sem sinais de arrefecimento?


Talvez o Copom responda a essa pergunta na quinta-feira, quando sair a ata de sua última reunião. Por enquanto, permanece a dúvida quanto ao rumo da política anti-inflacionária. As autoridades podem estar ainda à espera dos efeitos do ajuste iniciado em 2010. Já houve aumento de 3,25 pontos na taxa básica de juros. Além disso, foram tomadas medidas para contenção do crédito. Mas os prazos do crediário permanecem longos - um dado essencial para o consumidor. Quanto tempo mais será preciso esperar? O crédito continua em rápida expansão, informa o BC. O Índice de Confiança do Consumidor permanece praticamente estável em abril, na Região Metropolitana de São Paulo, segundo a Federação do Comércio. Numa escala de zero a 200 pontos, o indicador ficou em 158,4, apenas 0,1% abaixo do nível do mês anterior e 4,1% acima do registrado em abril do ano passado.

Com pequenas oscilações de ânimo, o brasileiro continua confiante e disposto a gastar. O otimismo é um fator precioso, especialmente se as pessoas acreditam em segurança econômica duradoura. Mas a confiança desaparece, inevitavelmente, quando a inflação se acelera e começa a corroer rapidamente o poder de compra das famílias.

Quando a insegurança se espalha, a luta pela preservação da renda se generaliza e o combate à inflação se torna mais árduo e politicamente muito mais difícil. As autoridades brasileiras têm idade suficiente para ter vivido essa experiência. Não deveriam negligenciar a lição.

Medidas para desaquecer a economia ainda não produziram efeito sensível. Há sinais de alguma desaceleração setorial, mas a demanda permanece muito forte. O Ministério do Trabalho registrou menor criação de empregos com carteira assinada em março, mas a tendência ainda é claramente positiva. Quanto ao IBGE, apontou desemprego estável em março - 6,5%, a menor taxa desde o início da série, em 2002 - e elevação mensal de 0,5% no rendimento real. Em 12 meses, o rendimento real médio habitual cresceu 3,8%. A massa de rendimentos expandiu-se 0,8% no mês e 6,7% em 12 meses.

Nessas condições de emprego, renda e crédito, seria muito estranho se a inflação resultasse apenas do encarecimento das matérias-primas, como petróleo e alimentos, no mercado internacional. Esse fator é importante e não há sinal de arrefecimento nos preços globais, Mas a alta geral dos preços é explicável apenas quando se leva em conta a demanda interna. Esse ponto foi confirmado mais uma vez com a divulgação do IPCA-15 (calculado entre o meio de um mês e o meio de outro), na quarta-feira. As principais causas de elevação do índice - de 0,60% em março para 0,77% em abril - foram os aumentos de custos de transportes e de alimentos, mas as variações de preços foram observadas em 62,76% dos itens pesquisados. Esse índice havia ficado em 58,59% no mês anterior.

Há, portanto, uma tendência generalizada de aumento de preços. Além disso, a inflação avança claramente para romper o teto da meta, de 6,5%. Em 12 meses chegou a 6,44%. Projetada para 12 meses à frente, a taxa de 0,77% corresponde a 9,64%. A inflação só chegará ao centro da meta em 2012 se houver uma forte desaceleração. Será isso possível, se o BC agir com leveza e o gasto do governo continuar a crescer como está crescendo até agora?

Fonte: O Estadão - http://bit.ly/eIPUwd

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