sexta-feira, 22 de abril de 2011

EFEITO DUVIDOSO.

Ninguém duvida de que os juros são a principal ferramenta do Banco Central, quando ele resolve desaquecer a economia. É um clássico remédio anti-inflacionário. Mas até que ponto funciona? Essa é a discussão que renasce, provocada pelo novo aumento da Selic que chega a 12% ao ano. É maior taxa desde março de 2009, quando cravava em 12,75%. Ou seja, estamos pegando parelha com o passado. O argumento é evitar um cenário muito mais triste, também do passado: o de inflação alta.


Com a Selic a 12%, os juros reais atingem 6,2% ao ano. Nem é necessário repetir que são os maiores do planeta. Quase três vezes maiores do que a taxa de 2,2% praticada na Turquia, a segunda do ranking. Em terceiro lugar está a Austrália, com 2%. E daí? Essa é uma liderança no mínimo incômoda para o Brasil. O preço é a atrofia do crescimento econômico. As expectativas sobre o PIB em 2011 vão definhando, e a inflação, alvo dos juros, continua firme. O INPC, termômetro usado pelo governo para definir a meta inflacionária de cada ano, subiu 6,3% nos últimos 12 meses. Enquanto isso, a Confederação Nacional da Indústria reduziu de 4,5% para 3,5% a previsão de crescimento do PIB em 2011. E elevou de 5% para 6% a expectativa para a inflação neste ano. Ainda segundo a CNI, o PIB industrial deve aumentar 2,8% em 2011. A previsão divulgada em dezembro último era de 4%.

Então, sobram preocupação, insatisfação e críticas à política monetária em curso. Reclama-se de pouco esforço fiscal para ajudar a política monetária no combate à inflação. O corte de R$ 50,1 bilhões ao longo do ano, em despesas previstas no Orçamento, é muito pouco para remediar a gastança de 2010. A esse respeito o Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) emitiu uma nota com alto teor de acidez. O texto assinala que "o novo aumento da taxa básica de juros expõe a carência de uma política fiscal que contribua para conter a inflação e a persistente apreciação cambial. Em um cenário que combina elevada liquidez internacional com expressivos diferenciais de juros e crescimento econômico, a redução dos gastos públicos é o único remédio para esses males. No entanto, o comportamento das contas públicas é desanimador. A opção de arrefecer os aumentos dos preços exclusivamente através da política monetária, além de limitar a geração de empregos, comprometer o crescimento econômico e privilegiar as importações, dificilmente será exitosa."

Como um comentário puxa outro, vale registrar a análise da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Para essa entidade, o aumento da taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual (de 11,75% para 12%), terá pouco impacto nos juros das operações de crédito.

De acordo com as simulações feitas pela Anefac, a taxa média das operações para os consumidores, hoje em 6,78% ao mês, deve aumentar apenas 0,02 ponto percentual, chegando a 6,80%. Já entre as taxas para as pessoas físicas, os juros do cartão de crédito devem subir de 10,69% ao mês para 10,71%. De fato, não é um avanço que assusta o consumidor determinado a comprar. Mas não se deve duvidar de novas medidas, talvez no campo dos impostos, visando a retrair as compras a prazo.

Fonte: A Gazeta - Angelo Passos

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