sábado, 10 de setembro de 2011

DECISÃO SOB SUSPEITA

 O Banco Central tomou uma das mais decisões mais controversas dos últimos anos: o corte da Selic em 0,5 ponto percentual em momento de grande incerteza econômica. O fato levantou suspeita de interferência da presidente Dilma, que no dia anterior à reunião do Comitê de Política Monetária defendeu a redução imediata dos juros.

Ata da reunião do Copom que decidiu diminuir os juros não elimina dúvida sobre possível ingerência política. O texto aponta quatro motivos para o recuo da taxa básica: defender a economia brasileira do impacto da crise internacional (discurso afinado com o do Palácio do Planalto); a política de corte de gastos do governo (que ajuda a combater a inflação); as chamadas medidas macroprudenciais do BC para desestimular empréstimos e conter a expansão do crédito; e a expectativa de queda dos preços no quarto trimestre do ano.

As alegações não deveriam ser outras, mas não parecem sólidas. A inflação é inquietante. O mercado financeiro estima que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingirá 6,38% neste ano. Para 2012, o patamar previsto é de 5,32%, conforme pesquisa do próprio Banco Central publicada no boletim Focus. Por isso e por outras razões, a redução da Selic de 12,5% para 12% ao ano surpreendeu o setor financeiro. Principalmente pela magnitude do corte.

Outro fato também chamou a atenção. Por coincidência ou não, na véspera da queda da Selic o Ministério da Fazenda anunciou aumento de R$ 10 bilhões no superávit primário - a economia do governo para pagar juros da dívida pública. O entrosamento das políticas fiscal e monetária é sempre desejável, mas desde que fundamentado apenas em variáveis técnicas.

Juros menores fazem bem à competitividade das empresas e ajudam o crescimento da economia. Mas seria lastimável se o afrouxamento da política monetária comprometesse a credibilidade do Banco Central. Essa condição representa um tesouro inegociável.

Fonte: A Gazeta

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