sexta-feira, 2 de setembro de 2011

ESPERA NA SAÚDE: DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS

José Adolfo Amaral, 40, funcionário público, entrevistado sobre a demora no atendimento dos pronto atendimentos de saúde - Editoria: Cidades - Foto: Gabriel Lordêllo

Cansado de aguardar na rede pública, José Adolfo pagou por exame e por medicamentos

O pescador José Luís Batalha de Oliveira, 50 anos, espera há mais de quatro anos por uma cirurgia na coluna para corrigir seis hérnias de disco. Assim como ele, milhares de pessoas aguardam meses, até anos, por consultas, exames e cirurgias na rede pública de saúde do país. O tratamento é diferente para as pessoas que têm plano de saúde: essas são protegidas por uma resolução da Agência Nacional de Saúde (ANS), que começou a valer em março deste ano e exige atendimento num prazo máximo de duas semanas.

Para tentar acabar com essa diferença de atendimento, o defensor público substituto de Baixo Guandu, Vladimir Polízio Júnior, entrou com uma ação na Justiça, exigindo que a resolução da ANS também seja aplicada aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A ação pede, ainda, que rede pública forneça todos os remédios necessários àqueles que não têm condições de comprá-los.

"Apesar de a Constituição Federal garantir a todos o direito à saude, muitos têm que recorrer à Justiça para assegurar seus direitos. É preciso que haja isonomia - igualdade - entre os pacientes de planos de saúde e do SUS", frisa Polízio Júnior.

Nos planos de saúde, de acordo com a ANS, a espera máxima por consultas de clínica médica, pediatria, ginecologia, obstetrícia e cirurgia geral é de sete dias úteis. Para outras especialidades, o limite é 14 dias.

Na rede pública, a espera é bem maior. Em Cariacica, por exemplo, uma criança chega a aguardar até três anos por uma consulta com neuropediatra, segundo o sindicato dos médicos.


foto: Gabriel Lordêllo
Zelina Martins, 43, comerciante, entrevistada sobre a demora no atendimento dos pronto atendimentos de saúde - Editoria: Cidades - Foto: Gabriel Lordêllo
Fila por cirurgia: "Continuo sofrendo"José Luís de Oliveira 50 anos, pescador
Minha espera já superou quatro anos. Estou na fila por uma cirurgia na coluna para corrigir seis hérnias de disco. Tentei agendar várias vezes, mas nunca consigo. Enquanto aguardo, sofro com as fortes dores e não consigo trabalhar. Como não tenho condições de pagar um plano de saúde, continuo sofrendo.

Do próprio bolso
Muitos dos pacientes da rede pública pagam do próprio bolso pelo procedimento, como o funcionário público José Adolfo Amaral, 40. "Fui atendido pelo médico, mas tive que pagar R$ 65,00 por uma ultrassonografia e comprar os remédios", conta.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) não comentou a ação da Defensoria Pública. Apenas limitou-se a dizer que disponibiliza, mensalmente, por meio de sistema on-line, uma cota de consultas por cidade.

A secretaria disse, ainda, que os atendimentos são agendados e priorizados pelos municípios. E acrescenta que o sistema on-line para marcação de exames está em fase de implantação.

Diferença
3 anos na rede pública
: Esse é o prazo por consulta com um neuropediatra, segundo médicos.
14 dias na rede particular:
É o prazo máximo para consulta com especialista, segundo a ANS.

Médicos: questão se deve à falta de estrutura

Médicos especialistas afirmam: as maiores filas de espera por consultas na rede pública são para neurologia, cardiologia, ortopedia, dermatologia e oftalmologia. Já a lista dos exames mais demorados inclui endoscopia, colonoscopia, tomografia, ressonância e ultrassonografia.

O diretor do Conselho Regional de Medicina (CRM/ES), Adenilton Pedro Cruzeiro, diz que a demora é resultado da falta de estrutura. "Muitos médicos não aceitam os baixos salários oferecidos pelo SUS. Também faltam equipamentos", frisa.

Para o vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Estado, Luiz Carlos Baltazar, a longa espera é inadmissível. "O poder público não consegue suprir a demanda. E pacientes morrem à espera de exames."

Rosana Figueiredo - A Gazeta

"O paciente do SUS é tratado como cidadão de 2ª classe. Muitos apelam à Justiça para ter atendimento", Vladimir Polízio, defensor público

foto: Gabriel Lordêllo
José Luis Batalha de Oliveira, 50, pescador, entrevistado sobre a demora no atendimento dos pronto atendimentos de saúde - Editoria: Cidades - Foto: Gabriel Lordêllo
Busca por exame: "Falta respeito"Zelina Martins 43 anos, comerciante

Estou esperando há mais de dois anos por uma endoscopia. Sempre que tento marcar, a funcionária da unidade de saúde diz que não tem previsão. Alega que a prioridade é para casos graves. Isso é um absurdo. Pago impostos e tenho direito a um atendimento digno. Hoje, falta respeito com os pacientes.
 
 

Um comentário:

  1. DR.Boa noite,esse post arrazou!!que bom se pudessemos ver isso todo dia,com pacientes dizendo a quanto tempo esperam pelo direito de ter um atendimento de saúde digno.Só assim esse governo de corrupção maligna teria vergonha na fuça.fico triste pelos pacientes,não queria vê-los assim,só quero que esses corruptos tenham uma over dose de vergonha e façam alguma coisa.

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