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sábado, 9 de novembro de 2013

APAVORANTES

Apavorantes estatísticas comparativas
Quem não se lembra do filme "Apocalypse Now", um clássico dirigido por Francis Ford Coppola retratando os horrores da Guerra do Vietnã? Eram cenas chocantes mostrando helicópteros sendo derrubados a tiros de metralhadora e pessoas morrendo como moscas.
- Naquela guerra o exército norte-americano lutou ferozmente durante dez longos anos, perdendo 58.198 soldados.
Enquanto isso, só no ano de 2003, o "pacífico Brasil", que não estava em guerra, perdeu 51.043 filhos assassinados pelas suas ruas.
- Há também a Segunda Guerra Mundial, reputada o maior conflito da história. O exército norte-americano lutou praticamente no mundo inteiro – desde os campos da Europa até o Oceano Pacífico. Enfrentou desde os tanques de guerra nazistas até os kamikazes japoneses. Nesta guerra, que durou uns cinco anos, os Estados Unidos perderam 291.557 soldados em combate.
Enquanto isso, entre 2002 e 2006, 243.232 brasileiros morreram assassinados em "nossas cidades, que vivem em paz."
- E que dizermos da Primeira Guerra Mundial? Em uns quatro anos de conflito encarniçado pelas trincheiras da Europa, 53.402 soldados norte-americanos foram mortos em combate.
Enquanto isso, só no ano de 2005, a população brasileira assistiu 47.578 homicídios, algo espantoso para "um país que vive em paz" !!
- Diante destes dados resolvi fazer umas contas. Verifiquei quantos soldados norte-americanos morreram em combate na Guerra do México, Guerra Hispano-Americana, I Guerra Mundial, II Guerra Mundial, Guerra da Coréia, Guerra do Vietnã, Guerra do Golfo, Guerra do Iraque e Guerra do Afeganistão. Cheguei a 666.056 baixas ao término de uns 34 anos de batalhas terríveis.
Enquanto isso, em apenas 16 anos ( 1990 a 2006), 697.668 civis brasileiros morreram a tiros, facadas ou pauladas pelas "ruas deste tranquilo país."
Já horrorizado diante destes números, fiz mais alguns cálculos e constatei algo assustador: o Exército dos Estados Unidos em guerra perde uma média de 53,67 soldados por dia.
Já o Brasil, usufruindo de "uma paz absoluta", perde 119,46 habitantes assassinados por dia – mais do que o dobro!
Talvez devêssemos nos alistar nas Forças Armadas dos EUA – lá deve ser mais seguro e menos violento!
Voltei às planilhas.
- Constatei que nos cerca de cinco anos da Segunda Guerra Mundial, a pior de todos os tempos, o número de soldados mortos em combate dos exércitos da Bélgica, Bulgária, Canadá, Tchecoslováquia, Dinamarca, Grécia, Holanda, Noruega, Austrália, Índia, Nova Zelândia e África do Sul somados foi de 166.914. Nós não precisamos de cinco anos de guerra para tanto – só entre 2000 e 2003 enterramos, "absolutamente em paz", 193.925 compatriotas! Durante aqueles cinco anos de guerra a França, invadida pelos nazistas, perdeu 201.568 soldados. A Itália, sob Mussolini, 149.496.
E o Brasil, durante "cinco anos de paz e sossego" ( 2001 a 2005), viu serem brutalmente assassinados 244.471 civis.
Fico a lembrar da imagem de um helicóptero da Polícia abatido a tiros em pleno Rio de Janeiro. Dentro daquela frase de Victor Hugo, segundo quem "as ilusões sustentam a alma como as asas a um pássaro", ficamos a defender o orgulho nacional dizendo ter sido aquele um episódio isolado. Sustentamos, com o peito inflado por um falso patriotismo, que normalmente este imenso país "vive em paz".
Em paz? Só se for aquela famosa "paz dos cemitérios".
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do TJ-ES

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

KAYO, 8 ANOS, APENAS UMA VIDA QUE SE PERDEU

Cenas de um Brasil surreal de nossos dias, um grupo de bandidos tenta resgatar comparsas em um Fórum no Rio de Janeiro, ocorre um tiroteio e um policial é morto e um pobre garoto, jogador do Bangu e torcedor do Vasco da Gama é atingido por uma bala perdida na cabeça e morre. A imprensa noticia, nós ficamos indignados, a avó que acom nadas pela perda do único filho. O que acontece? Nada, é apenas mais uma vida que se perde, dentro de poucos dias cai no nosso esquecimento e deixa de ser noticia na mídia, para as autoridades apenas um número na estátistica, mas para os pais, uma dor insuportável que os acompanhará para o resto de suas vidas.
Que País é esse onde o Estado não consegue sequer dar um mínimo de segurança ao seu povo, onde sair de casa é uma aventura perigosa, uma incerteza da volta aos seus? 
A corrupção da polícia, a omissão dos governantes, a impotência da população, o descaso, a falta de respeito à vida é o cotidiano  de nosso tempo. Falta uma política séria de segurança, falta investimento em salários e condições dignas para que tenhamos uma policia confiável e que proteja a população efetivamente, quem sabe assim, o Kayo de apenas 8 anos ainda estivesse entre nós, agora ele é apenas uma vida que se perdeu, simples assim.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O TAL DO DIREITO ( DES ) HUMANOS

Ele rouba, mata, estupra. Se for menor de idade, a liberdade lhe é assegurada. Se for maior, corre o risco de ser condenado e, se o for, jamais cumprirá a pena máxima.
Ele rouba o dinheiro dos impostos, rouba quando superfatura, rouba quando suborna. Mata os sonhos de uma sociedade inteira, rouba os direitos de toda uma população. Estupra as mentes dos cidadãos. Assassina perspectivas de vidas melhores. É maior, é apenas mais um integrante da quadrilha. Se condenado, o máximo que lhe será imputado é o direito de rir do povo e, caso não queira sair de cena, lhe serão dadas todas as possibilidades de continuar fazendo do poder público, o seu picadeiro e, da sociedade, a sua plateia.
Se estiver atrás das grades, todo cuidado é pouco. É necessário preservar sua vida, oferecer-lhe boa alimentação, ambiente saudável e higiênico, atendimento médico. E, óbvio, sua família receberá auxílio financeiro, por direito legal.
Por que os direitos do assaltado, do morto e do estuprado são diferentes?
O que as vítimas fizeram de tão grave para não terem seus Direitos Humanos preservados? Nasceram? Estudaram? Trabalharam?
As imagens que vejo dos vândalos saqueando lojas, bancos e atirando pedras ou bombas são exatamente as mesmas que ilustram a cena de um suborno, de um roubo do patrimônio público, de um bando de corruptos justificando o injustificável da falta de segurança, saúde e educação. Não há diferença alguma!
Depredar lojas? Saquear comércio e bancos? Roubar? Matar? Impedir que a população se eduque? Proibir atendimento à saúde? Facilitar a bandidagem? Tudo isso é crime!!! E quem é penalizado é exatamente o inocente, porque os bandidos e safados estão soltos, protegidos por uma lei descabida.
Então o marginal saqueia, destrói o trabalho honesto dos outros e o máximo que se pode fazer é tentar acuá-lo com bomba de efeito moral? Ora, pelo amor de Deus, onde estão os Poderes desse país? Bandido que comanda bandido produz esse retrato de guerra no qual o país de transformou.
Existe ex-guerrilheiro? A única coisa permanente na vida de uma pessoa é ex. Ex é para sempre. Ex-marido, ex-mulher, ex-funcionário… ex será ex eternamente.
Então é isso. Cada um que tire suas próprias conclusões. Claro que devidamente protegidos pelos Direitos Humanos.
Lígia Fleury - Ucho.Info

domingo, 21 de julho de 2013

VIRUS, TIROS, TORTURA

 Um milhão e meio de pessoas foram às ruas pedindo saúde, educação e dignidade. Associações médicas rompem com o governo por causa das novas regras para a profissão. Dilma rumina a queda nas pesquisas, o crescimento pífio do país, a birra do PT e as ameaças do PMDB. Enquanto isso...

Perto de 75 mil (75 mil!) pessoas contraíram um vírus e tiveram diarreia em Alagoas, com quase 50 (50!) mortos. O principal suspeito é a água usada para cozinhar, tomar banho, escovar os dentes. Atenção: Alagoas é Brasil, e o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo.

Um tiroteio entre policiais e traficantes matou dez pessoas, inclusive um sargento do Bope e dois cidadãos que não tinham antecedentes criminais: um garçom de 35 anos e um engraxate de 16. Atenção: quem mora no Complexo da Maré também é brasileiro, e o brasileiro é um forte, tem direito à vida.

Quatro funcionários de um parque de diversões, entre 22 e 25 anos, foram presos e confessaram o assassinato de uma moça no Paraná, até que um mero exame de DNA mostrou que nenhum deles fizera sexo com a vítima. Soltos, eles disseram que foram espancados, empalados, eletrocutados e asfixiados com sacos plásticos, mesmo após a "confissão". Exames comprovam os maus-tratos. Atenção: bate, depois investiga? Tortura nunca mais!

Vândalos infiltrados entre manifestantes que fazem vigília diante do apartamento do governador do Rio quebram e arrebentam lojas, bancos, prédios, bancas de jornais e tudo o que veem à volta, enquanto a polícia, aturdida, balança entre fazer o que tem de ser feito e simplesmente cruzar os braços para não ser acusada de violência. Atenção: isso é "democratice", não democracia.

No Brasil das eleições, discutem-se constituinte exclusiva, plebiscito, recesso, corte de ministérios e se o melhor aliado é o PMDB ou o PSB. No Brasil real, o pau está quebrando.
Ah! E o papa vem aí.

Eliane Castanhêde

sexta-feira, 19 de julho de 2013

EXTERMÍNIO JUVENIL

A mais recente edição do Mapa da Violência traz uma constatação perturbadora: o ES é o segundo Estado do país onde mais se mata jovens


Os jovens do Espírito Santo estão sendo exterminados. A constatação é do Mapa da Violência 2013 - "Homicídio e Juventude no Brasil", publicado esta semana. Os números do estudo apontam que o Estado é o segundo do país onde mais se mata jovens. Os índices são alarmantes: 115 homicídios/100 mil jovens, na faixa etária etária entre 15 e 24 anos. Como no ranking geral de homicídios, o Estado fica apenas atrás de Alagoas. 
 
Para se ter uma ideia da gravidade do índices, a taxa capixaba é maior que a de El Salvador - país que ostenta a liderança absoluta entre os mais violentos do mundo nessa faixa etária.
 
Mas não é preciso ir tão longe para dimensionar os índices do Estado. Em São Paulo, por exemplo, a taxa em 2011, ano do estudo, foi de 20/100 mil, ou seja, quase seis vezes menor do que a taxa capixaba. 
 
Os municípios da Grande Vitória concentram os maiores índices do Estado. Serra aparece no levantamento como o mais violento município do Estado e o décimo mais letal do país. São 244 assassinatos para cada grupo de 100 mil jovens. Comparada à média nacional (53/100 mil), a taxa de Serra é quase cinco vezes maior. Os outros municípios da região metropolitana registram taxas acima da média do Estado, que é de 115/100 mil
 
Quando o estudo analisa o assassinato de mulheres, nesta mesma faixa etária, os dados do Espírito Santo são ainda mais alarmantes. Com 21 homicídios/100 mil, o Estado lidera o ranking. Para se ter uma ideia da gravidade dos dados, o índice é quase o dobro do segundo colocado, Alagoas, que registrou 13/100 mil.
 
Mais impressionante ainda são as taxas entre o jovens negros - grupo mais vulnerável à violência. O Mapa da Violência aponta 144 assassinatos/100 mil na faixa etária entre 15 e 24 anos. No mesmo segmento etário, quando são analisados os dados dos brancos, esse índice cai para 37/100 mil.
 
O estudo traça também a evolução dos homicídios juvenis de 2001 a 2011. Os números da série histórica deixam evidente que as políticas públicas empregados no Estado foram nulas ou insuficiente para transformar essa realidade. Esse curva fica mais acentuada durante o governo de Paulo Hartung (2003 - 2010), que fez parcos investimentos na área social e efetivamente não se preocupou em atacar o problema. 
 
O ano recortado no atual estudo, 2011 - primeiro ano do governo Casagrande -, revela que o socialista, que se propôs a fazer um governo de continuidade ao de Hartung, paga a conta da omissão do seu antecessor. Isso explica porque o governo do PSB está tendo tanta dificuldade para reduzir as taxas gerais de homicídios, que se tronam mais evidente justamente entre os mais jovens, os principais autores e ao mesmo tempo vítimas da violência.
 
Para tirar o Estado dessa perturbadora situação, o governo teria que aumentar consideravelmente os investimentos em políticas públicas e empreender programas sociais que consigam dar respostas eficientes ao problema. 
 
Mas tudo isso leva tempo e custa dinheiro, muito dinheiro. Ainda mais considerando que ele teria que partir praticamente do zero. Recurso há, embora o governo prefira gastá-lo em outras áreas. Quanto ao tempo, a situação é mais complicada. Entrando do segundo semestre do seu penúltimo ano de mandato, Casagrande hoje já não teria tempo hábil para conceber e desenvolver programas que resgatem esses jovens, que estão sendo exterminados, de volta à sociedade.

Editorial do Século Diário

sábado, 1 de junho de 2013

FERIADO, SANGUE E JUSTIÇA

O feriado é apenas uma parte do ócio que se estende pelo ano, sobretudo no Legislativo                
                                    

Já disse Jô Soares: “No Brasil, feriado religioso até ateu comemora”. E se até os que “creem na falta de crença” agradecem a Deus pelo descanso, não seria diferente na política, terra distante da santidade. Por lá, os senhores glorificam como as notas do Real: “Deus seja louvado”.


O feriado é apenas uma parte do ócio que se estende pelo ano, sobretudo no Legislativo. O reflexo da negligência é uma sociedade que caminha a passos largos para a barbárie. Nesse rumo, quem não tem ponto facultativo é a violência. Em cinco dias, dois crimes bárbaros lembraram rankings que nem o marketing consegue esconder e revelaram que, se crescer é com a gente, assassinar friamente também é!

Em apenas 90 dias, 432 pessoas foram mortas no Espírito Santo. E somos destaque nacional: Serra é o município mais violento do país, com 97 assassinatos para cada 100 mil habitantes – só em 2012 somou 267 homicídios. Mas nada parece preocupar os vereadores serranos. Enquanto projetos de combate à violência estão na fila para votação, as excelências, simplesmente, não comparecem às sessões.

O serviço na Câmara é pesado: duas sessões por semana, com três horas cada. Para isso, os 23 representantes recebem o maior salário do Estado, R$ 9,2 mil por mês, ou seja, mais de R$ 380,00 por hora de “serviço”. Sem falar dos 15 assessores a R$ 3,5 mil cada. Mesmo assim, é comum não haver quórum para as votações. Mais da metade dos vereadores assina a presença e, minutos depois, vai embora. Saem por aí, gastando os 200 litros de combustível que recebem.

A terceira cidade mais violenta do Brasil também é nossa! Cariacica tem 91 assassinatos para cada 100 mil habitantes e, em 2012, somou 232 homicídios. Para enfrentar os problemas, a Câmara criou três vagas a mais em 2011, totalizando 19 vereadores. Porém, a única diferença percebida foi no orçamento: no ano passado, o salário subiu de R$ 4.740 para R$ 8 mil.

Mas justiça seja feita! Em Cariacica não há clima de feriado nas sessões. Na semana passada, os vereadores aprovaram mais de 20 projetos em um mesmo dia num surto de utilidade: a lei 22/2013, por exemplo, declarou de utilidade pública a Associação de Produtores Rurais e Trabalhadores da Ceasa. Já a 113/2013, declarou de utilidade pública a Congregação Redentorista do bairro Nova Rosa da Penha. Não menos importante, a lei 79/2013 fez o mesmo para a Associação Terapêutica Miguel Arcanjo. Medidas que mudarão o rumo do município! São, realmente, momentos de tensão para o crime organizado.

Já Vila Velha, mesmo sendo considerada a sétima cidade mais violenta do país, com 69 assassinatos para cada 100 mil habitantes e 177 homicídios em 2012, não priorizava o debate da segurança. Somente na última semana a Câmara criou uma comissão para o tema. Detalhe: dias após a população linchar, esfaquear, apedrejar e matar um caminhoneiro.

A realidade mostra que as principais mazelas da população passam distante da prioridade política. Somada a isso, a ineficiência policial gera números igualmente preocupantes: dos 267 homicídios da Serra, apenas 90 inquéritos foram concluídos. Em Cariacica, dos 232, apenas 80 chegaram ao fim. E em Vila Velha, foram apenas 87 dos 177. Nessa estrada, surge o caminho da barbárie: a justiça com as próprias mãos.

Cinco dias após a população assassinar o caminheiro do acidente em Vila Velha, moradores de Vargem Alta fizeram o mesmo com um estuprador que matou Kevilin, de 10 anos. Longe de justificar tais horrores, uma equação traça algumas explicações: o total descaso político, somado à cegueira judicial e à certeza da impunidade, faz-nos, após quase quatro mil anos, retornar à Lei de Talião, o famoso “Olho por olho, dente por dente”.

O fato é que a irresponsabilidade e o eterno feriado dos que deveriam conduzir o Estado criarão, cada vez mais, o sentimento expresso no velório de Kevilin. Lá, um cartaz trazia os dizeres: “Você é um anjo e vai para céu. Já fizemos justiça. Ele vai para o inferno, de onde nunca deveria ter saído”. E nós, para onde iremos?

Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes

quinta-feira, 30 de maio de 2013

DE VOLTA À BARBÁRIE

Editorial do Século Diário

Ausência do Estado, impunidade e cultura de violência estimulam a Lei de Talião: ''olho por olho, dente por dente''
Em menos de uma semana, o Espírito Santo registrou dois casos bárbaros de assassinatos cujos autores são populares revoltados que decidiram fazer justiça com as próprias mãos. 
 
No primeiro caso, ocorrido na última sexta-feira (24), um caminhoneiro atropelou uma criança de dois anos, que morreu na hora. Instantes após o atropelamento, familiares e moradores do bairro Morada da Barra, em Vila Velha, partiram para cima de João Querino de Paula, 51 anos. 
 
Sem chance de defesa, o caminhoneiro foi morto com mais de 15 facadas. Testemunhas e a própria polícia disseram que o caminhoneiro, aparentemente, não foi culpado pelo acidente. Um parente de João resumiu a tragédia: “Às vezes, essa justiça se torna injustiça”, lamentou.
 
Cinco dias após João ser morto, a cena de barbárie se repete. Em Vargem Alta, mais precisamente no distrito de Vila Maria, um homem conhecido como Gil, 24 anos, teria estuprado e em seguida assassinado Kevilin Souza, de apenas 10 anos, na noite dessa terça-feira (28).
 
O corpo, com sinais de violência sexual, foi encontrado por populares nos fundos da oficina onde Gil morava e trabalhava como funileiro. Mais de 100 pessoas saíram no encalço do suspeito, que teria se refugiado em um matagal. 
 
Na manhã desta quarta (29), a turba ensandecida encontrou o suspeito, que foi espancada praticamente até a morte. A polícia, admitindo não ter como conter a revolta dos populares, nada pôde fazer. Depois de muito custo – a população tentou impedir o trabalho de socorro – o suspeito foi socorrido, mas deu entrada no hospital já sem vida. 
 
Os dois casos apresentam histórias completamente diferentes. No primeiro, trata-se de um acidente de trânsito. Infelizmente, uma ocorrência bastante comum. A cada sete minutos uma pessoa é atropelada no Brasil. Em muitos casos, a culpa necessariamente, não é do motorista. Pode ter sido o caso de João, que não teve oportunidade de se explicar à Justiça.
 
O caso do suposto estupro seguido de homicídio é sem dúvida um crime hediondo que gera grande revolta social, ainda mais quando praticado contra uma menina indefesa, como foi o caso do crime de Vargem Alta. 
 
Mesmo que as investigações da polícia confirmem que o motorista do caminhão foi o culpado pelo atropelamento, e o que o autor do crime que tirou a vida da menina de Vargem Alta tenha sido mesmo o funileiro, nada justifica o método usado pela população, que, nos dois casos, decidiu fazer justiça com as próprias mãos. 
 
É difícil de entender o que motiva as pessoas neste momento de fúria. Mas alguns fatores, peculiares ao Espírito Santo, sem dúvida, têm contribuído para transformar toda esta indignação em mais violência. 
 
Os números mostram que Estado não consegue se impor à criminalidade, que a cada dia ocupa mais territórios da sociedade, que se sente encurralada, acuada, refém da violência. 
 
A impunidade, por sua vez, é outra agravante que estimula o crime. As leis permissivas, as falhas de apuração dos crimes, a lentidão e burocracia da Justiça encorajam os criminosos, que se sentem impunes. Além disso, prevalece no Espírito Santo a cultura da violência. Muita gente ainda mantém a tradição de fazer justiça no bico do revólver. Qualquer pequena desavença pode resultar em tragédia. Como foi o caso do jovem que no último domingo (26) matou três pessoas num churrasco na Serra. Motivo: uma discussão banal.
 
Não temos a pretensão de cravar aqui que esses fatores possam por si só explicar a atitude irracional dessas pessoas, que regrediram à Lei de Talião. Aquela que consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena, que é expressa pela máxima do "olho por olho, dente por dente" ou "aqui se faz, aqui se paga". Mas que esses fatores propiciam a violência, não resta dúvida.
 
De uma coisa temos certeza, definitivamente, não é essa sociedade regida pela Lei de Talião que queremos

domingo, 5 de maio de 2013

A CRUELDADE POR TRÁS DE CRIMES QUE ASSUSTAM O PAÍS

A barbárie empregada por bandidos contra vítimas indefesas tem chocado até policiais experientes. E as leis precisam ser aplicadas de forma mais firme

Jean-Philip Struck
Consultório onde a dentista Cinthya Magaly Moutinho morreu queimada, em São Bernardo do Campo
O ato bárbaro contra a dentista Cinthya Magaly Moutinho ficou marcado no seu consultório (Daniel Sobral/Futura Press)
Nos últimos 30 anos, a taxa de homicídios no Brasil cresceu 124%. Nesse período, mais de um milhão de pessoas foram assassinadas, de acordo com dados do Mapa da Violência, do Instituto Sangari. São crimes que ocorrem todos os dias, das mais variadas formas, e que atingem 26 pessoas a cada 100.000 habitantes atualmente. Porém, até para um país com dimensões continentais e acostumado a taxas alarmantes de criminalidade, alguns casos têm efeito estarrecedor. Em comum, essas histórias têm um mesmo componente: a crueldade.

Foi o que ocorreu na semana passada com a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza, de 47 anos, cuja morte assustou a sociedade pela barbárie. Assaltada em sua clínica, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, ela foi queimada viva por criminosos que invadiram o local. Segundo relato de uma testemunha, a dentista implorou insistentemente - em vão - para que os monstros não ateassem fogo contra o seu corpo, encharcado de álcool. O motivo da crueldade: ela só tinha 30 reais em sua conta bancária – dinheiro que frustrou os assaltantes. Mas o que leva um assaltante a atear fogo em uma vítima indefesa?

“A sociedade fica angustiada diante de crimes assim, exige uma resposta, que entender, mas não há uma resposta simples. É difícil encarar que exige gente boa e má”, diz o psiquiatra Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. “Muitos desses criminosos que não parecem dar valor à vida alheia também não valorizam a própria vida. A criminalidade criou uma cultura ética que não valoriza a vida em si. Para eles, não é um bem valioso”, afirma Martins.

O britânico Simon Baron-Cohen, professor de Psicopatologia do Desenvolvimento da Universidade de Cambridge e autor de um livro sobre crueldade (The Science of Evil: On Empathy and The Origins of Cruelty), prefere substituir a palavra “mal” por “erosão da empatia”: a falta de compreensão dos sinais emocionais de outra pessoa ou a incapacidade colocar-se no lugar do outro. Por esse método, os criminosos que queimaram a dentista não a enxergaram como um ser humano, mas como algo que poderia lhes fornecer dinheiro.

No mês passado, três homens estupraram em série uma turista americana durante seis horas dentro de uma van no Rio de Janeiro. Os depoimentos da vítima e de um menor que acompanhava o grupo descrevem que os acusados riram, debocharam e ofenderam a vítima enquanto ela era abusada.  Até mesmo os investigadores ficaram assombrados. Os criminosos ignoraram o apelo de vítimas indefesas e transformaram o que parecia ser um assalto comum – embora essa situação por si só seja grave – em um crime de sadismo com proporções aterradoras. "Em grupo, o comportamento é diferente, a pessoa tende a ser menos ela mesmo e passa a agir por outra lógica. E normalmente esse ato é resultado de uma escalada de violência", diz Daniel Martins, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

O especialista em segurança pública Guracy Mingardi, ligado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que esse caraterística da crueldade surge como uma consequência da banalização do crime em geral. “Nenhuma sociedade da História conseguiu atingir um padrão zero de criminalidade.

Não existe um controle específico para casos assim, o combate é sempre o mesmo, seja roubo ou estupro. O problema é que, com a sensação de impunidade, de que não vão ser pegos, os criminosos se sentem mais à vontade para cometer ainda mais crimes na sua área. Nisso, alguns se sentem à vontade para cometer barbaridades”, afirma Guracy Mingardi.

Reprodução

"Os quatro estágios da crueldade"
"Os quatro estágios da crueldade", de William Hogarth
Como na série de gravuras do século XVIII “Os quatro estágios da crueldade”, do pintor inglês William Hogarth, os criminosos envolvidos nesses casos parecem, de acordo com o resultado das investigações, terem galgado uma escalada de brutalidade até cometerem um ato extremo. Em suas gravuras, Hogarth apresentava um personagem ficcional, chamado Tom Nero, que começava torturando animais, entre eles um gato e um cachorro, até finalmente matar uma pessoa. A última gravura, de tom moralista, mostra que o castigo viria: Nero é enforcado e depois dissecado por um grupo de cientistas e cirurgiões interessados em estudá-lo.

Durante as investigações em São Bernardo do Campo, os policiais descobriram que ameaças de atear fogo nas vítimas já foram relatadas em assaltos anteriores do bando. A exemplo do grupo que agia na região metropolitana de São Paulo, o trio de estupradores do Rio é suspeito de ter estuprado pelo menos outras quatro mulheres antes da turista americana.

Embora a característica dos crimes cometidos nas últimas semanas passe a impressão de que os criminosos estão mais cruéis do que nunca, o Brasil já vivenciou outras ondas semelhantes. Em 2007, um ônibus foi incendiado com 28 passageiros – oito morreram – no Rio. Em seguida, o menino João Hélio, de seis anos, foi morto ao ser arrastado por quilômetros, preso pelo cinto de segurança do carro de sua mãe que acabara de ser roubado - ela não conseguiu retirar a criança do veículo, mas os bandidos arrancaram.

Leis - As leis brasileiras preveem sanções para situações de crueldade. Foi o caso da manicure Suzana do Carmo de Oliveira Figueiredo, de anos 22, acusada de sequestrar e depois asfixiar um menino de seis anos em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro. O crime ocorreu em março. Ao longo das investigações, a polícia apontou diferentes razões para o crime, como vingança – contra o pai ou a mãe da criança – ou até mesmo a intenção de pedir resgate pela criança.

Pelo crime, Suzana Figueiredo foi indiciada por homicídio doloso (com intenção de matar) triplamente qualificado. Nos qualificadores, apareceram o motivo torpe, o emprego de meio cruel e a impossibilidade da defesa da vítima. A Justiça aceitou a tipificação dos crimes. Para qualificar o motivo torpe, a Justiça entendeu que ela foi movida por ódio e vingança. "Torpe é aquele motivo abjeto, repugnante e aversão na sociedade", diz o professor de direito penal da Univerisidade de São Paulo Alamiro Velludo Salvador Netto. A Justiça lista alguns exemplos além de ódio e vingança, entre eles os casos de maridos que matam suas esposas porque elas negaram a reconciliação.

Já o meio cruel é definido pelo emprego de métodos que aumentem o sofrimento da vítima ou revelem brutalidade fora do comum. Nesse grupo, enquadram-se asfixia, tortura e o emprego de fogo – como no caso da dentista. Por causa desse artigo, a pena para um crime de homicídio,pode ser substancialmente aumentada. Uma pena prevista de seis a vinte anos pode subir para doze a 30 anos em casos assim. Apesar de ser considerada adequada por criminalistas ouvidos pelo site de VEJA, as penas, parecem não intimidar os criminosos.

No caso do grupo que queimou e matou a dentista Cinthya, o crime foi tipificado como latrocínio (roubo seguido de morte), que prevê de 20 a 30 anos de prisão e é considerado hediondo – a progressão, que permite que o preso deixe a prisão antes do fim da pena, é mais rígida para os condenados por esse crime. Essa modalidade não engloba as qualificadoras, já que sua pena é considerada alta e o crime suficientemente grave, mas o juiz pode levar em conta o meio com que a vítima foi morta e seu sofrimento no momento da fixação da pena.

      

Caso Yoki: ciúmes e morte

Na noite do dia 20 de maio, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, de 42 anos, foi vítima de um crime que chamou a atenção de todo o Brasil. Diretor executivo da Yoki, uma gigante do setor de alimentos, ele foi morto e esquartejado pela própria mulher, a bacharel em direto Elize Kitano Matsunaga, 38, no apartamento onde moravam em São Paulo. A viúva confessou o assassinato e disse que vinha sendo traída, agredida e humilhada por Marcos. O casal se conheceu quando Elize trabalhava como garota de programa. Juntos, tiveram aulas de tiro e mantinham em casa um arsenal de armas. Com uma delas Elize deu um tiro em Marcos e depois o esquartejou. Colocou o corpo do marido em três malas e as espalhou pela cidade. Elize, que afirma ter agido sozinha, está presa. Em janeiro, a Justiça decide se ela vai a júri popular pelo crime.

Fonte: Revista Veja

O BURACO DA VIOLÊNCIA

Perfil dos presos capixabas ajuda entender as raízes da criminalidade

Esta semana, o assunto segurança voltou a ganhar visibilidade nos meios políticos. Na última terça-feira (30), durante a prestação de contas do governador Renato Casagrande, na Assembleia Legislativa, o tema permeou boa parte das quatro horas destinadas ao balanço do governo.
 
Pressionados pela opinião pública, os deputados separaram algumas perguntas sobre segurança na “cola”. Claro que o tom cordial que prevaleceu durante a apresentação não previa perguntas mais contundentes. A ideia não era embaraçar o governador, e sim levantar o assunto para que Casagrande pudesse mostrar à população que o governo tem consciência da gravidade do problema e está disposto a trabalhar duro para reduzir os índices de criminalidade que apavoram os capixabas. 
 
O discurso do governo, depois de espremido, recorre ao óbvio, ou seja, Casagrande prometeu aumentar o efetivo, registrou que vem investindo pesado na infraestrutura das policias Civil e Militar e insistiu nas medidas de cunho social e de caráter preventivo, que estão sendo proporcionados, segundo ele, pelo programa Estado Presente. 
 
Na frente das câmeras, o discurso chega até a convencer. Parece que o governo está no caminho certo. Mas quando observamos os números, frios e calculistas, constatamos que o Espírito Santo está muito longe de poder devolver a sensação de paz e tranquilidade ao povo capixaba. 
 
Embora o governo tenha falado do recuou das taxas de homicídios, ainda são assassinadas no Estado quase cinco pessoas todos os dias. É um número inconcebível. Não por coincidência, continuamos ocupando, há mais de uma década, a segunda posição entre os estados mais violentos do País. 
 
Mas além das altas taxas de homicídios, já bem conhecidas dos capixabas, outro dado mostra o avesso da violência é ajuda a explicar as altas taxas de criminalidade no Estado.
 
Os relatórios mensais da Secretária de Justiça, que traçam o perfil da população carcerária do Estado, revelam que os homens e mulheres que estão presos pelos mais diferentes delitos têm baixo grau de escolaridade. 
 
De acordo com dados de março deste ano da Sejus, 15.267 estavam no sistema – 92% homens, 8% mulheres. Mais de 63% tinham idades entre 18 a 29 anos. Desse total de presos, 54% não concluíram sequer o ensino fundamental, ou seja, são praticamente semi-alfabetizados - considerando os padrões brasileiros de educação pública. Outros 9% eram analfabetos totais ou funcionais. Esses dois grupos somados aos de presos que concluíram o ensino fundamental eleva o índice de detentos com baixa escolaridade para 72%. 
 
Esse é um dado perturbador. Quantos desses homens e mulheres, considerando a agravante no currículo de ex-presidiário, teriam chances de ingressar no exigente mercado de trabalho com esse grau de escolaridade? Sem contar a falta de experiência profissional. Afinal, estamos falando de pessoas que passaram os últimos anos no mundo do crime ou encarcerados. 
 
Outro número impressionante. De acordo com o relatório de março, negros e pardos representam 81% da população carcerária capixaba. Os números apontam qual o segmento da população está envolvido na criminalidade. São justamente os mais pobres, jovens, negros e pardos. Pessoas que não chegaram a ter acesso aos bancos escolares ou que tiveram uma relação precária com a educação. 
 
Esses 12.361 homens e mulheres, que representam 81% da população prisional do Estado, não tiveram sequer a formação escolar básica, provavelmente foram privados de outros recursos primários necessários para a boa formação de um cidadão. 
 
Não devem ter tido acesso à saúde, ao saneamento básico, à habitação etc, etc. Sem falar de outras necessidades, que são fundamentais para construir o caráter de um cidadão: família, dignidade, valores, carinho, felicidade, amor etc. 
 
Olhando a população prisional por dentro, o governo terá mais clareza para enxergar a extensão e complexidade da violência. Um buraco fundo, de dimensões gigantescas e com aspecto sinistro e desconsolador.
 
Fonte: Século Diário

domingo, 7 de abril de 2013

REALIDADE PERTUBADORA



O Mapa da Violência 2013 – “Mortes Matadas por Armas de Fogo” – apresenta um dado perturbador. De acordo com o estudo, as drogas não são a principal causa das mortes por armas de fogo.
 
Essa conclusão apresentada no Mapa da Violência foi tema de matéria publicada esta semana em Século Diário. O texto assinado pela repórter Lívia Francez ganhou elogios do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, que coordena o estudo.
 
Ao contrário do que revela a pesquisa, porém, o discurso das autoridades ligadas à área da segurança pública no Espírito Santo tem atribuído os altos índices de homicídios às drogas e organizações criminosas envolvidas com o narcotráfico.
 
Durante o governo Paulo Hartung (2003 – 2010), o então secretário de Segurança Rodney Miranda (hoje prefeito de Vila Velha), ao perceber que sua gestão à frente da pasta fora desastrosa, passou a jogar na conta das drogas todo o insucesso de seu trabalho, que teve resultados pífios.
 
Esse mesmo discurso vem sendo hoje repetido pelo secretário André Garcia, que também identifica a droga como a grande “culpada” pelos altos índices de criminalidade, que conferem ao Espírito Santo a segunda posição absoluta no ranking nacional de homicídios. 
 
Na versão das autoridades, a ligação droga e violência é praticamente automática. Boa parte da sociedade está convencida de que essa é a explicação mais plausível para o problema. No ano passado, o governo do Estado chegou a lançar uma campanha publicitária para consolidar essa tese. Os outdoors espalhados pelas ruas alertavam que 70% dos homicídios estavam relacionadas às drogas. Mensagem implícita da campanha: “Se a culpa é das drogas, o governo está inocentado. Vamos todos nos unir para enfrentar o ‘mal do ‘século’”.
 
O professor Julio Jacobo Waiselfisz, um dos mais respeitados especialistas sobre o tema, mostra que a droga é uma das causas, mas não a principal. Mesmo após 10 anos da implantação da Campanha do Desarmamento, o sociólogo aponta que mais de 15,2 milhões de brasileiros têm acesso a armas de fogo. Desse total, 6,8 milhões de armas são registradas e 8,5 milhões são clandestinas. Waiselfisz alerta que muitos conflitos acabam sendo resolvidos à bala, inclusive os domésticos. 
 
Outro fator, segundo o sociólogo, que explica os altos índices de homicídios por armas de fogo é a chamada “cultura da violência”. Quem conhece bem o Espírito Santo sabe que o Estado tem um histórico repleto de matadores famosos, que viraram figuras lendárias, quase folclóricas. 
 
Ainda hoje, esse passado de pistolagem motiva muita gente a resolver conflitos no “bico do revólver”. 
 
Para provar que a droga não é a principal vilã dos homicídios, um estudo encomendado pelo Ministério da Justiça analisou os boletins de ocorrência em três cidades brasileiras: Belém (PA), Maceió (AL) e Guarulhos (SP), no ano de 2010. Nos três municípios, uma parte substancial das mortes por arma de fogo está relacionada a vinganças pessoais, violência doméstica e motivos banais. Os casos de mortes por arma de fogo no resto do País, segundo o estudo, seguem essa mesma tendência.
 
Na avaliação do Mapa 2013, Waiselfisz aponta um terceiro fator como muito importante para o crescimento das mortes por armas de fogo: a impunidade. 
 
O estudo revela outra realidade preocupante: o CSI (Investigação Criminal) – nome do seriado norte-americano de enorme sucesso – brasileiro é só na TV. 
 
A realidade mostra que os índices de elucidação de crimes de homicídios são baixíssimos no Brasil. De acordo com o Relatório Nacional da Execução da Meta 2 da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), a estimativa é que a elucidação no Braasil varie entre 5 e 8%. O mesmo percentual é de 65% nos Estados Unidos, 90% no Reino Unido e de 80% na França. 
 
Se a média brasileira varia entre 5 e 8%, no Espírito Santo deve ser bem pior. Podemos afirmar seguramente que o Estado, no levantamento do Enasp, era o que detinha o maior número de inquéritos de homicídios inconclusos: mais de 12 mil. 
 
O “CSI capixaba”, em estado de greve devido às péssimas condições de trabalho, é um retrato do descaso do governo com as políticas de segurança. Apenas 2% dos crimes cometidos no Estado são solucionados. Isso ocorre porque faltam provas, ou melhor, faltam condições para que os peritos papiloscópicos apurem as evidências nas cenas dos crimes que possam se tornar provas para a Justiça. Sem materialidade, muitas vezes, o juiz não tem como condenar o suposto autor do crime. 
 
Somente no ano passado, dos 1.944 inquéritos devolvidos pelo Ministério Público Estadual (MPE) à Polícia Civil, apenas 41 voltaram concluídos, ou seja, apenas 2% dos casos foram apurados.
 
Para quem ainda não acredita que a droga não é a principal vilã dos homicídios, basta olhar para o vizinho Rio de Janeiro. Em 2000, o Rio, segundo o Mapa da Violência, era o segundo estado mais violento do País; o Espírito Santo era o terceiro. Dez anos depois, o Rio passou a ser o 17º e o Espírito Santo o segundo. 
 
O tráfico de drogas acabou no Rio? Claro que não. O narcotráfico, como qualquer negócio, está onde há mercado em potencial. E o Rio é um dos mais rentáveis. 
 
O exemplo do Rio, que poderia ser estendido a São Paulo, maior mercado de drogas do País  – que também diminuiu os índices de homicídios a quase um dígito -, comprova que a droga é uma das causas da violência, mas não a principal. Já passou da hora do poder público parar de se esconder atrás das drogas e criar coragem para enfrentar essa perturbadora realidade.
 
Fonte: século diário

quinta-feira, 28 de março de 2013

A TOMADA DO BRASIL

Percival Puggina –


A nação está com as mãos erguidas e não é para rezar. Ninguém escapa à sanha dos bandidos aos quais o Estado, miseravelmente, se rendeu. Era previsível. Foi prenunciado por uns poucos, entre os quais eu mesmo. Agora está aí e todos percebem. Num país com 200 milhões de habitantes, a atividade contra o patrimônio alheio, por exemplo, tornou-se tão intensa que, do pirulito da criancinha à minguada pensão mensal da vovozinha, tudo já foi levado e todos já foram assaltados. Alguns, muitas vezes.

Tenho nostalgia, já falei antes, do tempo dos trombadinhas. Eram meninos. Quase digo que eram meninos de boa formação, que sabiam estar fazendo coisa errada. Esbarravam na vítima, tomavam-lhe algo e saíam correndo. Tinham medo da vítima, da polícia, e de que outros transeuntes os detivessem. De uns tempos para cá, o ladrão é bandido que ataca, ofende, maltrata e mata, motivada ou imotivadamente.

Por uma dessas coisas da memória, vem-me à lembrança a descrição da Queda de Constantinopla, que o grande Daniel-Rops fez em sua História da Renascença e da Reforma. Após oito séculos da jihad contra a Roma do Oriente, Maomé II comandara a arremetida final. Quando a orgulhosa cidade caiu, o sultão entregou-a aos seus janízaros por três dias e três noites, conforme prometera. Sobrou pouca gente para contar a história. Encerrado o prazo, sangue escorria pelas calhas das ruas e era impossível encontrar, em Bizâncio, um simples pires de porcelana.

Pois é isso que está acontecendo no Brasil, com a diferença de que o prazo é mais elástico. Sirvam-se os vitoriosos pelo tempo que quiserem! O que nos estão tomando são despojos de uma nação derrotada pelo que de pior nela existe. É a prerrogativa dos vencedores, quando os vencedores são criminosos. Sempre foi assim na história. A vitória dos bandidos representa estupro, morte e pilhagem. Coube-nos a fatalidade de viver nestes anos da Tomada do Brasil pelos maus brasileiros.
***

Ensinaram ao trombadinha de ontem que ele é a vítima. Sopraram-lhe uma ideologia de boca de fumo, que fala aos “manos” de seus direitos humanos. Vivendo, ele aprendeu que o crime compensa. Percebeu, com fartura de exemplos, que roubar é direito de todos e dever do Estado – mão grande e hábil para cobrar impostos, miúda e inábil para as tarefas que lhe cabem. À sociedade, esse Estado confessou, por inúmeros modos, sua rendição. Num dia, a polícia fecha pela quarta vez um desmanche de automóveis e prende o mesmo sujeito. No outro, o bandido sai da delegacia antes de o lesado preencher o BO. Não faz muito, um exército de policiais foi mobilizado para prender bandidos que … estavam presos. Deveriam estar, mas o semiaberto, sabe como é. Num assalto a mão armada, a ação do Poder Público começa e termina em burocrático “registro no sistema”. É crime de baixa lesividade, sabe? E volta e meia a pistola dispara sem quê nem porquê e matam. Soltam-se presos porque os presídios estão superlotados. Por excesso de presos? Não. Por excessiva falta de presídios, que diabo! As vítimas, antes de mais nada, são vítimas da inutilidade do Estado. Do Estado que quer desarmar os cidadãos de bem, não move palha pelos lesados e enlutados, mas lastima a morte de cada bandido em confronto com sua polícia. E veja, leitor, eu apenas falei do submundo. Não disse uma palavra sobre o grand monde.

Fonte: Ucho.Info

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ELE É O BOM

Há alguns meses, a Polícia Federal interceptou, no Interior paulista, uma mensagem do PCC, sigla do crime organizado no Estado, em que se fazia referência a uma ofensiva geral contra policiais. A mensagem foi encaminhada ao delegado-geral da Policia paulista, que a retransmitiu ao secretário da Segurança, Antônio Ferreira Pinto.

O secretário respondeu agressivamente: surpreendia-se ao notar que um policial acreditava nesse tipo de boatos, espalhados por criminosos interessados em demonstrar um poder que não tinham. Para ele, o PCC tem hoje não mais de 30 integrantes, todos devidamente presos. Pois é: os boatos eram verdadeiros. E o poder que os bandidos não tinham está demonstrado. Um dia, ainda bem, vão perder a batalha. Mas por que se permitiu que batalha houvesse?

Prisão sem grades

Uma dúvida: por que a prisão tem muros altos, grossos, portas de ferro, grades nas janelas? Não, não é para que os criminosos condenados não saiam: deve ser por outro motivo. Porque os criminosos condenados saem com os tais indultos de Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Natal, Ano Novo, de sabe-se lá que outros dias.

A PM paulista listou 116 criminosos, integrantes do PCC, atuando livremente só na Zona Leste da capital. Todos estiveram presos, mas foram libertados nas tais datas especiais e não voltaram à cadeia. Segundo a PM, há no grupo pessoas especializadas em tráfico, assaltos, assassínios e sequestros. E todos se dedicam hoje a aterrorizar a cidade e matar policiais

Fonte: Ucho.Info

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

BRASIL, PARAÍSO DA BANDIDAGEM, ATÉ QUANDO?


 Um número cada vez maior de cidadãos brasileiros está sendo propositadamente mantido em estado de pobreza, sobrevivendo da caridade hipócrita do governo, ou fazendo da criminalidade, particularmente do tráfico de drogas, o seu “ganha pão”.

Parte desse contingente, somado a um grupo de oportunistas desavisados, tem servido de massa de manobra para políticos de esquerda que o utilizam para desestabilizar a Nação. A participação aparentemente ambígua do PT e seus aliados neste processo é nítida e segue a orientação estratégica elaborada e preconizada pelo Foro de São Paulo

Após o fim dos Governos Militares, houve no Brasil uma intensa preocupação dos políticos em proteger-se de qualquer ação repressora. Assim, criaram, de forma muito bem estudada, instrumentos legais que restringem, condicionam e tolhem a agilidade e a eficácia da ação dissuasória e punitiva da justiça. Haja vista o tempo de “maturação” do processo do “mensalão”, a descarada atitude venal de membros da própria Suprema Corte e a argumentação pífia, falsa e desavergonhada da defesa dos 38 réus!

Neste cenário, houve incremento do crime organizado em todos os níveis, inclusive e particularmente na administração pública. Os novos instrumentos legais, além de dificultar o exercício objetivo do poder coercitivo do Estado, facultaram liberdade e oportunidade aos criminosos, banalizaram suas ações e disseminaram pelo País um obsceno clima de aceitação da impunidade.

As novas leis deixaram o cidadão comum e a administração pública desprotegidos, vulneráveis e, mais tarde, insensíveis à ação dos criminosos que, em determinadas áreas das grandes cidades, constituíram poderes absolutos, exigindo ações pacificadoras e libertadoras que envolveram até as Forças Armadas para que fosse restabelecido um mínimo de controle sobre elas.

Os legisladores, valendo-se do falso argumento da proteção da cidadania e dos direitos humanos, acabaram por conquistar a tão almejada liberdade para a sua ação criminosa e a impunidade para si próprios, o que, em paralelo, significou também a proteção dos criminosos comuns, organizados ou não. O Brasil foi transformado em um paraíso para a bandidagem, inclusive estrangeira, como é o caso do assassino Cesare Battisti, acolhido aqui como herói da causa.

Na mesma linha de oportunismo, com objetivos reconhecidamente ideológicos, encontram-se os movimentos de pressão social, como o MST e a maioria dos sindicatos de classe, que, voltando no tempo, paralisam e extorquem a Nação, fazendo ressurgir um cancro que há quase meio século por muito pouco não contaminou o País.

A democracia é um regime que pressupõe dinâmica social, igualdade de oportunidades, direitos e deveres, todavia, exige ordem, ordenamento e eficácia jurídicos. Onde há desordem e desobediência às leis, a estabilidade política e social está permanentemente ameaçada.

A manutenção das conquistas democráticas do povo brasileiro passa ao largo da desordem, da luta de classes, do oportunismo e, muito menos, da impunidade.

A Nação conhece e reconhece quem são os verdadeiros criminosos, sobreviventes ou herdeiros de uma guerra imunda, conduzida por terroristas dementes, furiosos e imorais, que a levaram à situação de refém comportada e resignada.

A quantidade de vítimas da impunidade, da desonestidade e da desvalorização dos princípios cristãos de ética e moral, estimulados pelos terroristas no poder, é milhares de vezes maior do que as baixas havidas no período em que eram eles que andavam armados, ameaçavam a ordem, a segurança e a paz social e que foram combatidos e derrotados por brasileiros de coragem e fé democrática, hoje alvos da execração pública, mentirosa e vingativa.

Diariamente centenas de brasileiros são vítimas da criminalidade estimulada pela omissão e pela conivência do governo e dos políticos em geral. As páginas policiais dos jornais de todo o Brasil e a hipocrisia das CPIs e das cortes de justiça demonstram, categoricamente, que a Nação está à mercê da bandidagem, do narcotráfico, dos bicheiros, dos políticos corruptos e dos assassinos de ontem e de hoje!

Até quando?

Paulo Chagas

sábado, 21 de julho de 2012

FAROESTE URBANO

Desvia! Olha para o lado! Para! Mãos para cima! Documentos! Cuidado com o portão! Passa tudo para cá!Olha a liquidação! O cara vai cair do andaime! Pápápá! Ratatá! Olha o buraco! Roubaram a tampa do bueiro! Boom! Eu disse para passar tudo-para-cá! Poin! Bibibibibibibi! Pare, olhe, compre! Oferta, somente hoje! Daqui a pouco teremos até duelos pelas ruas, porque gente sendo jogada na calçada por seguranças, para fora do saloon, isso já temos… Tente sair de casa e voltar, sem se aborrecer.


Nasci em plena área urbana, das mais movimentadas da Capital; pouco conheço da tranquila e bucólica vida fora disso e o que sei é meio fantasioso já que até explosão de caixas eletrônicos já chegou onde antes só havia o footing, o tédio e o coreto da praça. Também não dá para dizer que o problema – pelo menos esse – é nacional, já que o mundo todo está em pé de guerra, e a barbárie espalhada. Mas se não fizermos algo na linha do agir localmente, e logo, sei não.

As cidades parecem aqueles jogos de minas terrestres. Pisou em uma, Boom! Você não sabe se vai ou se fica. Se usa um vestidinho ou um colete à prova de bala. Se põe capacete ou chapéu. Se leva a bolsa ou um porrete. Se põe perfume ou joga spray de pimenta. E – cuidado! – se for usar o celular. Essa semana a polícia matou um à queima-roupa porque confundiu um celular (descarregado, não dava nem para fritar pipoca) com arma, e “porque ele estava com um negócio preto na mão”… Meninas, cuidado. Inclusive dentro do carro.

De forma geral, ninguém mais fala bom dia, obrigada, dá licença, olha na sua cara direito, responde de bom grado alguma pergunta. Se gentileza gera gentileza, imagine o que é capaz de nascer de um estado de espírito de confronto, inclusive de classes, que vem sendo proposto e incentivado nas nossas fuças. Está todo mundo devendo na praça, ou querendo comprar e não pode. Mas as ofertas chovem, e as necessidades também.

O trabalho anda escasso, periclitante, e quem tem, tem medo. A gente não quer ver bandido, mas se vê polícia sente pavor. Não sabemos mais o que é de verdade e que não é. Roubam-nos, de perto, de longe. Vai no restaurante, bar, padaria e pode ser arrastado. Até quando estamos em casa entram em nossos computadores e nos lesam. Bancos nos arrancam centavos, e somam bolinhas nos juros, e as companhias que nos servem os essenciais são essencialmente é muito descaradas. Quem mais se lembra dos meninos de rua que arrancavam cordões de ouro? Quem mais se lembra dos trombadinhas?

Como dizia, difícil é sair e voltar para casa no fim do dia sem ter tido pelo menos um aborrecimento, seja de carro, a pé, no metrô, trem ou avião. Ou no elevador, mesmo. Pisou no cocô. Ou no chiclete. Deu uma topada na pedra solta. O carro passou e jogou água do meio-fio. Torceu o pé no buraco. Foi atravessar e veio uma bicicleta na contramão ou aquele apressado do farol amarelo. Ficou esperando e o sinal de pedestre, aquele que você aperta o botãozinho várias vezes, não ficou verde. Ou ficou, por segundos. Corra, pessoa, corra! O guarda? Está lá anotando a placa de alguém, mas não daquele que quase te atropelou – ele prefere coisas menos, digamos, trabalhosas, tipo cinco minutos a mais da Zona Azul.

Fura fila. O portão da garagem abre ao contrário, na sua cabeça. Olha o cara varrendo o chão – e os seus pés – com água, com mangueira. O táxi passou. Vazio, mas não parou. Não, não mude de faixa senão os motoqueiros malucos podem promover um linchamento. Inferno esse bibibibi deles cortando as faixas. Já não bastassem os carros dos funkeiros que fazem questão que você os ouça, agora candidatos distribuem alto-falantes gritando seus nomes.

O cara está socando a mochila em você, aquele ser. Como tão bem lembrou Ruy Castro outro dia, todo mundo com mochila nas costas, e como elas fedem! Morrinha. Cheiro de chulé. Tenta passar pela direita, pela esquerda… Tem quem acredita que comprou a rua. Cuidado com o cachorro solto, que o dono pensa que não morde, e sempre pode ter uma primeira vez. O arremesso de bituca acesa não é mais só de cima. Mais comum ainda agora que todo mundo fuma nas portas ela atingir sua perna.

Segura sua onda. Calma. Quem te aporrinha pode ser da minoria, qualquer uma, que essa hora aparece para justificar, como se velhinhos, mulheres, crianças, pobres fossem imediatamente inocentes, anjos celestiais.

A vendedora trata com desdém quem entra na liquidação – a verdadeira queima, fogueira, que está havendo, para onde se olha, para ver se o dinheiro circula nas veias do país, que ora vai bem, ora se afoga na marolinha. E leva o dicionário! Sale, Off, winter off. Até 70%! Quando é que a gente vai entender que, se dá para dar desconto de 70%, a exploração era braba, e o melhor mesmo é esperar que eles nos atraiam com as plaquinhas.

Não ser enganado, não ser morto, não matar. Não cair, não dar uns petelecos por aí.
Não saia sem fazer o sinal da cruz, sem orar por São Jorge guerreiro. Não viva sem pensar que temos de mudar, em busca da civilização, e que isso pode levar gerações.

Marli Gonçalves

segunda-feira, 18 de junho de 2012

DONA ODETE E VOCÊ

Dona Odete tem 87 anos, usa bengala e tem dificuldade para ouvir e enxergar. Precisa de óculos e aparelho auditivo, desfazendo-se deles ao deitar. Mora sozinha, no 2.º andar de um prédio, em Caxias, no Rio Grande do Sul. Tudo nela aparenta uma pessoa indefesa, não fossem a força de vontade que a habita e sua capacidade, intacta, de defender a sua vida, de exercer numa situação-limite a liberdade de escolha.

Ademais, dona Odete é uma pessoa religiosa, que costuma rezar todos os dias, acreditando em Deus e louvando-o, como é a regra em pessoas de fé. O seu pensamento tem, portanto, uma relação com o absoluto, procurando nele se elevar. Pode-se dizer que dona Odete é uma pessoa comum no sentido conservador do termo, nada a predispondo a nenhum tipo de violência.

Ora, é essa mulher que foi exposta a uma situação completamente inusitada, devendo, hoje, responder a um processo por homicídio e por porte ilegal de arma. Provavelmente, terá de ir a júri, salvo se um juiz (e/ou um promotor) sensato der um basta à insensatez a que está submetida. Diga-se que os policiais não são tampouco responsáveis por essa situação, na medida em que devem seguir a lei. Caberia, então, a pergunta: Qual lei? Qual a sua inspiração, os ditos direitos humanos e o politicamente correto irmanados na injustiça?

Dona Odete dormia quando foi acordada pelos ruídos de um estranho que tinha entrado em seu apartamento. Na verdade, ele o invadiu a partir do telhado de uma escola vizinha, tendo de lá pulado para a janela de sua sala. Ao ver uma senhora indefesa dormindo, não prestou maior atenção, pois não via nela "perigo" algum.

Digamos, uma banalidade, pois às vezes uma banalidade é cheia de significação, considerando principalmente o Brasil de hoje, onde criminosos são tratados com máxima consideração pelos ditos representantes dos direitos humanos, enquanto suas vítimas são relegadas ao esquecimento.

O bandido portava uma faca, que certamente não seria usada para descascar batatas. Não iria, evidentemente, preparar uma janta para a senhora. Trazia consigo uma arma branca que seria utilizada segundo sua própria conveniência. Aliás, a sua força física também jogava a seu favor, pois a senhora acordada, movendo-se sem óculos e sem seu aparelho auditivo, foi quase estrangulada.

Note-se, além disso, que tal indivíduo já tinha sido condenado pela Justiça e estava sob liberdade provisória. Ele tinha uma ficha corrida policial, enquanto a senhora, como se dizia antigamente e se deveria dizer atualmente, é uma pessoa de bem.

Ocorre que dona Odete tinha em seu apartamento um revólver calibre 32, herdado de sua família, arma que estava guardada há mais de 35 anos. Ou seja, segundo a legislação brasileira, ela detinha uma posse ilegal de arma de fogo. Deveria ter entregue sua arma numa dessas campanhas do desarmamento, ficando literalmente desarmada, como uma cidadã dócil ao Estado e aos ditos direitos humanos. Hoje, estaria num caixão, esquecida por todos, salvo por seus familiares. A situação é a seguinte: se obedecesse à lei, estaria morta; desobedecendo-a, conseguiu sobreviver.

De posse do revolver "ilegal", reagiu à investida do invasor e conseguiu acertá-lo com três tiros, matando-o naquele instante. Ato seguinte, telefonou para seus familiares, que acionaram a polícia e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que, quando chegaram, se depararam com o quadro da senhora e de seu algoz, que, no chão, já não apresentava mais nenhum perigo.

Ocorre que a dona Odete nada mais fez do que usar o seu direito de legítima defesa, exercendo a sua liberdade de escolha numa situação-limite, a que se faz entre a vida e a morte. Assinale-se, aqui, o exercício da liberdade de escolha, traduzindo-se pela conservação de sua própria vida. Mas, para que esse direito possa ser exercido, são-lhe necessários os seus instrumentos e condições correspondentes, no caso, uma arma.

O esdrúxulo da situação é que dona Odete terá de responder por homicídio e por posse ilegal de arma. Ela, ao se defender, ao optar por sua própria vida contra um bandido, é legalmente acusada. A alternativa é: ou ela está certa e a lei está errada (exigindo a modificação desta) ou a lei está certa e ela deveria estar morta. A alternativa é excludente.

Imaginem, agora, se o bandido a tivesse estrangulado ou matado a golpes de faca. Certamente não seria preso em flagrante e estaria perambulando pelas ruas. Se preso, responderia por seu processo em liberdade e sempre teria à sua disposição um defensor público, além de algum representante dos ditos direitos humanos que sairia em seu socorro. Hipótese tanto mais plausível se tivesse a habilidade de inventar uma boa história de vítima social, tornado a sua vítima - a idosa assassinada - uma mera consequência de sua condição. O assassino seria a vítima e a verdadeira vítima, um mero número de um registro policial. Os direitos humanos não seriam para ela, nem morta, de nenhum auxílio.

Sempre haverá uma estatística do politicamente correto para colocar o criminoso como vítima inocente das armas de fogo. Será "esquecido" que foi ele que invadiu uma moradia, habitada por uma senhora idosa, para roubar ou matá-la, segundo as circunstâncias. Teria sido a arma de fogo que o matou. Pretensa conclusão: torna-se ainda mais necessária uma campanha do desarmamento, pois as armas continuam produzindo vítimas!

Dona Odete pode ser você. Desarmado, sem nenhuma condição de exercer o legítimo direito à defesa de sua própria vida, em sua própria casa. Você está numa situação ilegal, caso tenha uma arma não registrada. E registrá-la, além de caro, é uma operação raramente bem-sucedida. A lei, nessa circunstância, não o protege. Em caso de encontrar um bandido em sua casa, renda-se a ele, entregue a sua própria vida, abdique da liberdade de escolha.

É essa a mensagem do politicamente correto? Renunciar à liberdade de escolha?

Denis Lerrer Rosenfield - O Estado de São Paulo

terça-feira, 1 de maio de 2012

ESTADO OMISSO DÁ LICENÇA PARA MATAR

O Estudo Global sobre Homicí dios, das Nações Unidas, mostrou que a taxa de assassinatos no Brasil passou de 22,5 para cada 100 mil habitantes em 2004 para 22,7 em 2009. A marca vergonhosa, mantida estável pelos cinco anos , pode ser ainda mais infame. Se gundo a Or ganização Pan-Amer icana de Saúde (Opas), com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS), o índice girou em tor no de 30 entre 1998 e 2008. Só para constar, a média mundial é 6,9. Estarrece, mas não surpreende. Ontem, fim do prazo de força-tarefa que pretendia zerar os inquér itos referentes a homicídios dolosos aber tos até 2007, apenas 25% das apur ações estav am con cluídas, tendo a quase totalidade delas, 81%, sido arquivada.

Primeiro, uma conclusão óbvia: a de que a certeza da impunidade é, no país, sinistra espécie de licença par a matar. Segundo, numa interpretação quase tão segura quanto à que lev ou à assertiva anter ior, pode-se imaginar que o mutirão, embora o resultado pífio, certamente contr ibuiu para que mais cr imes fossem elucidados, o que leva à suposição de que tirar a vida alheia e seguir a própria sem responder minimamente pelo crime já foi ainda mais fácil no Brasil.

O Estado, ressalv e-se, nem sequer tinha estatísticas do gêner o or ganizadas nacionalmente. Mas antes fosse essa a parte mais significativ a do desapar elha mento da máquina pública no setor de segurança. As falhas estão no policiamento preventivo, na precar iedade das investigações , na lentidão da Justiça e no falido sistema penitenciário. Em suma: de uma ponta à outra, o bandido leva vantagem.

 No Distr ito Federal, cuja polícia destaca-se entr e as mais bem pagas e preparadas do país, a força-tarefa empreendida no âmbito da Est atégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), pomposo nome que abr iga nada menos do que o Con selho Nacional do Ministér io Público, o Conselho Nacional de Justiça e o Ministério da Justiça, nem 40% dos casos que se pretendia zerar foram solucionados. Dos 709 inquéritos postos sob a lupa do Enasp, 433 per manecem aber tos . No rastro de tamanha omis são, o DF somou 11 assassinatos no penúltimo fim de semana e 13 no último.

Não à toa, no Mapa da Violência 2011, o quadr ilátero que sedia a capital da República ostenta taxa de 34,1 homicídios par a cada 100 mil habitantes.

Não dá par a tapar os olhos e continuar a buscar culpados para o absurdo númer o de homicídios no país (1,091 milhão de 1980 a 2010) na disseminação das drogas (sobretudo do cr ack), na grande quantidade de armas de fogo em poder da população ou mesmo na ação do crime or ganizado. A impunidade , sim, é que está por trás de cada uma dessas fontes de criminalidade. Houvesse punição exemplar, a bandidagem estar ia acuada, ao contrár io do que se vê nas r uas e nos altos escalões governamentais, com escândalos como o mais notór io do momento, pr otagonizado por Carlinhos (diminutivo que denota a intimidade com que é tratado) Cachoeira. Falar em agravar penas , baixar a maioridade penal e ampliar o rol de crimes é tergiversar. Urge encontrar meios de aplicar a lei, fazer valer o estado de mocrático de direito.

Fonte: Correio brasiliense

sexta-feira, 6 de abril de 2012

NO RIO O CRIME MANDA


(Ilustração: Cássio Scavone, o Manga)

Os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro-2007 estavam prestes a começar quando o então presidente Luiz Inácio da Silva, ladeado pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), disse que a capital fluminense contaria com o melhor sistema de segurança pública do País logo após o término do evento esportivo. Quase cinco anos depois, os cariocas continuam aguardando a promessa se transformar em realidade.

Com a violência crescendo a cada dia na cidade que é o principal cartão-postal brasileiro, o Rio não consegue se livrar do status de ”faroeste tropical”, mesmo com a chegada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), lançadas com pirotecnia por Cabral Filho e cuja ideia foi abandonada pelo governo federal depois de cogitado lançamento nacional.

Na quinta-feira (5), a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro decidiu reforçar o patrulhamento na favela da Rocinha, na Zona Sul carioca, depois da morte do policial militar Rodrigo Alves Cavalcante, que participava de uma ronda local. Garantir segurança ao cidadão é um dever inconteste do Estado que está previsto de forma clara na Constituição Federal, mas a decisão de reforçar o policiamento na Rocinha apenas e tão somente porque um policial foi morto por bandidos é o que se pode chamar de tapa na cara da sociedade. Não fosse a morte do PM, a Rocinha continuaria recebendo doses mínimas de segurança.

Para mostrar a falência do Estado em relação à segurança pública, o calvário do pai do policial morto é a prova maior. Além de Rodrigo Alves Cavalcante, de 32 anos, o pai, Osaide de Holanda Cavalcante, 67 anos, perdeu outros dois filhos – um policial e outro segurança, ambos mortos por criminosos.

Quando a FIFA escolheu a cidade do Rio de Janeiro como sede provisória da entidade durante a Copa de 2014, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) abusou da galhofa e disse “Chinelada na paulistada. É humilhante… Mostro a vista e mostro um negócio desses. Vai levar o que pra São Paulo?”. Paes, que em seguida tentou minimizar o próprio besteirol, disse que o importante é a vista. Pois bem, senhor prefeito carioca, será que a vista do Rio de Janeiro, incontestavelmente linda, serve de consolo para um pai que perde três filhos para a inoperância oficial? Com a palavra, Eduardo Paes!

Fonte: Ucho.Info

terça-feira, 20 de março de 2012

O ESTADO INSEGURO

Apesar de mais três mortes bárbaras na Grande Vitória, as declarações oficiais continuam a mirar o direito à segurança pública só no longo prazo. Hoje, e não se sabe até quando, dezenas de bairros continuam sob marcante controle dos traficantes – quando não trocam tiros. “Gangues de jovens”, balas perdidas e toques de recolher aumentam os riscos de morte. Pipocam assaltos e roubos em série.
É um consolo inaceitável constatar que ainda não se chegou à situação que está sendo combatida no Rio. Diante desse estado inseguro, e que se fortalece há anos, a política de segurança conta com estatura e recursos compatíveis?

O secretário Henrique Herkenhoff falou em “investimentos” (sic), em 2011, de R$ 70 milhões. No “Portal” do governo estadual, consta que a Secretaria de Segurança empenhou R$ 73,2 milhões – até pouco maior. Porém, o investimento está sendo de R$ 31, 5 milhões – 43% do total. Corresponde a menos de R$ 10,00 anuais por habitante. O valor restante é “outras despesas correntes” (material de consumo, diárias). No investimento de R$ 1 bilhão, a segurança estadual equivale a 3,15%. É flagrante o choque entre o tamanho do principal problema estadual e o investimento.

Como viver e o que fazer até chegar o longo prazo? A última década perdida da insegurança resultou em 20 mil homicídios. A redução de 7% em 2011 não nos tira do vergonhoso segundo lugar nacional. Contratar segurança particular? E nos bairros pobres? Adquirir alarmes sofisticados? Isolar-se em casa com cercas elétricas?
O governo estadual poderia fazer um acordo com o federal para preencher o notório vazio da sua presença ostensiva com forças federais, durante a transição que pretende equiparar o número de policiais militares ao que existiu em 1983. Isso não elimina “inteligência” e ações socioculturais.

O “Estado Presente” tem duas ausências. A primeira: não há efetivo policial que restabeleça o controle territorial do Estado nos bairros ocupados pelo tráfico. Apenas a prevenção não recupera o terreno já perdido para os criminosos. Essa atuação em bairros não está articulada a um (ausente) plano metropolitano de segurança. Multiplicam-se ações municipais desconexas.

O governo Casagrande deveria dialogar e incluir a sociedade visando à superação desse desafio mortal, que é de todos, e avaliar a política vigente mediante o Conselho de Segurança – aprovado por lei estadual, mas não instalado.

Roberto Garcia Simões - A Gazeta

sábado, 17 de março de 2012

RIO DE JANEIRO, TERRA SEM LEI

Terra sem lei – Faltavam poucos dias para a abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, quando o então presidente Luiz Inácio da Silva disse que encerrado o evento esportivo a cidade teria o melhor e mais eficiente sistema de segurança pública do País. É fato que nove entre dez brasileiros sabiam tratar-se de mais uma declaração ufanista, mas milagres também acontecem no Brasil. Mesmo assim, a promessa ficou estacionada, para azar dos que vivem e frequentam a Cidade Maravilhosa.

Pouco mais de um ano antes, em 2006, ao se instalar no Palácio Guanabara, sede do Executivo fluminense, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) afirmou que naquele momento estava decretado o fim dos criminosos. O tempo passou e nada do que foi prometido se transformou em realidade. Imaginar que a criminalidade pode ser eliminada com o acionar de um botão é devaneio, mas nenhuma autoridade pode prometer aquilo que sabe ser impossível cumprir. Em especial quando está em jogo a vida do cidadão.

Para provar que Lula e Cabral Filho são gazeteiros profissionais, um homem armado invadiu o Hospital do Andaraí, na Zona Norte carioca, na noite de quinta-feira (15), rendeu médicos que estavam no terceiro andar do prédio e roubou dinheiro e celulares, sem ser incomodado. Às 18h30 de terça-feira (13), operação semelhante ocorreu no Hospital Gaffrée e Guinle, também na Zona Norte do Rio, onde um homem armado rendeu médicos e estudantes de Medicina, levando celulares, carteiras e um computador. A polícia, como quase sempre acontece, chegou depois da fuga.

Enquanto as grandes cidades brasileiras, quase sempre reféns de criminosos de todas as cepas, não adotarem o programa “tolerância zero”, como foi feito em Nova York, a segurança pública será sempre uma pedra no caminho dos governantes, que sobre palanques prometem soluções maravilhosas.

Fonte: Ucho.Info

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

NA SEGURANÇA DO CABRAL NEM COMANDANTE DAS UPPs ESCAPA DOS BANDIDOS



Fim de linha – Faltavam alguns dias para a abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007 quando a cidade do Rio de Janeiro foi açambarcada por um discurso visguento e mentiroso do então presidente Luiz Inácio da Silva. Na ocasião, ladeado pelo governador fanfarrão Sérgio Cabral Filho, o messiânico Lula afirmou que, encerrado o evento esportivo, o Rio passaria a contar co o melhor e mais eficiente sistema de segurança pública do País.

Quase cinco anos depois, o palavrório de Lula continua frequentando a seara da mitomania, pois o Rio de Janeiro, principal cartão-postal do País, permanece na condição de faroeste a céu aberto. Tempos depois daquela promessa mentirosa, Sérgio Cabral posou como Messias durante o lançamento do projeto da Polícia Pacificadora, que conta com unidades em diversas comunidades carentes da capital fluminense.

Para provar que a segurança pública continua sendo o calcanhar de Aquiles da administração do boquirroto Sérgio Cabral, o comandante-geral das Unidades de Polícia Pacificadora, coronel Rogério Seabra, foi rendido em uma falsa blitz na quinta-feira (23), quando trafegava em uma viatura descaracterizada no bairro Abolição, na Zona Norte.

De acordo com a assessoria, o coronel, que estava acompanhado de outro policial militar, foi abordado por quatro homens armados com fuzis na Rua Guilhermina. Os assaltantes levaram o veículo que tinha três pistolas no porta-malas. Policiais militares do 3°Batalhão PM (Méier) fizeram buscas nas proximidades do local do assalto, mas o veículo não foi encontrado.

Fonte: Ucho.Info