sábado, 28 de setembro de 2013

A ETERNA CAMPANHA NA POLÍTICA BRASILEIRA

Perto das eleições, até empreitadas inacabadas recebem as excelências, que discursam orgulhosas sobre o que não foram capazes de concluir


Na política brasileira é assim: ganha-se uma eleição e logo se inicia a campanha para a próxima. Os anos seguintes são uma constante busca por aprovação, alianças partidárias e muita cena.

O sistema de 


reeleição facilita a farra. Cargos são distribuídos em troca da tal “base aliada”, que articula os currais eleitorais. Assim, os eleitos se apropriam dos aparelhos do Estado com suas intenções de poder.

Gastam-se bilhões com marketing na ideia de que uma mentira, dita mil vezes, torna-se verdade. Mostra-se um “país de todos”, onde a felicidade contagia e a vida passa longe da realidade.

Em caso de escândalos, os representantes se retiram de cena e deixam a poeira baixar. Depois, dizem-se traídos e, com o discurso da ética, cobram punições e anunciam faxinas que, na verdade, só jogam a poeira para debaixo do tapete.

Fazer figuração é o mais importante. E serve de tudo: evento de sindicato, inauguração de obra e até discurso na ONU. Perto das eleições, até empreitadas inacabadas recebem as excelências, que discursam orgulhosas sobre o que não foram capazes de concluir.

Em 2010, Dilma se elegeu “Para o Brasil seguir mudando” e atendeu a todos os péssimos costumes listados. Sua coligação unia desde os comunistas do PCdoB até os cristãos do PSC. Passava pelos socialistas do PSB e dava as mãos com o vira-folha PMDB. A tal “base aliada” era grande. Já a ideologia era tão pequena quanto a simpatia da candidata.

O marketing sempre foi seu carro chefe. Nos dez anos de governo petista, foram desembolsados R$ 16 bilhões (sim!) em publicidade. A quantia é tão assustadora quanto contraditória: a propaganda tentou convencer, por exemplo, sobre a transposição do Rio São Francisco, orçada em R$ 8,2 bilhões. Porém, enquanto as obras se arrastam há décadas, só o marketing a pagaria quase duas vezes.

A mobilidade urbana, tema de animações e maquetes do governo, poderia desengarrafar: os bilhões publicitários pagariam 30km de metrô e poderia congelar a passagem de ônibus paulista (de R$ 3,00) durante 50 anos!

Segundo a equipe de Dilma, os gastos são para “levar à população, em todo o território nacional, informações de utilidade pública para assegurar seu acesso aos serviços a que tem direito”. Bom, se o assunto são os serviços, que tal falar da Saúde? O recurso do marketing bancaria todo o programa Mais Médicos, orçado em R$ 15,8 bilhões. E a publicidade pode custar ainda mais, pois o Banco do Brasil não divulgou seus gastos de 2003 a 2009. Isso é “bom para todos”, Gianecchini?

E se o assunto é cena, Dilma agarrou-se à espionagem como nunca. Posando de defensora da pátria, a presidente agarrou o disco dos e-mails violados há quase um mês. Nessa semana, deram-lhe os microfones da ONU e lá foi ela: “Defenderei de modo intransigente o direito à privacidade dos indivíduos”.

Engana-se, porém, quem pensa que a preocupação é verdadeira. Prova disso é que, na semana passada, a ONU promoveu reunião em Genebra justamente para debater a espionagem e, como não havia holofotes, o Brasil mandou uma estagiária que sequer abriu a boca. Enquanto isso, Maria Farani, embaixadora na ONU, promovia um almoço para sua despedida do cargo e Dilma passeava pelo país em inaugurações.

Dilma ainda aproveitou o espaço internacional para dizer que o Bolsa-Família tirou 22 milhões da miséria e que as manifestações de junho foram consequência dos avanços do governo petista. Sim: segundo ela, o povo cobrou direitos porque acostumou-se a ter qualidade com seu governo e tornou-se exigente. E lembrou, ainda, que lutou contra a ditadura e, por isso, sabe ouvir a voz das ruas.

Então fica a pergunta: o que o Bolsa-Família, os protestos e a biografia da Tia Dilma têm a ver com a ONU? Para quem busca debate político sério, a resposta é simples: nada. Mas, para quem vive em campanha política, sempre há um espaço para a autopromoção.

O problema é que a política brasileira é assim porque o povo assiste, aplaude e vota. E, ao que tudo indica, 2014 será um belo capítulo de “mais do mesmo”.


Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes.

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