O Estado de S.Paulo
Um balanço do Ministério da Saúde mostra que dois terços dos profissionais brasileiros inscritos no programa Mais Médicos não se interessaram em trabalhar nas condições oferecidas. Com isso, será necessário "importar" outro lote de médicos estrangeiros, provavelmente cubanos em sua maioria, pois eles são os únicos que aceitam atuar sem a mínima infraestrutura e sem direitos trabalhistas - afinal, eles estão aqui, como disseram, em "solidariedade" aos miseráveis brasileiros.
Nas duas fases da seleção de médicos, apenas 911 dos 2.510 profissionais brasileiros cadastrados concluíram o processo, isto é, apontaram a cidade em que gostariam de trabalhar. No estágio mais recente, os 400 participantes escolheram 217 municípios e 10 distritos de saúde indígena, o que representa apenas 2,4% da demanda total - e ainda há a possibilidade de que alguns inscritos não apareçam para trabalhar, como aconteceu na primeira fase em diversas cidades.
"A prioridade é a contratação de médicos brasileiros, mas não podemos deixar a população à espera de atendimento", disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já a justificar a necessidade de trazer outros médicos do exterior. Demagogia à parte, louve-se que, depois de uma década de governos lulopetistas, em que seus líderes se gabavam de ter transformado o Brasil numa maravilha de Primeiro Mundo, o ministro da Saúde afinal reconheça a extrema precariedade do atendimento médico no País.
Pois é esse descalabro que afasta os médicos brasileiros dos lugares onde eles são mais necessários. Não há condições de trabalho em diversos municípios "rejeitados" por esses profissionais - e que, por isso, receberão os cubanos, habituados a atuar em situações de catástrofe. Os problemas nos postos de saúde são inúmeros: faltam equipamentos para primeiros socorros, material para a realização de exames de rotina e até macas. Há infiltrações e mofo nas paredes e falta água. "Se chegar alguém com parada (cardiorrespiratória), a gente vai orar, e só", disse à Folha de S.Paulo a médica de um posto no distrito de Araci, na Bahia.
Ao Estado, um inscrito no programa do governo relatou o caso de uma colega que desistiu justamente quando se deparou com a situação miserável que a aguardava. "Claro que foi embora. O clamor da população nas ruas é por saúde, não por mais médicos. Não adianta ter médico sem estrutura", disse ele. Ademais, muitos profissionais desistem porque, além de trabalhar em locais precários, não têm direito a FGTS, hora extra e 13.º salário.
O governo parece se esforçar para demonizar esses profissionais. Felipe Proenço, coordenador do Mais Médicos, disse que os brasileiros estão escolhendo onde querem atuar sem levar em conta "as localidades mais carentes". Logo, segundo esse argumento, não resta alternativa senão alocar cubanos nos lugares desprezados pelos brasileiros.
Essa estratégia cumpre o objetivo de estigmatizar, como insensíveis, aqueles que se opõem ao Mais Médicos não por causa de seus propósitos, obviamente importantes, mas por seu oportunismo eleitoreiro.
Além disso, camufla a inépcia do governo na área de Saúde - nos últimos cinco anos, nada menos que 286 hospitais ligados ao SUS foram fechados. De lambujem, coloca em evidência os médicos de Cuba, ditadura idolatrada pelos petistas, ressaltando o modelo de saúde socialista da ilha dos irmãos Castro.
Como já se sabe, o governo articulou a vinda dos médicos de Cuba ao menos seis meses antes que o tema viesse a público e que qualquer acordo fosse formalizado. Os médicos brasileiros, ao que parece, são coadjuvantes num teatro marqueteiro organizado pelos estrategistas do governo como resposta ao clamor das ruas.
O resultado não tardou a se refletir nas pesquisas: 73,9% dos entrevistados em recente sondagem da Confederação Nacional do Transporte disseram-se favoráveis ao Mais Médicos, que será a grande bandeira do ministro Padilha em sua campanha ao governo de São Paulo
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