terça-feira, 19 de julho de 2011

UNE COMPRADA.

Preço: Um prédio de 13 andares no valor de R$ 44,6 milhões e mais alguns milhões de vez em quando.

Mestre do engodo

(...)Quanto ao Congresso da UNE... O dinheiro gasto com ele por ministérios e empresas estatais atende a um único e censurável objetivo: o de manter sob rédea curta, curtíssima, a mais conhecida das entidades estudantis. Cooptá-la já não é mais preciso. Cooptada ela já foi desde que chegaram ao poder os partidos que a dominam.

Até o golpe militar de 1964, a UNE frequentava os salões da República, mas não era sócia dos seus donos. A eles se opunha com alguma frequência e com maior ou menor virulência. Talvez por isso fosse respeitada e temida. Mais de uma vez os presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, por exemplo, foram obrigados a negociar com ela.

Formalmente extinta pelo golpe, a UNE sobreviveu ao incêndio de sua sede no bairro do Flamengo, no Rio, articulou-se com o resto da oposição e liderou em todo o país gigantescas manifestações de massa contra o regime dos generais. As reivindicações específicas dos estudantes cederam a vez à reivindicação coletiva por liberdade.

Em 2003, o partido que manda na UNE há décadas, o PCdoB, subiu a rampa do Palácio do Planalto junto com o PT de Lula. E foi a partir daí que a UNE esqueceu a sua história e vendeu a sua alma. Apequenou-se. Acabou entrando para o elenco dos chamados “movimentos sociais”, todos eles alimentados por verbas do governo.

A lei da anistia só prevê reparações de caráter pessoal a familiares e vítimas da ditadura de 64. O governo Lula aprovou outra lei no Congresso para permitir que a UNE recebesse a título de reparação uma bolada de R$ 44,6 milhões destinada à construção de sua nova sede – um prédio de 13 andares, projetado por Oscar Niemayer.

Hoje, a UNE, que em 1940 defendeu o fim da ditadura do Estado Novo, que em 1942 pregou oapoio aos Aliados contra o nazismo, que em 1956 combateu nas ruas do Rio o aumento do preço da passagem dos bondes, e que no início dos anos 60 criou o Centro Popular de Cultura, não passa de uma fotografia desbotada pela ação do tempo.

Ricardo Noblat

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