Estimadíssimos leitores, 2011 est mort, viva ano novo que já desponta.
2011 foi o ano em que os ditadores se ralaram, e isso já faz dele um ano ímpar, desculpem o trocadilho horroroso. Eu gosto muito de ver ditadores virando fumaça, não sei como os leitores se sentem. Mas ao ver o Kadafi nunca mais podendo usar aqueles modelitos que deusdocéu, saber que o Mubarak não vai mais enfeiar o Egito com aquela cara de quem vive em pirâmide há quatro mil anos, saber que o Kim Jong Il não passa de alimento de bactérias, como diria o Machado de Assis, simplesmente, faz bem.
Nos anos 60, Stanislaw Ponte Preta criou o Samba do Crioulo Doido, que muitos conhecem e pouquíssimos sabem cantar (o degas aqui, sabe, motivo para jactância na Mansão Carneiro da Cunha). Ele também criou o conceito de Febeapá, o Festival de Besteiras que Assolam o País. Stanislaw pode ter passado, mas o Febeapá continua, lindo, firme e forte, com a diferença de que ele hoje, mesmo se abatendo sobre o nosso país, em um planeta globalizado, tem as suas besteiras produzidas em qualquer canto.
Febeapá hoje é mundial.
Das besteiras que marcaram 2011, lembro de algumas, espero que os leitores colaborem lembrando as demais. A que encerra o ano está nos jornais e sites dessa semana, que é Jader Barbalho assumindo sua vaga no Senado, por conta da besteira nada acidental que derrubou a Ficha Limpa.
A besteira Hourse Concours ficou por conta do nosso bravo e inútil PCdoB, lançando a nota de pêsames pelo passamento do grande líder Kim Jong-Il, que recebeu do pai a Coreia do Norte em situação lamentável, trabalhou duro e a repassa ao filho em condições desastrosas. A nota do PCdoB louva o ditador por ter conduzido a sociedade coreana para o socialismo e a prosperidade. Talvez prosperidade tenha outro sentido em pcdobês, só pode ser isso. Espero que a nota tenha sido enviada em papel, assim o pessoal de lá poderá comer alguma coisa.
Entre as besteiras de maior porte tivemos o Rock in Rio, que se caracteriza por não ser uma coisa nem outra. Nem Clauddia Leitte é rock, nem a Barra da Tijuca fica no Rio, portanto, noves fora, zero.
O Estados Unidos finalmente desinvadiram o Iraque, besteira criada há quase nove anos. Invadiram uma ditadura, e deixam pra trás uma tranqueira a ser disputada entre sunitas e xiitas, e a briga não vai ser resolvida no tapa. No campo das besteiras, eles são quase insuperáveis, ao menos no calibre.
O Japão demonstrou toda a segurança das centrais nucleares deixando Fukushima defendida por um quebra-mar e com geradores de energia no mesmo nível dos reatores. Ou seja, molhou um, molhou tudo. E falam da gente.
No Rio de Janeiro, onde o movimento Febeapá começou e de onde se estendeu para o mundo, bueiros seguiram explodindo e um bondinho de Santa Teresa provou do que somos capazes, quando se trata de fazer manutenção com arames e superpovoar meios de transporte com o dobro dos passageiros permitidos. Não foi o maior acidente com mortes do ano, mas deve ter sido o mais desnecessário e tolo, bem ao gosto do governo de lá. Lá também a Chevron deixou a sua marca no Febeapá, com trágicas consequências para o meio-ambiente, e nenhuma para a Chevron, como imaginávamos.
Adriano, o Imperador, não poderia deixar o ano passar sem a sua, digamos, marca, aplicada a tiros na mão de uma garota que estava no mesmo carro que o nosso César. Nero não teria feito pior.
O Santos foi até o outro lado do mundo mostrar de quantas besteiras é feito o nosso desmiolado futebol. Em continuando assim na Seleção, e tudo indica que vai, a coisa em 2014 não vai ser uma besteira, e sim uma tragédia.
A Infraero se mostrou a mesma Infraero de sempre, criando puxadinhos onde deveria haver terminais de passageiros. Se a moda pega, nossos problemas acabaram, mas os aeroportos vão mesmo virar rodoviárias, no sentido que somente chegaremos a qualquer lugar dentro deles usando ônibus.
O cinema nacional fez a sua parte, e as maiores bilheterias ficaram com as besteiras Assalto ao Banco Central, Bruna Surfistinha, e De Pernas pro Ar. A música contribuiu com praticamente nada. Se não houve grandes besteiras, não houve mais muita coisa, mas no ano que vem teremos a volta dos Los Hermanos e o índice Febeapá vai dar um soluço legal.
A literatura pode ser pródiga em besteiras, mas o ano teve grandes livros, sobre os quais sou suspeitérrimo pra falar porque são de amigos meus. O que prova que eu posso errar em quase tudo, mas não na escolha dos amigos.
Tivemos o besteirol ecoinsustentável daquele vídeo dos globais contra Belo Monte, tivemos a bancada evangélica no Congresso sendo ela mesma, tivemos o show dos 80 anos do João Gilberto cancelado pela besteira dos produtores que acharam que os brasileiros pagam qualquer coisa por qualquer coisa. Isso é quase sempre verdade, mas, pelo visto, nem sempre.
Tivemos essa notícia engraçada de que, apesar do nosso grande e histórico Febeapá chegamos ao posto de 6ª economia mundial. Isso não prova nada, a não ser que se pode ser uma grande economia apesar das nossas grandes e enormes besteiras, além de sugerir que temos virtudes por aí, escondidas sob o grande tapete da nossa baixa auto-estima.
E, no meu cardeninho assim foi o Febeapá 2011 nos seus melhores momentos. É bom lembrarmos que 2012 somente acontecerá se aquela previsão maia não passar de uma, mais uma, tolice com nos presenteiam astrólogos, numerólogos e homeopatas, os nossos grandes besteirólogos de sempre. Como mais uma vez eles errarão em cheio, um ótimo 2012 para todos, e que ele não deixe de nos surpreender com essa incrível capacidade humana de se superar sempre que o assunto somos nós mesmos, e o tema, as nossas besteiras.
Até lá, logo ali, e vamos em frente.
Marcelo Carneiro da Cunha
Comento: Concordo com o Marcelo em quase tudo, infelizmente ele esqueceu da maior besteira dita este ano, sim , esse cara se superou, vejamos, "O câncer que vem atingindo os líderes da América Latina é coisa de uma macabra invenção dos americanos, ainda desconhecida por nós". INSUPERÁVEL.