domingo, 25 de agosto de 2013

ENTIDADES MÉDICAS DE VENEZUELA E BOLIVIA CRITICAM IMPORTAÇÃO DE CUBANOS


Representantes de entidades médicas dos dois países relatam problemas vividos durante os programas Barrio Adentro e Operación Milagro

Representantes dos médicos da Venezuela e da Bolívia vieram ao Brasil, a convite do Conselho Federal de Medicina, para contar em um fórum a experiência de seus países com a “importação” de médicos. As associações médicas brasileiras têm se posicionado contra a decisão do Ministério da Saúde de trazer médicos estrangeiros para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) no interior do Brasil.
O único ponto positivo destacado na entrevista concedida ao iG é que os cubanos, de fato, foram trabalhar nos lugares mais remotos da Bolívia e da Venezuela. Fora isso, os médicos apontaram “barbeiragens”, falta de documentação que comprovasse que os cubanos eram formados em medicina e disseram que as iniciativas foram um fracasso nos dois países.
Douglas León Natera, presidente da Federação Médica Venezuelana, contou que dos seis mil módulos de assistência médica construídos pelos cubanos naquele país a partir de 2003, apenas 20% seguem em funcionamento.
“Dizem que existem 30 mil médicos cubanos na Venezuela. Nós sabemos que não se tratam de médicos, só sabemos que são cubanos. Não vimos um título destes profissionais, só conseguimos ver 37 currículos. O governo venezuelano não permitiu ver mais nenhuma documentação”, disse Natera.
programa começou em 2003, quando o então presidente venezuelano Hugo Chávez criou um programa de saúde a partir de um acordo do país com Cuba, que recebeu o nome de BarrioAdentro. Natera relata que até 1998, antes da chegada de Hugo Chávez ao poder, havia 298 hospitais e 4980 ambulatórios distribuídos em todo o território venezuelano.
De acordo com o site do programa mantido pelo governo venezuelano, nos dez primeiros meses do programa, chegaram 10 mil médicos, o que teria estabelecido a proporção de um médico para cada 250 famílias.
Atualmente, ainda de acordo com o governo venezuelano, o programa conta com mais de seis mil consultórios médicos, três mil odontológicos e 559 centros de diagnóstico integral. Os postos de saúde do Barrio Adentro, sobrados de alvenaria com 80 metros quadrados, funcionam como moradia dos médicos e posto de saúde. Natera diz, no entanto, que o projeto foi criado exclusivamente para beneficiar os cubanos, com construções superfaturadas e sem licitação.
Na Bolívia, a chamada Operación Milagro começou em 2006, relatou ao iG o médico boliviano Aníbal Cruz, vice-presidente da Confederação Médica Latino-Americana e do Caribe.
“O acordo já havia sido firmado em 2005, quando Evo Morales tinha sido eleito, mas ainda não era presidente. Em fevereiro de 2006, a Bolívia enfrentou uma grande inundação e a primeira equipe, cerca de 200 médicos cubanos, chegou. Ao final de quatro meses, vieram mais 2,4 mil e depois mais 4,2 mil médicos cubanos”,
Dados alterados ou inexistentes
Cruz contou que o corpo médico boliviano exigiu a documentação dos médicos cubanos, mas ela nunca foi apresentada.
“Não conseguimos nem uma lista com a especialidade de cada médico cubano”, afirmou.
Segundo o médico boliviano, depois de seis anos de programa chegaram notícias do governo da Bolívi, da imprensa e de Cuba, de que os médicos cubanos atenderam 58 milhões de bolivianos, sendo 324 mil em UTIs.
Maria Fernanda Ziegler
O boliviano Aníbal Cruz: "Não conseguimos nem uma lista com a especialidade de cada médico cubano que foi para a Bolívia"
“Quando soubemos destas notícias a primeira coisa que falamos foi: só temos 10 milhões de habitantes na Bolívia”, disse. Outras informações que circularam davam conta de que os médicos cubanos teriam feito 650 mil cirurgias oftalmológicas.
“Ou seja, quase 10% da população da Bolívia. Nós ficamos surpresos, pois se isso fosse verdade, era uma epidemia, os bolivianos estavam ficando cegos”, ironizou.
Para ele a situação é alarmante, pois os índices epidemiológicos e os dados estatísticos de Saúde da Bolívia são alterados.
“Ainda não sabemos quantos cubanos chegaram e quantos se foram. Levando em conta os problemas que tiveram na missão cubana, muitos deles desertaram, fugiram para a Argentina, para o Brasil e para os EUA”, disse.

Na Bolívia, os cubanos chegaram a locais onde não havia atendimento médico algum.
“Eles chegaram a locais muito distantes, especialmente no Altiplano boliviano, mas também tiveram muitos problemas de adaptação, pois são caribenhos e estavam acostumados a viver no nível do mar. E no altiplano, com 3 mil metros de altitude, nem a seleção brasileira aguente, não é?”, brincou Cruz.
“Barbeiragens”
Tanto Natera quanto Cruz citaram ao iG casos emblemáticos de erros grosseiros por parte dos médicos cubanos nos dois países. Na Venezuela, um rapaz teria morrido após tomar uma injeção de dipirona.
“Um rapaz de 18 anos chegou ao módulo do Barrio Adentro com 41 graus de febre. A mãe relatou que ele tinha febre e mal estar geral há dois dias. Também disse que ele era alérgico a dipirona. Então o cubano disse que primeiro se tratasse a febre e injetou dipirona na veia do rapaz. Em cinco minutos ele estava morto por uma reação anafilática. No dia seguinte, o cubano não estava mais lá”, denunciou Natera.
Cruz contou de camponês da região de Alto Chapare, Agustin Tucuiarpe, de 36 anos, que foi levado de avião a Cuba após um erro médico da Operación Milagro. Ele caiu de uma árvore, mas quando chegou à emergência do hospital não fizeram os exames adequados e tiraram o rim dele, sem se darem conta que ele tinha apenas um rim.
“Em março de 2008 a embaixada de Cuba e o governo tiraram o paciente do hospital e supostamente o levaram de avião para Cuba, mas nunca mais tivemos notícias da vida daquele paciente”, disse o médico.
Cruz e Natera defenderam que a “importação” de médicos cubanos não é uma solução para os problemas de saúde do Brasil.
“Acredito que é político, há um interesse do governo brasileiro em atacar um problema que eles mesmos criaram e que, por incompetência ou corrupção, ainda não resolveram”, criticou Natera.
Fonte: Maria Fernanda Ziegler , iG São Paulo 

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