marketing diz que estamos avançando e os presos sendo bem tratados. Mas as recentes rebeliões mostram o contrário
O estado de higiene é de causar nojo. Colônias de moscas, insetos e ratos são visualizáveis por quaisquer visitantes. Restos de alimentos são encontráveis em meio ao pátio. Larvas foram fotografadas em várias áreas do presídio. Não há luz elétrica. Não há chuveiros. A água é fornecida somente ao fim do dia. O cheiro do local é de causar náuseas”.
Não, o trecho acima não é de algum país miserável ou em guerra. As palavras são nossas, dos presídios capixabas. O horror foi narrado pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), que visitou o Espírito Santo em 2009 e revelou a verdade por detrás das grades: “Encontramos resto de alimentação com água para fermentar bebidas, celas com quatro beliches sem chuveiros, peças de ventiladores para potencializar os celulares e buracos de toda espécie, que escondem armas, drogas, baratas e roedores”.
Na época o Espírito Santo foi parar na ONU por conta de suas masmorras. Os detentos eram jogados em contêineres, carinhosamente apelidados de “cela micro-ondas”. Com capacidade para 144 presos, abrigavam 400 pessoas a uma temperatura que chegava a 45 graus. Não havia médicos, advogados, nem defensores. Presos eram assassinados, esquartejados, e os corpos, desovados dentro de marmitas.
Na véspera da visita da fiscalização, a administração prisional obrigou os detentos a limparem o local. Mas não teve jeito: “Sob as celas encontramos um rio de esgoto, com insetos, larvas, garrafas, comida e sujeira de todo tipo. A profundidade daquele rio chegava a quarenta centímetros”.
Nos últimos 12 anos, o Estado saltou de 2,2 mil para 15 mil presos. Segundo estatísticas governamentais, 250 pessoas são presas por mês e apenas 50 soltas. Somando a conta com a cultura de guerra que diz combater a violência e a lentidão da Justiça, a superlotação é inevitável. Hoje, cerca de 70% dos detentos são presos provisórios que ainda aguardam julgamento!
Diante do profundo problema, o governo vem apostando na incrível ideia de construir novas unidades prisionais. Obviamente, é preciso ampliar
Ao mesmo tempo, as autoridades andam superlotadas de argumentos falhos. Sobre as torturas, dizem que isso “é coisa do passado”. Falam, ainda, que a crise penitenciária é nacional e não uma exclusividade nossa. E, como sempre, acusam os denunciantes de ter interesses obscuros nas alegações. Mas, aqui entre nós, o único interesse obscuro dessa história foi a censura que Elio Gaspari (atualmente como colunista de A GAZETA) sofreu de um jornal capixaba quando escreveu sobre nossas masmorras.
No mundo invisível das prisões, sobra para os agentes penitenciários a função de controlar o incontrolável. E acredite: em 2003, eram apenas 91 agentes em todo o Estado! Nesta semana, os profissionais entraram em greve e fecharam as portas para novos detentos. O governo chamou o movimento de “irresponsável e inconsequente”. Já a faixa na entrada do complexo de Viana foi mais verdadeira: “A ausência do Estado transforma as prisões em escola da criminalidade”.
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O agravamento das masmorras do “novo Espírito Santo” prova que “crescer é com a gente”, sobretudo nos índices de criminalidade e desrespeito aos direitos humanos. Assim, o CNPCP resume a realidade: “Todos nós chegamos à conclusão que nunca havíamos visto tão alto grau de degradação. Poucas vezes na história, seres humanos foram submetidos a tanto desrespeito”.
Bem que o marketing poderia cantar: “Morrer...Esse é o nosso destino...”.
Gabriel Tebaldi - A Gazeta
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