A vida de aposentado não é nada fácil e, no futuro, poderá ser ainda pior. A categoria reclama de arrocho nos benefícios, mas projeções de especialistas mostram que o valor pago pelo INSS ficará menor. Há 20 anos, ganhava-se até 20 salários. Hoje, os mais "avantajados" recebem até 6,5 mínimos. Daqui a 40 anos, o benefício terá no máximo três salários.
Essas previsões podem até parecer pessimistas, mas a verdade é que vai faltar dinheiro daqui a alguns anos para sustentar todos os aposentados.
Os motivos são as mudanças no perfil da população brasileira. Dados do IBGE mostram que hoje existe apenas um 1,5 trabalhador para cada inativo. Em 40 anos, será uma proporção de 1,33 por 1. Isso tudo porque os brasileiros estão vivendo mais e menos gente vem nascendo. Em 2000, o Brasil tinha 1,8 milhão de pessoas com 80 anos. Em 2050, o número estimado é de 13,7 milhões. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostram ainda que em 2030 a população brasileira vai parar de crescer.
Segundo o consultor econômico, Renato Follador, especialista em previdência, seria necessário quatro trabalhadores para um aposentado. "A conta do INSS não fecha faz tempo. Os recursos são insuficientes para manter os benefícios. Sem contar que, além da questão demográfica, o Brasil passa por mudanças no mercado. Com o avanço da tecnologia, o desemprego vai crescer e diminuir o número de contribuintes."
O pesquisador Paulo Tafner, autor do livro Demografia: uma ameaça invisível, explica que daqui a alguns anos, o custo com aposentados vai atingir 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, é utilizado 12%. E a saída para reduzir os gastos e aumentar as contribuições é a busca por formalização. "É necessário criar políticas para incentivar as empresas a contratarem mais e a formalizarem os negócios. O governo deveria amenizar os custos dos negócios, reduzindo taxas do Sistema S, por exemplo, e outros impostos que encarem a folha de pagamento."
4 ideias para mudar
1 Idade mínima.
Uma das ideias é acabar com a aposentadoria por tempo de serviço e criar uma idade mínima para o trabalhador sair da ativa.
2 Prêmio.
Consultores e pesquisadores defendem a criação de políticas para estimular o trabalhador a continuar no mercado. Uma das ideias é oferecer um abono para a pessoa apta a se aposentar que deseja continuar contribuindo.
3 Reduzir a informalidade.
Uma solução é aumentar o número de empresas e empregos formais. Estima-se que mais de 50 milhões de pessoas não contribuem para a Previdência.
4 Jovem.
Criar incentivos fiscais para as empresas que contratarem jovens. Uma ideia é criar alíquotas de INSS diferentes para os mais novos. Em vez de pagar 20% de contribuição, as empresas teriam o encargo de 5% para trabalhadores com idade de até 20 anos. De 21 a 25 anos, a alíquota subiria para 10%. De 25 a 30 anos, 15%. Os demais trabalhadores, 20%.
Eles não querem parar de trabalhar
A aposentadoria chega, mas o dinheiro curto faz com que muitos idosos voltem a rotina do emprego. Os casos no país são muitos. São mais de 17 milhões de pessoas com mais de 65 anos atuando no mercado.
Na informalidade, na iniciativa privada ou até com um negócio próprio. A terceira idade tem encontrado formas de gerar renda para sustentar sua casa. Dona Maria Silvério é um exemplo. Aos 65 anos, ela borda, costura e pinta para tirar o seu sustento. Antes de se entregar a essa atividade, ela vivia apenas com sua pensão de R$ 510.
"Eu passava dificuldade. Fiz os cursos de artesanato na Casa da Mulher e hoje vendo toalhas, panos de prato e outras peças que fabrico para minhas amigas do bairro e para pessoas de fora. As encomendas não param. Além de ser gratificante e de me deixar feliz, meu trabalho faz minha renda quase dobrar, comemora.
A coordenadora de População e Cidadania do Ipea, Ana Amélia Camarano, afirma que a tendência é aumentar o número de idosos no mercado de trabalho. "Muitas famílias hoje vivem do benefício do aposentado. E muitas vezes ele precisa complementar essa renda e como ele ainda tem capacidade de trabalhar, não hesita em retornar. O governo deveria criar mais políticas para incentivar que mais idosos retornem ao mercado de trabalho e faça parte de uma rede de integração social", destaca.
Trabalhador rural: um benefício e um problema
Depois de tantas lutas, os trabalhador rural conseguem se aposentar. O benefício chega até aqueles que atuam na agricultura de subsistência. No entanto, apesar de ser uma vitória, esse direito é um grande problema para os cofres públicos.
A arrecadação anual, segundo a gerente executiva do INSS em Vitória, Aparecida Francis, é de R$ 2,3 bilhões, mas as despesas com o pagamento é de R$ 21,3 bilhões. "A saída para esse problema é a inclusão de mais trabalhadores rurais no sistema formal. Mas o INSS também tem trabalhado de forma sustentável para evitar mais gastos, como suspensão de benefícios indevidos, combate a fraudes e melhoria no atendimento.
Mikaella Campos
http://bit.ly/9397Vi
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