sábado, 27 de novembro de 2010

O PÓS-ELEIÇÃO.

Recebi, dia desses, um e-mail de um amigo com a historinha de alguém que morreu e visitou o céu e o inferno antes de escolher onde queria ficar. No céu tudo era branco e monótono, enquanto no inferno havia competições esportivas, gente bonita e muitas festas. Ao escolher, então, o inferno, quando lá voltou um dia depois tudo estava diferente: muita sujeira, sofrimento e torturas. Ele, então, perguntou: "E onde estão as competições e as festas?". E o diabo respondeu: "É que ontem estávamos em campanha".


Recordei a mensagem ao constatar o discurso pós-eleitoral dos nossos políticos. Agora é austeridade, corte de verbas, impossibilidade de aumentar o salário mínimo, congelamento da tabela do imposto de renda. Durante a campanha eleitoral, tudo era possível: erguer escolas técnicas, creches, clínicas, estradas, portos, reduzir a carga tributária, valorizar o trabalhador e o aposentado. Quanta diferença!

Na campanha, Lula era anunciado como o presidente que mais fez pelo Espírito Santo. Agora, todos se confessam "frustrados" por ter o governo federal honrado apenas 0,25% das emendas coletivas incluídas pela bancada capixaba no orçamento de 2010. A participação dos repasses federais na assistência à saúde diminuiu, deixando a solução das carências cada vez mais nas costas do Estado e dos municípios. Até o governador eleito considera que as emendas incluídas pela bancada no orçamento federal "são de difícil resgate".

Durante a campanha eleitoral tudo é lindo, maravilhoso e possível: "O pobre agora pode comprar geladeira, casa própria, comer bem", dizia a propaganda. Dias depois, o ministro fala em "bolha de crédito", os juros reais pagos pelos brasileiros se mantêm como os maiores do mundo e as prestações após a entrega das chaves dos imóveis são muito diferentes das anunciadas no início da obra. É a hora de cair na real, como se diz no popular.

Não é de se admirar que seja tão baixa a credibilidade dos políticos. As urnas mal tinham sido fechadas quando os governadores eleitos pediram a volta da CPMF, os legislativos e o Judiciário reivindicaram aumentos de suas verbas e salários e os partidos apresentaram as contas com os ministérios e secretarias a que julgam ter direito. É a partilha do poder, espetáculo a que o país assiste ao final de cada eleição. Como os recursos são finitos e a fome de verbas e cargos é ilimitada, não falta quem proponha aumentar ainda mais os impostos.

Enquanto isso, no mundo real, a bandidagem anda solta incendiando automóveis e ônibus em desafio à ação policial, o crack avança vitimando famílias inteiras e o trânsito continua matando mais que a interminável guerra do oriente médio. E se a Grande Vitória ainda está livre, pelo menos por enquanto, das bombas incendiárias - que, aliás, já nos atormentaram no passado -, o mesmo não se pode falar do tráfico de drogas, que impõe a sua lei em 17 bairros enquanto a população, coitada, ainda tem que se espremer nos poucos ônibus que restam de uma greve em que milhões se tornam reféns de meia dúzia.

Só falta - será que falta? - colocar no rosto aquele nariz vermelho de palhaço para fingirmos todos que somos muito, mas muito felizes.

José Carlos Corrêa - A Gazeta

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