quarta-feira, 24 de novembro de 2010

OS CAMINHOS DA OPOSIÇÃO.

Enquanto a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), escolhe nomes para seu futuro ministério e tenta conter a sanha por cargos do aliado PMDB, os dois principais partidos da oposição, DEM e PSDB, juntam os cacos da derrota sofrida na última campanha presidencial. Com menos parlamentares eleitos e divididos internamente, DEM e PSDB se unem em torno de uma só pergunta: como se reestruturar para enfrentar Dilma no Congresso?


Ligados historicamente, as duas legendas podem até afrouxar suas relações em busca dos votos perdidos na última campanha. Na Câmara, o PSDB elegeu 53 deputados federais, 13 cadeiras a menos que na campanha de 2006. No Senado, foram cinco eleitos, um a menos que quatro anos antes.

No DEM, o baque foi ainda maior: o partido perdeu 22 vagas na Câmara (43 deputados federais contra 65 eleitos em 2006). Com os dois senadores eleitos, a sigla tem agora seis cadeiras no Senado. As outras quatro haviam sido garantidas na campanha anterior.

Alguns caciques do DEM defendem que o partido reforce seu lado conservador a partir de 2011, mas essa mudança não é consenso. Ao R7, o senador Agripino Maia (DEM-RN) disse que “não existe isso de ficar conservador”.

- Eu contesto isso. Não tem esse negócio. A linha do partido é atender às necessidades do cidadão brasileiro.

O cientista político da UnB (Universidade de Brasília), Leonardo Barreto, diz que “o DEM tem dificuldades de crescer por estar o tempo todo aliado ao PSDB”.

- O DEM faz uma oposição ferrenha, mas, na hora de colher os frutos, não consegue. Ele precisa criar uma identidade que o obrigue a ter mais candidatos próprios. Hoje ele é um partido satélite.

...Barreto defende o distanciamento do PSDB e o lançamento de um candidato próprio à Presidência que tenha “coragem de apresentar o conservadorismo do partido".


- É questão de vida ou morte para o DEM.

O senador Agripino discorda da opção de se afastar do PSDB.

- Eu defendo a ação conjunta, cada qual desempenhando seu papel. Nada de se afastar ou de se aproximar. Manter a identidade com autonomia.

Já no PSDB, o estrago da última eleição foi tão grande que pode custar aos caciques tucanos de São Paulo o comando do partido.

Enquanto o ex-candidato José Serra lia o adeus ao sonho presidencial na noite de 31 de outubro, seu rival mineiro de legenda, Aécio Neves, ganhava força na legenda.

Depois de ter sua candidatura presidencial rejeitada em favor de Serra no começo do ano, ele se dedicou à campanha pelo Senado. Conquistou a vaga com uma votação histórica, elegeu seu sucessor ao governo de Minas Gerais (Antonio Anastasia) no primeiro turno e se transformou no tucano favorito a disputar a Presidência em 2014.

A vice-presidente do PSDB, Marisa Serrano, disse ao R7 que, apesar de toda popularidade de Aécio, quem manda ainda são os paulistas.

- São Paulo tem maior número de deputados eleitos, e isso influencia muito.

Barreto diz que, se Aécio vencer a queda de braço contra os paulistas, o PSDB fará uma oposição mais moderada, próxima do diálogo. Mas e se os paulistas ganharem?

Se isso acontecer, diz ele, o PSDB vai insistir na aliança com o partido de Agripino e adotar um discurso mais radical, o mesmo que deve ser adotado pelo DEM e pelo PPS.

Para a cientista política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), Maria do Socorro, a oposição deve adiar a votação dos projetos e atrapalhar as votações perdidas.

- Mas uma alternativa é buscar apoio na sociedade civil.

Apesar de Aécio pregar a “refundação do PSDB”, isso dificilmente vai acontecer. Depois de um evento em Belo Horizonte na última segunda-feira (22), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que todos os partidos, num certo sentido, se renovam, mas refundação é uma expressão muito forte.

O que todo mundo concorda é que a saída de Lula do Palácio do Planalto dará fôlego novo à oposição.

O cientista político concorda e diz que Lula foi uma exceção na história dos presidentes.

- Mesmo Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek sofreram horrores na mão da opinião pública. Com a Dilma, as coisas voltam ao normal: o nível de aprovação dela vai variar de acordo com denúncias, ataques da oposição.

Para Agripino, Dilma começa de um ponto muito abaixo do que o Lula.

- Os índices de popularidade dela serão negativos, mas não significa dizer que a oposição vai se beneficiar disso. Quem legitima a vitória não é o resultado das urnas, mas o desempenho do mandato.


Fonte: http://bit.ly/fPswNb

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