Editorial de A GAZETA.
Lula tem tutelado a sua sucessão com zelo nunca antes visto na história deste país. Quer deixar a Casa impecável, na medida do possível. Mas um problema alimentado durante anos pelo atual presidente será transferido em dimensões agigantadas à sua sucessora. É o loteamento de cargos no governo entre a confraria de aliados.
Lula aceitou resignadamente essa feira. Disciplinadamente, abriu mão de vontades por conveniência estratégica ao projeto de eleição de Dilma Rousseff. Mas a fatura pelos serviços eleitorais prestados terá de ser paga a partir de 2011. E as condições para quitá-las são duras. A disputa por cargos atinge tons inéditos de agressividade e terá de ser administrada por uma noviça na política.
Como primeiro grande teste em 2011, o próximo governo terá de dosar com sabedoria sua influência no embate pelo comando do Congresso. Terá de agir com equilíbrio e cautela. A escolha das mesas diretoras da Câmara e do Senado é atribuição direta dos partidos, e eles jogam com a força de suas bancadas. Mas o Executivo participa por meio de parlamentares aliados. Trata-se da construção de alicerces de relacionamento entre o Palácio do Planalto e o Parlamento.
Paralelamente, já é ferrenha a contenda pelos ministérios e órgãos coligados. São 37 pastas, número recorde na história da República, mas acanhado para acomodar a ânsia de muitos que ajudaram a eleger Dilma. A disponibilidade de cargos é menor do que a procura. São 12 os partidos aliados. Os que acumulam maior estoque de votos expresso pelo resultado das urnas tentam manter, no mínimo, a mesma quantidade de ministérios e de direção de estatais que lhes coube na gestão Lula.
Outra característica do confronto de forças pós-eleitoral é que as agremiações que fizeram maior número de parlamentares querem fatia "compatível" no Executivo. Além disso, grande contingente de políticos barrados nas urnas espera colocação no governo. Vários disputaram as eleições conscientes de alto risco do fracasso, mas o fizeram contando com a compensação por parte do governo.
Essa luta mantém uma tradição observada desde bem antes da era Lula: são as tentativas de preservar "feudos" ministeriais. Determinadas pastas são dominadas por partidos ou grupos políticos que delas não querem abrir mão. Na área de energia, por exemplo, o clã Sarney de há muito é atendido com nomeações na administração direta e em empresas estatais.
Declarações do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) feitas sexta-feira à Folha retratam cruamente a luta por cargos. Ele disse que "nós vamos brigar pelo Ministério do Trabalho e por mais um, não sei qual ainda. (...) O PMDB já tem demais. Se você fizer a conta do PMDB, eles têm 78 deputados. Significa que cada 13 deputados ganham um ministério. E eles têm 14 senadores, ou seja, dois senadores e meio têm um ministério. Nós temos 28 deputados e quatro senadores. Então temos direito a dois [ministérios]." Por certo, muitos eleitores não imaginariam que o seu voto iria contribuir para isso. A muitos, causa estarrecimento.
Na briga por espaço no novo governo, um dos aspectos mais delicados é o critério de "porteira fechada". Ou seja, o partido que indicar o titular do ministério também dominará todos os cargos. Resta saber como a presidente da República enfrentará essa pretensão. O governo não pode ficar refém de partidos.
"Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade", disse Dilma Roussef no discurso logo após ser eleita. Essa promessa representa grande esperança da sociedade.
Um dos aspectos da disputa por espaço no governo é o critério de porteira fechada. Ou seja, o partido que indicar o titular do ministério, também dominará os cargos
No discurso após ser eleita, Dilma Rousseff prometeu nomear ministros e equipes de "primeira qualidade". Essa é a expectativa dos eleitores mais esclarecidos
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