A Gazeta
Carlos Alberto Di Franco
Escrevo este artigo antes da abertura das urnas. Mas o tom do segundo turno, marcado por uma participação sem precedentes da cidadania, sobretudo na internet, transmite um forte recado à Presidência da República e ao Congresso Nacional. A eleição despertou algo que estava adormecido na alma dos brasileiros: o exercício da cidadania.
O povo percebeu, finalmente, que os que os governantes são representantes da sociedade, mas não são donos do poder. Assistimos ao estertor dos caciques. Daqui para frente, os políticos serão cobrados e confrontados. Felizmente. Além disso, os brasileiros, mesmo os que foram seduzidos pelo carisma do presidente Lula, não estão dispostos renunciar aos valores que compõem a essência da nossa história: a paixão pela liberdade, a defesa da vida e a prática da tolerância.
A independência é, de fato, a regra de ouro da nossa atividade. Para cumprir nossa missão de levar informação de qualidade à sociedade, precisamos fiscalizar o poder. A imprensa não tem jamais o papel de apoiar o poder. A relação entre mídia e governos, embora pautada por um clima respeitoso e civilizado, deve ser marcada por estrita independência. Temos o dever de demarcar a nossa independência em cada pauta, em cada matéria, em cada entrevista. É isso o que ajuda a construir a democracia.
Um país não pode se apresentar como democrático e livre se pedir à imprensa que não reverbere os problemas do País. O governo Lula, sobretudo no seu segundo mandato, manifestou crescente insatisfação com o trabalho da imprensa. Para o presidente da República - um político que deve muito à liberdade de imprensa e de expressão-, jornalismo bom é o que fala bem. Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda, irrita e "provoca azia". Está, na visão de Lula, a serviço da "elite brasileira". Reconheço, no entanto, que Lula e seus companheiros não são críticos solitários da mídia. Políticos, habitualmente, não morrem de amores pelo trabalho dos jornalistas.
Um país não pode se apreAlém da defesa da liberdade de imprensa e de expressão, os eleitores deram um forte recado em favor da vida. O passado de Dilma Rousseff e suas declarações pró-aborto causaram o segundo turno. Ela acusou o golpe. Por isso, os debates foram marcados por surpreendente engajamento dos candidatos no discurso em favor da vida. O brasileiro é contra o aborto. Não se trata apenas de uma opinião, mas de um fato medido em inúmeras pesquisas. A última, do Datafolha, foi eloquente. Mais de 70% dos brasileiros são contra o aborto. Por isso, o governo precisa ir devagar com o andor. A legalização do aborto seria uma ação nitidamente antidemocrática.
O terceiro recado, claro e nítido, foi o do repúdio à intolerância. A agressividade de Lula e seus destemperos verbais também empurraram a eleição para o segundo turno. A radicalização ideológica não tem a cara do brasileiro. O PT tenta dividir o Brasil ao meio. Jogar pobres contra ricos, negros contra brancos, homos contra heteros. Quer substituir o Brasil da alegria pelo país do ódio e da divisão. Tenta arrancar com o fórceps da luta de classes o espírito mágico dos brasileiros. Procura extirpar o DNA, a alma de um povo bom, aberto e multicolorido. Não quer o Brasil café-com-leite. A miscigenação, riqueza maior da nossa cultura, evapora nos rarefeitos laboratórios arianos do radicalismo petista.
Um país não pode se apreEstá surgindo, de forma acelerada, uma nova "democracia" totalitária e ditatorial, que pretende espoliar milhões de cidadãos do direito fundamental de opinar, elemento essencial da democracia. Se a ditadura politicamente correta constrange a cidadania, não pode, por óbvio, acuar jornalistas e redações.
O primeiro mandamento do jornalismo de qualidade é, como já disse, a independência. Não podemos sucumbir às pressões dos lobbies direitistas, esquerdistas, homossexuais ou raciais. O Brasil eliminou a censura. E só há um desvio pior que o controle governamental da informação: a autocensura. Para o jornalismo não há vetos, tabus e proibições. Informar é um dever ético. E ninguém, ninguém mesmo, impedirá o cumprimento do primeiro mandamento da nossa profissão: transmitir a verdade dos fatos.
Carlos Alberto Di Franco é professor de Ética e doutor em Comunicação.
difranco@iics.org.br
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