Festa boa não deve ter perturbação entre os convivas. Mas alguns fatos na política brasileira inquietam a muitos que celebram o melhor momento da economia do país em sua história recente.
O crescimento do PIB próximo a 8% é um fato inusitado na transmissão dos governos da república. O reflexo está no pleno emprego (era difícil imaginar que o Brasil chegasse a isso) nas principais regiões metropolitanas. Foram gerados mais de 2,5 milhões de vagas formais de janeiro a novembro deste ano. A mobilidade social é a maior vista em muitas décadas. O crescimento da renda média da população é generoso, e os contratos de crédito no sistema financeiro saltaram de uma soma equivalente a 19% do PIB no início da década para cerca de 48% hoje.
Mas existem os que tiram proveito desse momento de festa econômica para praticar espertezas políticas. Apostam que o clima de otimismo em relação ao país misturado às celebrações de fim de ano é propício para iniciativas que não deveriam ser tomadas.
Com a economia bombando e oposição ao governo enfraquecida após as eleições, o presidente Lula não perde oportunidade de fazer apologia à elevação da carga tributária. No eco desse discurso, já em novembro vários de seus asseclas tentaram ressuscitar a CPMF. Ninguém defendeu isso na campanha em busca dos votos da população. Seria estelionato eleitoral.
Até o dia 31 deste mês, se o governo não corrigir, pela variação da inflação, a tabela do Imposto de Renda das Pessoas Física, estas terão carga tributária aumentada a partir de janeiro de 2011. Curiosamente, ao contrário do que ocorreu no passado, as centrais sindicais não estão pressionando o governo para atualizar os valores dessa tabela.
Além disso, dois fatos no campo político devem ser rechaçados com mais veemência do que se tem notícia, até agora. Um deles é a vergonhosa feira de cargos no Executivo federal, com cópia em vários Estados. Demonstrações de fisiologismo e práticas de compadrio estão ocorrendo escancaradamente, sem a menor cerimônia dos atores.
E, para dar o arremate nesse triste quadro, deputados federais e senadores se presentearam com o gritante aumento de 61,8% nos seus benefícios. Com isso, os salários dos nossos congressistas ficam quase seis vezes mais altos do que os de seus pares argentinos, 8% a mais do que os dos colegas nos Estados Unidos, e 84% maiores do que os dos britânicos, segundo pesquisa feita pela BBC Brasil.
Matéria publicada em o Globo mostra que o mandato de cada deputado federal custará, mensalmente, aos cofres públicos entre R$ 116 mil e R$ 131 mil, podendo chegar a R$ 1,56 milhão por ano. O de senador fica entre R$ 130 mil e R$ 159 mil por mês, atingindo R$ 2,03 milhões/ano. É desrespeito à população.
Editorial de A Gazeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário