Sendo a transparência um princípio inarredável nas relações entre poder público e mercado, o último relatório de inflação da gestão Henrique Meirelles redimiu o Banco Central da indecisa ata do Comitê de Política Monetária, divulgada há uma semana.
Não precisava de documento algum para todo mundo saber que o aperto monetário em curso será ainda maior. Até porque os juros já subiram em dezembro. Mas foi bom o relatório. Indica que não haverá descontinuidade da atuação do BC. E que haverá mais aperto no início de 2011. Afinal, a gestão pós-Lula está herdando inflação anual de 6% (mesmo com a elevação do compulsório).
Representa muita distância em relação ao centro da meta, que é 4,5% pelo IPCA. Se fosse para cometer a irresponsabilidade de fazer de conta que esse nível de inflação é apenas marolinha, certamente Alexandre Tombini não teria sido convidado para suceder Meirelles. Eles pertencem à mesma escola.
Por falar em depósito compulsório, deve-se ter presente, de forma muito nítida, que o aumento iniciado neste mês tem a função de não deixar crescer uma desaconselhável bolha no sistema financeiro. O crédito bancário está subindo em proporção muito rápida no Brasil, diz o BC, embora essa visão não seja unânime. A questão está em saber qual o volume de capital que deve estar girando de modo absolutamente sadio, ou seja, sem botar muito combustível na inflação (pelo consumo excessivamente financiado), nem vulnerabilizar a economia (mais do que os riscos inevitáveis) a pancadas cíclicas.
Em princípio, o estoque de crédito bancário equivalente a 48% do PIB não é nada demais. Ao contrário, é modesto na comparação com países muito mais competitivos do que o nosso. O que chama a atenção é a velocidade de expansão do crédito. Há cinco anos, correspondia a apenas 25% do PIB. Outro detalhe: o "boom" é direcionado principalmente ao consumo (via modalidade consignada). Já o financiamento dos investimentos não cresce tanto assim.
Por tudo isso, apesar de o Brasil já praticar os maiores juros do planeta, disparadamente, o relatório do BC adverte, com clareza, que há necessidade de aumentá-los ainda mais no curto prazo. "Importante destacar que, no regime de metas para a inflação, desvios em relação à meta, na magnitude dos implícitos nessas projeções, sugerem necessidade de implementação, no curto prazo, de ajuste na taxa básica de juros, de forma a conter o descompasso entre o ritmo de expansão da demanda doméstica e a capacidade produtiva da economia, bem como de reforçar a ancoragem das expectativas de inflação", ressalta o documento.
O recado está dado, e o mercado já trabalha em função de juros mais altos. Não há mudança de cenário. Apenas progressão do arrocho já existente. Além da Selic já muito alta, e do depósito compulsório maior, a precaução contra a bolha do crédito recomenda aos bancos ter sempre um bom colchão de capital. Significa menos dinheiro para crédito.
Conter o quanto antes o avanço da inflação ajudará o governo Dilma a conquistar credibilidade junto ao mercado financeiro. Para isso não basta elevar os juros. Espera-se que, muito em breve, a presidenta anuncie um programa de cortes nos gastos de má qualidade.
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