sábado, 25 de dezembro de 2010

QUÉRCIA, POLÊMICO E DECISIVO.

Maurelio Menezes



Em 1974, fui um dos jovens que se transformaram em cabos eleitorais de um jovem candidato ao Senado e o ajudaram a se transformar no Homem de Seis Milhões de Votos. Proporcionalmente é a maior votação que alguém já conseguiu no país, um número que dificilmente alguém alcançará. Orestes Quércia, um jovem empresário da área de Comunicação que havia sido prefeito e deputado estadual em Campinas era, para nós, a encarnação do novo, a possibilidade de uma representação no antiquado senado, tradicionalmente um reduto, para nós, das velharias da política nacional. O discurso que ele preparou para a posse era a concretização do que esperávamos. Ele seria mesmo a nossa voz: iria denunciar as perseguições dos militares e de políticos da direita conservadora à juventude e aos que lutavam pela democracia no Brasil.

No dia da posse o Correio Brasiliense estampou a manchete : Quércia é Corrupto! Ficamos indignados com aquela manifestação de um jornal vendido, como tinhamos certeza que era o CB. Mas veio a posse, com ela um discurso brando, vazio mesmo. Das denúncias fortes prometidas, nada. Nos quatro anos seguintes, o jovem Senador ficou escondido. Foi como se não tivesse sido eleito. Aos poucos a ficha caiu: os militares, via SNI, investigaram a vida dele e descobriram o que anos mais tarde todo o país comentaria. Quércia estava envolvido em todo tipo de falcatruas possiveis e imagináveis. A manchete do Correio Brasiliense fora apenas um recado do tipo Nós sabemos o que você andou fazendo por ai, logo fique quietinho senão... Para mim e para outras centenas de voluntários cabos eleitorais que nessa época íamos às ruas ideologicamente, foi uma decepção e, ao mesmo tempo, um aprendizado que se ajudou a solificar a defesa da necessidade de sempre se duvidar, seja lá do que ou de quem for.

O mesmo Quércia que se apequenou diante da manchete do CB (e certamente o fez porque tinha mesmo o rabo preso) foi fundamental, quase vinte anos depois no primeiro grande teste de sobrevivência da jovem Democracia brasileira. Quando o governo Collor começou a fazer água devido a denúncias do irmão Pedro (que certamente só as fez por não ter seus interessentes atendidos pela duplaF Collor - PC Farias ou mesmo por se sentir ameaçado pelos dois), o PMDB partido mais forte do país, que tinha em Ulysses Guimarães seu grande líder, era contra o impeachment. e sem o apoio dos peemedebistas Collor não seria deposto. Lula presidia o PT nessa época. E Tasso Jereissati presidia o PSDB, que nascera extamente pela existencia e pela prática política de Quércia (ele, eleito vice governador de Franco Montoro em 1982, foi aos poucos cooptando a peso de ouro os fisiologistas do partido -que eram maioria-, o que fez com que descontentes como Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, o próprio Montoro, Sérgio Motta, José Serra, entre outros, se rebelassem e criassem um novo partido baseado na Social Democracia, o PSDB).

Lula se reuniu com Tasso (que ironicamente hoje ele tem como inimigo declarado) e juntos foram a Quércia. Ninguém, a não ser o proprio Lula e Tasso, sabe os termos da conversa, mas a partir dessa conversa Quércia se transformou no cabo eleitoral número um do impechment, patrolando lideres como Ulysses e Sarney. Ulysses que não era bobo nem nada, quando percebeu que estava perdendo o bonde da história, virou o jogo, assumiu a luta contra Collore acabou ficando com as glórias, se bem que por pouquissimo tempo porque duas semanas depois da votação do impechment ele morreria num acidente aéreo aqui no litoral do Rio.

Com o enterro do corpo de Quércia hoje em São Paulo enterrou-se parte da história política do Brasil, uma história dúbia por excelência em que a esperança de hoje é a decepção de amanhã, os vilões de hoje são os heróis de amanhã e que o povo nunca é convidado para participar da costura dos acordos celebrados por amigos de hoje que serão inimigos amanhã e especialmente das decisões que mudam a vida dele, embora lhes vendam a ilusória sensação que, ao eleger seus representantes, está decidindo o futuro do pais.

Fonte: Olhares Menezianos. http://bit.ly/gLlmQ8

Um comentário:

  1. A lembrança queu eu tenho de Quércia, do tempo em que vivia em São Paulo é de decepção, mais um político corrupto, foi o que ficou gravado em minha memória.

    ResponderExcluir