domingo, 26 de dezembro de 2010

SEMPRE MAIS DO MESMO.

Paulo Hartung dominou a Assembleia Legislativa e o cenário político de uma maneira geral. Renato Casagrande fará a mesma coisa. Numa ocasião, vi um político capixaba das antigas perguntar privadamente a Casagrande se ele seria um "czar". Sua resposta foi: "O meu estilo é diferente". É verdade. A partir do ano que vem, o clima para críticas públicas deve se tornar mais desanuviado. Porém, do ponto de vista qualitativo, nada vai mudar.


É curioso observar como a elite política do nosso Estado se porta perante Paulo Hartung. Publicamente, o atual governador é um santo. Pelas costas, os políticos adoram lançar-lhe epítetos, do tipo "imperador", "czar" ou coisas assim. A insatisfação com uma suposta capacidade de perseguir e destruir os inimigos, que é atribuída a Hartung, é muito disseminada.

A única pessoa que teve coragem de trazer o assunto a público foi o deputado federal Luiz Paulo Vellozo Lucas. Ele usou um termo de origem marxista para falar da concentração de poder em torno de Hartung, quando afirmou que havia uma "unanimidade bonapartista" no Estado. Posteriormente, preferiu uma terminologia mais adequada ao seu perfil neoliberal, que é "condomínio de poder".

A economia capixaba é altamente concentrada em poucas empresas muito grandes. Ao mesmo tempo, a Sociedade Civil é marcada por lideranças conservadoras (de tipo empresarial, religioso, corporativo), e concentradas geograficamente (mesmo nas cidades da Grande Vitória). A soma destes elementos não cria condições favoráveis a uma autêntica representação de interesses coletivos alicerçada em projetos alternativos. Quando o governo vai mal (Albuino, Vitor Buaiz, José Ignácio), a dispersão de lideranças abre espaço para a chantagem e a ascensão de práticas criminosas.

Quando o governo vai bem, é lógico que o chefe do Executivo concentre poder, visando diminuir o espaço de manobra dos adversários. Hartung foi o primeiro a ter condições para fazer isso em muitos anos. Nestas circunstâncias, só restou aos prejudicado as lamúrias em conversas de pé de ouvido.

Os que acham que Casagrande é "bonzinho" estão enganados. Ele cresceu na política enfrentando inimigos, fazendo alianças, ganhando e perdendo. Ele está recebendo uma boa herança. Trabalhará por oito anos de mandato e fará o que é natural no nosso caso: atrair lideranças, esvaziar a oposição e comandar o processo político-partidário. O estilo será diferente, mas o resultado será o mesmo.

André Pereira é professor da Ufes.

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