sábado, 25 de dezembro de 2010

NADA DE NOVO NO FRONT.

DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo


E para terminar o ano mais um escândalo no Congresso, mais caos nos aeroportos e mais um discurso de emotiva autoexaltação logo mais à noite na despedida do presidente Luiz Inácio da Silva em rede nacional.

A boa notícia é que Lula deve se aquietar em merecido descanso (de parte a parte) por alguns dias antes de voltar a falar de si dia sim outro também.

Por ora, nada de novo no front: os aeroviários fazem uma abjeta chantagem com a população que neste fim de ano enche os aeroportos por causa das férias e das festas, enquanto o presidente, indiferente aos malefícios gerais, desfila para cima e para baixo declarando-se o melhor governante de todos os tempos.

Aos passageiros, claro, resta enfrentar mais uma vez sua saga de Natal.

No departamento de escândalos, outra vez juntam-se Legislativo e Executivo na produção de um vexame envolvendo ministro indicado pela presidente que toma posse daqui a nove dias. Como ensaio geral não poderia ser mais significativo.

Pedro Novais apresentou pedido de ressarcimento de R$ 2.156,00 relativos a despesas no Motel Caribe em São Luís do Maranhão, seu domicílio meramente eleitoral, pois mora no Rio.

Indicação do PMDB sob o gentil patrocínio do presidente do Senado, José Sarney, e do líder do partido da Câmara, Henrique Eduardo Alves. Explicação da excelência?

"Não enche o saco", disse ao repórter Leandro Colon, do Estado, com a fidalguia inerente à estirpe.

Difícil saber o que é pior: o deputado cobrar, a Câmara pagar a conta da festa no motel, o PMDB indicá-lo para o ministério ou a presidente e a equipe de transição aceitarem a indicação sem procurar saber nada sobre a conduta da pessoa a quem entregarão uma pasta que liberou irregularmente dinheiro de emendas parlamentares, cujo orçamento em 2010 foi de mais de R$ 4 bilhões.

Talvez Pedro Novais não emplaque no ministério, mas o padrão está sinalizado. Na Câmara, as regras ditas moralizadoras, baixadas depois do escândalo da farra das passagens aéreas, dão a cada deputado entre R$ 15 mil e R$ 32 mil a título de verba indenizatória para fazer o que quiser. Inclusive festas em motéis.

Sobre os aeroviários, aprenderam o caminho das pedras em 2006, com os controladores de voo, e desde então o Natal é o mesmo inferno. Não só por causa deles.

A incúria e a imprevidência governamentais, a cobiça e o desacato das empresas aéreas em relação ao consumidor estão na origem de uma situação que faz milhões de brasileiros reféns indefesos de agonia sem remédio e dão ensejo a um movimento salarial de natureza criminosa.

Isso porque Nelson Jobim iria dar um jeito no setor. Três anos depois Lula ainda sai dizendo que "onde houver um brasileiro sofrendo quero estar espiritualmente ao seu lado".

Com toda certeza, os prisioneiros do caos prefeririam a sua parte em respeito, um mínimo de organização, atenção ao bem-estar da coletividade e menos empenho estritamente eleitoral.

Público alvo. José Serra não diz palavra a respeito, mas o gestual é todo de quem não tem a mínima intenção de se declarar fora do jogo eleitoral. Para presidente em 2014.

Com foco especial no milhão de correspondentes por e-mail e 580 mil seguidores no Twitter.

Cadeira cativa. Pensando bem, por que tanto interessa aos irmãos Ferreira Gomes (Ciro e Cid) o controle da Secretaria dos Portos?

O atual, Pedro Britto, foi secretário de Fazenda do Ceará e tesoureiro da pré-campanha de Ciro. O futuro, Leônidas Cristino, é prefeito de Sobral (CE), berço dos irmãos.

Até onde a vista alcança, não dá para enxergar como entraram os portos na história.

Votos de vida. Bom Natal, excelente virada de ano e até 2 de janeiro de 2011, já sobre a posse de Dilma Rousseff.

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