Há não muito tempo, uma professora de Jornalismo de São Paulo foi convidada por um órgão do Espírito Santo para dar uma palestra sobre imprensa e violência, no auditório da Rede Gazeta. Chegou com a pompa dos sábios. E soltou algumas das maiores asneiras já perpetradas no auditório da Rede. Entre outras, ela disse: "Nós sabemos como funcionam as Redações. Final de noite, um editor de um jornal liga para outro e pergunta se ele não tem algo para ajudá-lo a fechar a primeira página..."
Assustador não é uma professora falar uma bobagem dessas, sem noção do nível de concorrência existente em todas as Redações. Assustador é o fato de essa ideia ter, de certa forma, ganhado contornos definitivos em grande parte da sociedade, notadamente durante o governo Lula. Para boa parte dos consumidores de informação, existe mesmo uma espécie de telefone vermelho na sala de cada diretor de Redação, acionado sempre que necessário. Ele colocaria em contato todas as Redações do país e é tirado do gancho para os mais diversos assuntos. Do noticiário sobre futebol às notícias a respeito da falta de verbas em prefeituras, da cobertura do último escândalo oficial ao relato sobre a mais recente opinião do papa sobre o aborto, a atuação da imprensa (principalmente da chamada grande imprensa) vem sendo colocada sob suspeita constante. E injustificadamente.
Há uma evidente ideologização nesse movimento. E ela acontece por um fato inquestionável: diante de uma oposição praticamente inexistente, coube à imprensa a tarefa, fundamental, de ser o único contraponto ao governo Lula. O presidente e seus aliados nunca se conformaram com isso, afinal, a estupenda popularidade do presidente o colocaria num patamar de intocabilidade. Não é assim e não pode ser assim. A unanimidade só não é mais tacanha do que a pretensa sapiência de quem imagina poder fazer palestras sobre assunto sobre o qual nada sabe. 2010 será um ano marcado pelo emburrecimento do debate nacional. E, sob esse aspecto, é um ano para ser esquecido.
Antonio Carlos Leite
A Gazeta.
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