sábado, 18 de dezembro de 2010

O DISCURSO DA DISCÓRDIA.

Lembrando que nós não construímos o futuro pensando no passado; e não nos preparamos para o futuro com as mesmas estruturas do passado. Houve equívocos e erros nos processos e conflitos internacionais. Por exemplo, na Segunda Guerra Mundial, quando generais franceses prepararam-se para a guerra do passado e para o conflito do passado e encontraram, na Segunda Guerra Mundial, o conflito do futuro.


“O permanente zelo pela imagem da instituição a que pertencem também é um dos apanágios dessa necessidade. Também é importante considerar a claríssima defesa do Estado Democrático de Direito ea subordinação do poder militar à autoridade civil democrática instituída no país. Em qualquer situação nós teremos duas ferramentas que podemos socorrê-los: a firmeza de princípios, a honestidade de propósitos e o compromisso com as estruturas democráticas.” (Ministro Nelson Jobim, na AMAN, 4/12/1010) (Os destaques em azul são da autora deste artigo.)

Dizem alguns que o ministro da Defesa não se referiu nominalmente ao Pres. Médici, na solenidade, na AMAN. Ora, fez pior, omitiu-o e substituiu-o por “2010”.

Num discurso, ainda mais sendo político, ainda mais dirigido a militares, não é conveniente explicitar fatos nem nomes, justamente para que sejam enviadas, sem imediatos efeitos dolosos, as partes que funcionam como flechas em direção a um certeiro alvo. O contexto situacional já informa o endereço exato para onde elas foram enviadas.

As formas sub-reptícias ou subentendidas, que a retórica oferece por meio de atenuações, enganam aqueles que se empolgam com a seleção das palavras, mas não se detêm no seu efeito semântico devastador. Górgias, sofista grego, usava deste artifício com maestria, daí ser considerado um dos maiores de seu tempo. Sabia escolher as palavras sonoras para esconder as armadilhas de seu conteúdo e, ao mesmo tempo, encantar os ouvidos dos incautos.

De acordo com a cópia deste discurso, divulgada na internet, dias após o ocorrido, dois parágrafos (epígrafes a este artigo), apresentam trechos, destacados por mim, compostos de palavras bem no estilo jagunço de Brasília.

Sem citar o nome de Médici, a ele se refere, no primeiro trecho, ao incomodar-se com a homenagem a este Presidente, responsável pelo desenvolvimento do Brasil, preocupado, unicamente, em eliminar os óbices que o mantinham estagnado. Foi no governo deste Presidente, entre outras obras, que se construíram hidroelétricas, foi criada a previdência rural e quanto à segurança urbana, era um fato.

É claro, senhor ministro, que temos que “construir o futuro”, baseando-nos nos acertos do passado, para que não cometamos os erros como os de hoje, que solapam o dinheiro do contribuinte, para obras eleitoreiras do seu governo e, naturalmente, do próximo, filho do primeiro.“Somente os tolos não aprendem com a experiência dos outros”, disse o chanceler alemão Bismarck. Portanto, não sou eu que o chama de “tolo”.

Lembrar o passado é comparar governos e isto não é admissível às altas esferas governamentais, sabedoras de que o Presidente Médici é imbatível em termos de administração do País e, o que dói mais, de proba reputação. Isto ofende o governo que pretende se perpetuar no trono planaltino, para o trabalho nefasto de desconstrução do País.

Se isto não for suficiente, o segundo trecho não passa de uma revanchista e odiosa provocação aos militares. Senhor ministro, eles já sabem que, pelo organograma do Ministério da Defesa, os subórgãos onde se encastelam civis escolhidos por critério político e não meritório, põem lá para baixo os Comandos Militares e os Estados-Maiores, portanto, não precisa se vangloriar de que eles estão submetidos a civis que nada sabem de Defesa Nacional, nada entendem de Estratégia de Defesa, de Logística nem de Mobilização. Alguns até sabem, são os laboriosos pesquisadores, mas relegados a segundo plano, pelo fato de serem bem-intencionados.

Esse trecho do discurso ministerial seria o bastante para que os militares se entreolhassem e resolvessem pôr a onça para rugir. Sabem eles que, no momento em que a sociedade faz um gesto de reação (lembrai-vos das queimas de ônibus e carros) é aos quartéis que vão recorrer os civis desses escalões setoriais superiores, porque a responsabilidade dos militares independe da existência ou não do MD. Eles já têm planos previamente traçados para qualquer eventualidade que ocorra no País, enquanto a Estratégia Nacional de Defesa (END) não sai das maltraçadas linhas com a mesma urgência com que foi assinado o Decreto que a instituiu.

Como sempre, no final do ato, saem as tropas e entram os políticos com ar de preocupação, para receberem os aplausos finais (os votos).

A luta continua, sem trégua!

Prof.ª Aileda de Mattos Oliveira

(Membro da Academia Brasileira de Defesa)

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