quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O PIOR LEGADO DA ERA LULA.

Síntese: A gestão Lula valeu-se sobejamente das condições favoráveis que o processo histórico lhe legou, mas o PT requisita para si o papel de protagonista privilegiado e exclusivo das transformações. A verdade é que nunca antes se viu um governo que compactuasse tanto com a corrupção e os escândalos. Sob o manto protetor da popularidade sem precedentes, Luiz Inácio Lula da Silva agiu como se pairasse acima do bem e do mal. Seus atos acabaram por transmitir à sociedade uma espécie de salvoconduto para o erro, uma aprovação prévia ao malfeito, uma leniência ante os desmandos e uma condescendência com quem age fora da lei. Uma herança maldita.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer deixar à História a tarefa de julgá-lo. Como só se contenta com o papel de protagonista, pretende ele mesmo emitir os juízos sobre sua obra. Daí ter mandado deitar em tinta, ao longo de mais de 2 mil páginas, o registro do que sustenta ter feito pelo país nos últimos oito anos. Papel aceita tudo, mas a realidade corre a léguas do que prega o discurso oficial do PT.

É fato que o Brasil experimenta um momento de rara estabilidade política e econômica, com vigor poucas vezes visto na nossa história. Mas isso não é algo que começou a ser construído no passado recentíssimo. Trata-se de processo iniciado a partir da redemocratização do país, ocorrida em 1985 após o país ter atravessado 21 anos sob regime militar. São, portanto, duas décadas e meia de sucessivos avanços e que ora vão encontrando seu estuário.

O governo Lula valeu-se sobejamente das condições favoráveis que o processo histórico lhe legou. Recebeu uma “herança bendita” de conquistas incrementais alcançadas ao longo dos mandatos de vários presidentes da República, mas radicalmente aprofundadas nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, quando os brasileiros conquistaram a tão sonhada estabilização da moeda.

Hoje, as forças políticas brasileiras relevantes comungam valores e princípios. O sistema político e econômico brasileiro exibe vitalidade e, sobretudo, amadurecimento. Há amplo consenso em torno de preceitos como a estabilidade econômica, a responsabilidade fiscal e o respeito à democracia.

Mas nem sempre foi assim: na oposição, o PT tentou obstruir muitos dos avanços institucionais que fazem do Brasil hoje um país melhor para se viver.

Contra tudo e contra todos

Não custa lembrar: o partido de Lula negou-se a votar em Tancredo Neves no colégio eleitoral e ainda expulsou seus parlamentares que apoiaram o presidente eleito. Em seguida, negou-se a assinar a Constituição de 1988. Negou-se a apoiar o governo Itamar após o impeachment de Fernando Collor em 1992. Negou-se a apoiar o Plano Real, que, a partir de 1994, estabilizou a economia brasileira após várias tentativas frustradas. Votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que impôs rigor ao trato dos recursos públicos.

Alçado ao comando da nação sob a promessa da mudança e da transformação social, alguns esperavam que o PT exercitasse o viço da renovação e da ética com que acenara ao longo dos 22 anos em que lutou para chegar ao poder. Os oito anos do governo de Lula permitem concluir que o petismo esteve longe de
preencher tais expectativas.

Foi notável o conservadorismo que dominou o governo do Partido dos Trabalhadores. Isso se deu em duas frentes fundamentais: na economia e nas relações políticas tecidas entre o PT e seus muitos aliados, uma extensa gama de apoios urdidos supostamente para garantir a governabilidade do país, mas que se notabilizou por apenas organizar-se para repartir entre si o butim de benesses públicas.

Ao chegar ao poder, o partido de Lula aposentou a retórica revolucionária que lhe serviu de mote desde a sua fundação. Para a sorte do país, os fundamentos econômicos foram preservados, mantendo intactos os esteios antes demonizados pelo petismo. Neste aspecto, foi ótimo que o PT tenha agido assim: qualquer alternativa distinta possivelmente teria posto o país no caminho da desintegração.

Escândalos em série

Foi na prática política que o PT conseguiu ser lamentavelmente mais retrógrado. O governo de Lula protagonizou o maior escândalo de corrupção da história brasileira, o mensalão. O esquema de desvio de dinheiro público para a compra de apoio parlamentar envolveu o coração do projeto de poder petista, a
ponto de implodir nomes que sempre figuraram como prováveis sucessores naturais de Lula.

Mas a chaga da corrupção no governo do PT é mais profunda e espraiou-se pelo aparato estatal com desenvoltura há muito tempo não vista. Prova disso é que, desde que Lula chegou ao poder, nove dos seus ministros foram exonerados por uso indevido de dinheiro público. A lista de malfeitos é longa.

Começa em 2004 com o flagrante de corrupção de Waldomiro Diniz, braço direto do então todo-poderoso José Dirceu na Casa Civil; passa pelo mensalão; inclui os aloprados e seus dólares em pacotes e cuecas; e retorna ao Palácio do Planalto com o balcão de negócios escusos tocados em família por Erenice Guerra, fiel escudeira da presidente eleita. Não se deve esquecer o uso descarado do aparelho estatal para perseguição a adversários políticos, do qual a Receita Federal foi o exemplo mais vistoso.

O partido que se preparou durante mais de duas décadas para assumir o governo em nada aperfeiçoou a política brasileira. Pelo contrário: ressuscitou as piores práticas de exercício do poder, o compadrio político, o clientelismo; deu vida nova a carcomidas lideranças comprometidas unicamente com o atraso do país. A partilha fisiológica do Estado foi escancarada sem qualquer constrangimento por parte dos comensais governistas.

Herança maldita

O amálgama da ação política petista completa-se com a aversão ao contraditório. Os partidários de Lula cultivam uma incômoda convivência com a crítica, atribuindo-o a quem, supostamente, não se conforma com as alterações sociais em marcha no país. Nada mais natural num governo que conviveu despudoradamente com osescândalos. Ninguém foi punido; muito pouco foi apurado; quase nada foi repreendido. Com a descoberta do mensalão, o PT desceu aos mais baixos níveis da prática política brasileira. Mas como agiram Lula e os seus subordinados diante deste fato? Sustentaram que todos são iguais nos malfeitos, apostaram no nivelamento por baixo das forças políticas.

O próprio presidente da República endossou e encampou a máxima segundo a qual “se todos fazem errado, por que não o PT?” A máquina oficial de propaganda cuidou de disseminar a tese, espraiando-a entre os seguidores petistas e nas instâncias de formação da opinião pública. O preço pago pelo país veio na forma de indesejável retrocesso político, no qual ainda estamos mergulhados.

O PT requisita para si o papel de protagonista privilegiado e exclusivo do processo de transformações históricas. É, pois, esta a razão do seu mote permanente: o de que está, agora, a fazer o que nunca antes foi feito no país. É verdade: nunca antes o país assistiu a um governo que compactuasse com tamanha lassidão com os escândalos.

Sob o manto protetor da popularidade sem precedentes, Luiz Inácio Lula da Silva agiu como se pairasse acima do bem e do mal. Seus atos acabaram por transmitir à sociedade uma espécie de salvo-conduto para o erro, uma aprovação prévia ao malfeito, uma leniência ante os desmandos e uma condescendência com quem age fora da lei. Este é o pior legado da Era Lula.

Uma herança maldita que nem os malabarismos retóricos do presidente, seu desprezo pelo processo histórico, suas tentativas de reescrever o passado, sua atrasada prática política e sua lamentável forma de se relacionar com a democracia serão capazes de dissimular.

Fonte: http://bit.ly/hdIrOU

Um comentário:

  1. O que se pode fazer com um País, onde parte do povo chora ao ver seu Presidente terminar seu mandato como se fosse um santo? O que fazer com um País em que os eleitores votam por uma bolsa- família???O que fazer com um País em que os Políticos aumentam seu salário em 65%? Infelizmente a herança maldita é nossa. Pobre Brasil!.

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