sábado, 18 de dezembro de 2010

O LEGADO DE HARTUNG.

Duas são as principais marcas do legado que Paulo Hartung deixa aos capixabas ao final do seu governo. A primeira delas é o que ele gosta de chamar de "travessia", ou seja, a passagem de um período em que o poder era dominado por interesses ligados a um patrimonialismo explícito e exacerbado para outro em que os valores republicanos emergiram em uma saudável onda moralizadora que deu um novo perfil à política capixaba. A segunda, obtida como consequência da primeira, é a recuperação da capacidade de investimento do Estado que atinge, nesses três últimos anos, a inédita marca de 15% do orçamento.


Só quem acompanhou as duas últimas décadas da história do Espírito Santo pode aquilatar em toda a sua dimensão a mudança ocorrida na política capixaba no governo Paulo Hartung. Os anos 1990 foram marcados pelo fortalecimento progressivo de uma rede de poder montada a partir do legislativo de tal ordem que quebrava a resistência de quem ousasse a se opor aos seus interesses. A história ainda há de registrar o cerco sofrido pelos governos que se sucederam, a partir desta época, a ponto de se tornarem reféns ameaçados permanentemente por processos de impeachment e de rejeição de contas.

O ambiente de crise crônica enfraquecia o executivo e levava à desorganização administrativa, ao descontrole dos gastos públicos e ao comprometimento da imagem do Estado perante o país. Empresas, como a Xerox, chegaram a sair do Estado como represália à chantagem a que eram submetidas por agentes públicos. É emblemático o episódio, sempre citado por Hartung, em que a Assembleia aprovou uma lei, só depois derrubada pelo Supremo, que proibia o cultivo do eucalipto para fins de produção de celulose, em uma clara e explícita pressão sobre a Aracruz, que recusava a se submeter aos interesses da tal rede de poder.

Hartung venceu as eleições, no final de 2002, levantando a bandeira da moralização. Mas poucos acreditavam que ele seria capaz de fazer o que fez, ou seja, assumir o governo e conseguir apoios suficientes para desmantelar a até então inexpugnável rede de poder. Para tanto valeu até dar "cavalo de pau" na eleição da Mesa Diretora da Assembleia, o que foi equivalente ao que na 2ª Guerra se chamaria dinamitar o "bunker" inimigo. A capacidade de aglutinação de Hartung transformou esses apoios em uma quase unanimidade que perdurou durante todo o seu governo e resistiu até mesmo, graças à sua habilidade, aos mares revoltos da recente campanha eleitoral.

Alguns chegaram a criticar a tal unanimidade como se ela fosse contrária aos ideais democráticos. A unanimidade, no entanto, só deve ser condenada quando obtida pelo autoritarismo e pela força. O consenso em torno de Hartung, ao contrário, era, e ainda é, um movimento legítimo e democrático que emergiu espontaneamente na sociedade como reação à situação anterior de desvirtuamento da política capixaba.

Foram as condições de estabilidade política criadas pela liderança de Hartung que permitiram a reorganização da gestão pública, o fim dos privilégios fiscais e a consequente recuperação da capacidade de investimento do Estado, que vem a se constituir no segundo grande marco do legado deixado pela atual administração. O investimento de R$ 1 bilhão/ano em obras em um Estado que, há oito naos, devia R$ 1,2 bilhão a servidores e fornecedores, por si só dá ao atual governo, sem favor algum, o direito de ser reconhecido como o melhor da história recente do Estado do Espírito Santo.

José Carlos Corrêa

Um comentário:

  1. São poucos políticos no Brasil e no mundo da estirpe de Paulo César Hartung Gomes (PMDB) seria ótimo se em cada partido houvesse pelo menos um governador do porte de Paulo Hartung, assim teriamos 06 governadores do porte de Hartung. Marcos Sobreira publica isso no seu Blog, isto é um sinal que ele é um extremo observador político, parabéns pela postagem e um abraço.

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