Sergio Denicoli
Nasci em plena Guerra Fria. Minha geração foi criada em frente à televisão. Quem, como eu, viveu a infância nos anos 80, foi vítima de uma educação influenciada pelo entretenimento enlatado made in USA. Como não havia controle remoto, ficávamos horas e horas sem mudar de canal, vendo os inimigos russos, obscuros e com olhos esbugalhados, sendo derrotados pelos bondosos e poderosos norte-americanos.
Lembro-me de algumas produções. Em "A Ilha da Fantasia", um anão simpático chamado Tattoo ajudava as pessoas a realizar qualquer desejo. "Casal 20", que eu intimamente chamava "os Hart", tinha como protagonista um riquíssimo casal bonzinho que viajava pelo mundo com seu cachorro Freeway, solucionando casos de espionagem. A Mulher Biônica, então, era algo impressionante, pois seus super poderes eram na verdade um projeto secreto do Pentágono para combater o crime.
Em 1989, quando derrubaram o muro de Berlim, os russos também foram derrubados das séries norte-americanas. Mas o show continuou. Foi a vez dos japoneses virarem os vilões, pelos simples fato de eles serem, na época, a segunda economia mundial. Com um crescimento médio de quase 4% ao ano, o Japão ameaçava os interesses norte-americanos. Surgiram aberrações cinematográficas e televisivas, como "American Ninja - Guerreiro Americano", onde um ator loiro usava artes marciais para derrotar os maus de olhos puxados. O engraçado era que, mesmo se os orientais fossem da Indonésia ou da Coreia, para os EUA eles eram sempre "japoneses". E nós víamos e consumíamos tudo.
Mas o Japão sucumbiu e, no início deste século, deixou de ser uma grande ameaça. Naquela época, uma parte do mundo na qual o entretenimento norte-americano ainda não tinha colocado a mão persuasiva era o Oriente Médio, onde homens vestindo turbantes estavam sentados em cima de imensas jazidas de petróleo. Logo o termo "terrorista" passou a classificar os muçulmanos. A TV já estava na era dos reality shows e, além dos filmes hollywoodianos contra os islâmicos, os Estados Unidos fizeram um filme real, cujo auge foi o enforcamento do temido Saddam Hussein. O roteiro era baseado em ficções, no entanto milhares de pessoas morreram, e morrem, por causa dessa história mal contada.
A ONU não gostou do enredo e protestou, mas os Estados Unidos não deram ouvidos. Eram poderosos demais para se importarem com quem quer que fosse contra seus ideais. Até que a crise começou a fazer ruir o império. A fortaleza havia deixado suas bases econômicas desprotegidas. Os ataques vieram, fortes e consistentes, para desestabilizar o país. Os inimigos aprenderam a não mostrar a cara, para não parar nas telas de cinema e séries de TV. Ninguém sabe de onde os ataques partiram. Mas eles continuam. No último round que vimos os golpes vieram da Internet.
Foi um site chamado WikiLeaks, que trabalha como a Wikipedia, ou seja, por meio de colaborações anônimas, que publicou milhares de documentos secretos revelando os bastidores da política diplomática norte-americana. Tentaram frear o criador do site, que foi preso por motivos alheios às divulgações. Não adiantou. Centenas de anônimos republicaram o conteúdo do WikiLeaks. Estudiosos questionam se será este o fim da era na qual as regras do mundo foram ditadas pelos Estados Unidos. Difícil saber. Mas ao menos agora as pessoas podem não só mudar de canal, mas navegar nos sites que quiserem e até mesmo criar e publicar o seu próprio filme em rede mundial, com o "happy end" à sua maneira.
Capixabas pelo mundo
Cristianne Schmidt, de Colatina, vive na Austrália há quatro anos. É zootecnista e trabalha para a empresa brasileira JBS Friboi, uma das maiores companhias de carne do mundo. Exerce o cargo de gerente de Recursos Humanos, área em que se especializou. Adora morar na Oceania, mas não descarta voltar ao Brasil. "Talvez daqui a uns dez anos, quem sabe", diz.
Natal on-line. Papai Noel já passou para as empresas de cartão de crédito na Europa. É que o período entre a última semana de novembro e a primeira de dezembro é a época mais movimentada do ano para as compras online. Segundo representantes do setor, o dia 29 de novembro foi o mais lucrativo para o comércio via internet, devido à combinação entre o pagamento de salários, o prazo de entrega e a data de vencimento do cartão. Nesse dia os europeus consumiram uma média equivalente a R$ 13 mil por segundo.
Comércio de rua. Já o comércio de rua ainda não conseguiu alcançar os mesmos índices de vendas do ano passado. Algumas lojas até anteciparam os famosos saldos de inverno. São os efeitos da crise que atinge a União Europeia.
Produtos capixabas. Os supermercados portugueses, que já vendiam os chocolates Garoto, agora vendem também o mamão papaya produzido no Espírito Santo. É uma forma de os capixabas que estão além-mar matarem as saudades da terra.
Sergio Denicoli, jornalista, escreve de Braga, Portugal
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