quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O PT CONTRA A IMPRENSA.

A Gazeta


A proposta do deputado Claudio Vereza, de criar um conselho estadual de comunicação, não pode ser vista como um fato isolado, sem se considerar a história recente do PT, seus ataques sistemáticos à imprensa, a sua transformação de um partido de esquerda, com um projeto alternativo para o país, em um partido pragmático, assistencialista e fisiológico, à imagem de velhas oligarquias que dizia combater, e às quais se aliou, sem pudor.

Como é notório, o presidente Lula e o PT, ao longo dos últimos tempos, têm feito uma campanha ferrenha contra a imprensa, como forma de encobrir seus escândalos. Tudo se resumiria ao preconceito de uma elite que não aceita um presidente operário. Esse discurso simplista, cheio de teorias conspiratórias, é alimentado por blogueiros oficiais, bancados por instituições como BNDES e Caixa Econômica, que chegaram a criar uma sigla, o PIG, partido da imprensa golpista, para classificar a imprensa independente. (Em resposta, outros jornalistas sugerem que PIG são eles, os blogueiros do Partido da Imprensa Governista.)

A iniciativa do deputado é baseada em conferências de comunicação realizadas em todo o país, patrocinadas pelo governo, que aparelhou sindicatos, associações e movimentos sociais, que representam minorias organizadas, não a sociedade inteira. A tentação autoritária de setores do PT é indisfarçável. O governo já ameaçou expulsar um correspondente estrangeiro, tentou criar um conselho para "disciplinar e fiscalizar" a atividade jornalística e, como publicado ontem na "Folha de S. Paulo", estuda uma agência nacional de comunicação para, entre outras atribuições, regular o conteúdo de rádio e TV. Engraçado que, nos anos 90, quando o PT era oposição e municiava a imprensa com denúncias contra o governo FHC, não se falava tanto em "controle social da mídia".

Vereza, em indicação aprovada pela Assembleia Legislativa, sugere ao governador do Estado a criação de um conselho para "acompanhamento de conteúdos" e menciona "instrumentos públicos de fiscalização, a fim de garantir a diversidade na mídia e respeito aos direitos humanos". Ele assegura que isso se destinaria somente ao setor público, o que não está claro no texto.

Mais transparência nos gastos públicos com publicidade, diversidade ou garantia do respeito aos direitos humanos, tudo isso pode ser feito hoje por meios legais e jurídicos já existentes. Vereza tem uma trajetória de respeito, está indo para o sexto mandato, é uma liderança conhecida, uma figura afável, boa fonte para os jornalistas. Não é ele a ameaça.

A sua proposta é que abre, efetivamente, caminhos para a instalação de um conselho censor, principalmente se observada a origem da proposta, essas Confecons, e ainda a contaminação ideológica de setores do PT que preservam uma mentalidade típica da Guerra Fria, com um antiamericanismo juvenil, que, por sinal, foi identificado em documentos vazados pelo WikiLeaks.

Não por acaso, petistas cultuam países como Cuba, Venezuela e Irã. Não por acaso, o presidente Lula acaba de dizer que, quando deixar o governo, vai se empenhar em "desmontar a farsa do mensalão" - logo ele, que dizia não saber de nada, e agora parece querer reescrever a história, no melhor estilo stalinista. Não são fatos isolados. O sonho inconfesso de petistas mais radicais é, sim, controlar a informação e dficultar a livre circulação de ideias.

André Heesé jornalista

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