A era Lula termina com a taxa básica de juros a 10,75% ao ano - a mais elevada do mundo, em termos reais. A Selic foi mantida nesse patamar na reunião realizada ontem pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, a última presidida por Henrique Meirelles.
O período Lula deixa uma lição muito clara para o governo de sua dileta sucessora: os juros elevados não são suficientes para garantir ao país ter a inflação tão baixa quanto desejado. É preciso fazer mais. A política fiscal (em relação aos gastos do poder público) deve se casar com o manuseio dos juros e, de modo mais amplo, com a política monetária. Assim, serão melhores os efeitos do combate à inflação.
Apesar da Selic a 10,75% e de aumentos nos depósitos compulsórios recolhidos pelos bancos à autoridade monetária, o período Lula termina com a inflação oficial, apurada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), próxima a 6%. A estimativa do mercado financeiro é de que atingirá 5,78% ao longo de 2010, conforme o relatório Focus - pesquisa semanal realizada pelo Banco Central. Está longe do centro da meta, que é 4,5%, apesar de se situar no intervalo de tolerância.
O presidente da República que agora se despede chegou a permitir que a Selic atingisse 26,5% no primeiro trimestre de 2003 para controlar a inflação. Na verdade, desde que assumiu o governo, Lula demonstrou consciência de que a estabilidade econômica era o principal legado recebido do antecessor. Não mediu esforços - inclusive políticos, enfrentando críticas sobre o conservadorismo da política monetária -, para manter essa condição. Acertou. A economia estável foi o alicerce do sucesso de sua gestão.
Deve ser lembrado também que a pilotagem precisa da política monetária, em combinação com renúncias de impostos, permitiu ao país arrefecer os efeitos da crise econômica mundial de 2008/2009. Ou seja, o Brasil saiu-se muito bem em cenário de dificuldades, mas ainda não conseguiu sair da armadilha dos juros elevados. Inclusive, a remuneração generosa aos investimentos financeiros está contribuindo para apreciação do real.
Espera-se que no governo Dilma Rousseff o país inaugure novo paradigma em termos de despesas governamentais harmonizadas com os instrumentos de política monetária.
Governo Lula termina com inflação anual próxima a 6%, apesar dos esforços do Banco Central para cumprir a meta de 4,5%. O compulsório deve encarecer o crédito em 2011
Mercado financeiro espera novo aperto na política monetária logo no início do governo Dilma. Também há expectativa de ajuste fiscal atingindo vários ministérios
Editorial de A Gazeta.
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