Helvécio de Jesus Júnior
O noticiário internacional deu forte destaque a um site chamado WikiLeaks, que explora vazamentos de correspondências da diplomacia norte-americana. Julian Asange, fundador do site, afirma que sua intenção é "prover informações relevantes de política internacional" e que sua organização não tem fins lucrativos. Duas questões fundamentais são postas nessa discussão: primeiro, há risco na publicação de informações diplomáticas que deveriam ser confidenciais? Segundo, a diplomacia tem entendido suas ações para o terreno da espionagem?
Creio que o WikiLeaks não representa um perigo real às informações confidenciais, pois a vasta maioria dos 250 mil documentos liberados não são do tipo "Top Secret".
Há, contudo, uma real problema relacionado à segurança das informações e ao papel pouco diplomático de algumas embaixadas dos EUA em atuar como vetores de ações de espionagem. Algo que pode levar o país acreditado a expulsar a representação diplomática de seu território. Eis o real perigo que o vazamento de informações pode gerar no futuro.
A reação internacional foi violenta. O fundador do site foi acusado de estupro acompanhado de um mandado de prisão emitido pela Interpol. A maior parte das informações não são bem "novidades". Por exemplo, o temor dos EUA com a segurança das instalações nucleares paquistanesas e o perigo de algum grupo terrorista tomar posse de algum artefato nuclear.
Sobre o Brasil, o representante norte-americano, Clifford Sobel, criticou, por exemplo, a política de defesa do país e sua aproximação com a França, ao mesmo tempo em que exalta o ministro da Defesa, Nelson Jobim, como um homem confiável. Sobel também afirmou que Jobim criticou o Itamaraty, na figura do seu secretário-geral, Samuel Pinheiro Guimarães, o chamando de anti-americano. Essa rusga entre dois funcionários do alto escalão revelam a disputa entre os Ministérios da Defesa e Relações Exteriores por espaço na diplomacia.
O WikiLeaks não é uma ameaça direta à segurança dos EUA, mas sim um alerta as suas autoridades para cuidarem mais do sigilo de suas informações e para evitarem cruzar a barreira entre diplomacia e espionagem. No mais, temos agora uma fonte burlesca da política internacional e seus bastidores nem sempre tão refinados.
Helvécio de Jesus Júnior é mestre em Relações Internacionais pela PUC-RJ e professor de Relações Internacionais da UVV
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