Partida e Chegada
Richard Simonetti
Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.
O barco, impulsionado pela força dos ventos,
vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar
um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará:
“Já se foi!”
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.
O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha
quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.
O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo.
E talvez, no exato instante em que alguém diz: “Já se foi!”
haverá outras vozes, mais além, a afirmar: “Lá vem o veleiro”.
Assim é a passagem desta vida.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro,
e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos:
“Já se foi!”
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo. Sua capacidade mental não se perdeu.
Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso lado.
Conserva o mesmo afeto que nutria por nós.
Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita no outro lado.
E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: “Já se foi!”,
no mais além, outro alguém dirá feliz: “Já está chegando!”
Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a viagem terrena.
A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a natureza não dá saltos.
Cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos,
até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.
Um dia partimos do mundo espiritual na direção do mundo físico;
noutro partimos daqui para o espiritual!
Num constante ir e vir, como viajantes da imortalidade que somos todos nós.
2 de dezembro de 2010 12:27
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